Um dia depois de terem abandonado quatro crianças em Ceilândia, os pais delas, Junio Alves dos Santos, 33 anos, e Vanda Barbosa Gonçalves, 28, foram detidos e encaminhados a penitenciárias %u2014 ele está na Papuda e ela na Comeia. Os meninos %u2014 um recém-nascido de dois meses e seus irmãos de 3, 6 e 10 anos - foram encontrados sozinhos por agentes da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia) num barraco de madeira em Ceilândia que continha uma cama de casal, um berço, uma pia de cozinha e fogão ao lado do vaso sanitário. Os meninos teriam sido abandonados durante toda a manhã e tarde de sexta-feira pelos pais, que, nesse meio tempo, estariam em dois bares diferentes de Ceilândia Norte. Sem pagar a fiança de R$ 1 mil, o casal foi conduzido às penitenciárias. No terceiro dia do ano, a bebê de apenas dois meses vai conhecer uma cela da cadeia ao lado da mãe. Os outros filhos estão com a avó materna até que a justiça decida quem ficará responsável pela guarda deles.
A denúncia de que as crianças estariam sozinhas em casa veio de um parente próximo. Cansado de ver os sobrinhos abandonados no barraco ao lado do dele, o carregador de mercadorias Edson Barbosa Gonçalves, 34, ligou para a polícia. Segundo Edson, as crianças passaram mais de oito horas, das 8 às 16h30, sozinhas e sem comida, dentro do cômodo. O almoço foi servido pela vizinha e esposa de Edson Barbosa, Solange Bárbara da Silva, 33, que estava revoltada com a atitude dos pais. "Eles saíram de casa às 8h e só retornaram no fim da tarde. Eu tive de dar almoço aos outros, mas a menina mais nova ainda está mamando no peito da mãe", salienta a dona de casa.
A avó materna das crianças, a aposentada Davina Barbosa Gonçalves, 65, conta que a filha sofre de depressão pós-parto desde a penúltima gravidez, do filho de 3 anos. Vanda teria passado por um tratamento no Hospital Pronto Atendimento Psiquiátrico (Hpap) durante dois anos e recebido alta médica. Ela e o marido são alcoólatras e viciados em crack. "Às vezes eles colocavam os filhos para fora do barraco para não serem vistos usando drogas, mas outras vezes eles usavam na frente deles mesmo", relatou a avó. Em entrevista ao Correio na cela da 15ª DP, Vanda disse não ter abandonado os filhos e ter apenas se ausentado de casa por alguns instantes. "Eu fiquei quatro meses sem beber depois do tratamento. Tomava os remédios e cuidava dos meus filhos. Lavava as roupas deles e acompanhava na escola, mas há pouco tempo eu voltei a beber. Ontem (sexta-feira), eu só saí de casa às 17h, porque briguei com meu irmão", completou.
Confusão
Vanda está com um olho roxo devido a uma briga com os familiares após ter retornado para casa, ontem. %u201CEla passou o dia inteiro na rua e, ao chegar, discutiu com Edson%u201D, contou a esposa dele, Solange, garantindo não ter sido seu marido o agressor. Os policiais a encontraram em um bar já machucada. Junio estava em outro bar da cidade. No barraco havia roupas sujas das crianças espalhadas pelo chão. %u201CSe eu a mandasse lavar as roupas, ela dizia que eu estava interferindo na vida dela e me batia%u201D, relatou a mãe dela, Davina Barbosa.
O delegado de plantão da 15ª DP, Carlos César Ferreira, diz esperar que o caso sirva de exemplo para outros pais. Enquanto o casal estiver preso, os três filhos ficarão sob a tutela da avó, mas o bebê de dois meses permanecerá com a mãe. Vanda e Junio podem pegar de seis meses a três anos de cadeia por abandono de incapazes.
Colaborou Maria Julia Lledó