Jornal Correio Braziliense

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Cuidar do automóvel ficou mais caro

Mais de 90 mil brasilienses compraram um carro novo, estimulados pela isenção do IPI que barateouo bem em 8,65%. Mas peças e acessórios dos veículoss subiram 6,34% e os serviços de oficina, 5,97%

Em 2009, 91,4 mil consumidores do Distrito Federal compraram um carro. Eles foram beneficiados pela queda de preços, tanto dos novos quanto dos usados, decorrente da redução da carga tributária com a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Mas os novos motoristas, bem como todos os proprietários de veículos, têm que tomar cuidado com o bolso. Se de um lado os preços dos automóveis caíram, em média, 8,65% no ano, de outro, a manutenção e os custos exigidos pelo meio de transporte não param de crescer. Os gastos com automóveis superaram a inflação em 2009, segundo levantamento feito pelo Correio com base nos dados do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), da Fundação Getulio Vargas (FGV). As peças e acessórios estão 6,34% mais caros. As oficinas elevaram em 5,97% o preço dos reparos. O seguro facultativo subiu 14,17% no ano. A inflação média de 2009 foi de 3,95%. Assim, os consumidores devem ficar de olho nos gastos e fazer as contas. Os salários não subiram no mesmo ritmo. Ao contrário: a renda média dos trabalhadores da capital federal caiu 2% até novembro de 2009, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Economistas alertam que nem sempre vale a pena ter um carro próprio e arcar com as perdas econômicas, principalmente com a decorrente da depreciação do preço do veículo. Quem comprou um zero quilômetro em 2009 pagou 5,29% menos do que no ano anterior. Quem optou por um usado, em média, desembolsou 21,29% menos. A redução de preços levou muitos consumidores às concessionárias e agências de Brasília. O número de carros em circulação na cidade aumentou de 8,7%, segundo o Detran. A combinação mais proprietários e maior volume de dinheiro em circulação puxou os preços dos serviços e peças. "Estes serviços subiram dado o aquecimento da demanda, decorrente do aumento da massa salarial. Outros serviços, como salão de beleza, consultas médicas, lavanderia, costureira, refeição em bares e restaurantes também ficaram acima da inflação, ilustrando que o efeito está bem espalhado pela economia", explica o coordenador do IPC-S, André Braz. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Automóveis e Acessórios do DF (Sindiauto), Oscar Berné do Carmo, justifica o aumento médio de 6,34% nas peças e acessórios pela maior procura por serviços, em função do crescimento do número de carros em circulação na cidade. "Se a demanda tem performance melhor, é claro que o empresário procura uma melhoria de preço e não concede mais descontos para os clientes", afirma. Despesas O gasto anual com um veículo pode chegar a até 60% do valor total dele, prevê o economista e terapeuta financeiro Reinaldo Domingos, presidente do Disop Instituto de Educação Financeira. Isso considerando as perdas com depreciação, que, segundo ele, em média, ficam em torno de 10% ao ano. "Em média, os carros valem 10% menos a cada ano. Esse custo tem que ser adicionado à planilha de gastos. A manutenção de um carro é muito cara. Ao decidir comprar um automóvel, a pessoa não deve levar em conta apenas o valor da prestação do financiamento", orienta. O professor universitário Eraldo Matricardi, 46 anos, sentiu o peso da desvalorização do veículo. Quando comprou seu carro atual, em 2007, ele valia R$ 25 mil. Agora, acredita que não consiga mais do que R$ 17 mil no mercado de usados. Além dessa perda, o morador do Sudoeste contabiliza gastos anuais de R$ 2,8 mil entre impostos, seguro e manutenção, além de R$ 3,8 mil com gasolina. "O custo de ter um carro é muito alto, sei disso. O problema é que o transporte público de Brasília não é bom. Então, perderia tempo na locomoção. Mas acho que financeiramente eu ganharia se não tivesse carro", afirma. Domingos orienta que aplicar o dinheiro que é gasto com o carro poderia ser bem mais benéfico para o bolso do consumidor. "O custo mensal de um veículo popular usado, no valor de R$ 10 mil, fica em média R$ 600. Esses mesmos R$ 600, aplicados por 84 meses (sete anos) a 0,7% ao mês, ou seja, juros de uma poupança ou previdência privada, ao final desse período representariam aproximadamente R$ 90 mil", cita o professor, como exemplo. O preço médio da gasolina não subiu no mesmo ritmo da inflação. Segundo a FGV, a gasolina fechou o ano custando 2,66% mais do que um ano antes. Já o álcool está valendo 5,23% mais nas bombas, apesar de estar sendo cada vez mais preferido pelo consumidor do Distrito Federal. De janeiro a outubro de 2009, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), foram vendidos 203,1 mil m³ de álcool, 42,2% a mais do que em 2008. Na contramão, o consumo de gasolina caiu 3,3%, chegando a 622,2 mil m³ no período. O óleo diesel ficou 6,06% mais barato, mas, mesmo assim, a venda caiu 2,2% no ano - foram vendidos 303,6 mil m³.