Jornal Correio Braziliense

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Postos repassam o aumento de R$ 0,11 e o litro do álcool vai a R$ 2,10

Pela primeira vez, o litro do álcool no Distrito Federal passa a custar mais do que R$ 2 e, assim, o derivado da cana-de-açúcar se mantém menos vantajoso do que a gasolina. O aumento de R$ 0,11 se concretizou ontem na maioria dos postos e revoltou os motoristas. Em média, o preço saltou de R$ 1,99 para R$ 2,10. O reajuste havia sido anunciado na véspera por Antônio Matias, diretor da Rede Gasol, a maior do DF. Por enquanto, o valor do litro da gasolina não foi alterado, mas os empresários do setor adiantaram que não sabem até quando conseguirão segurar o preço médio atual de R$ 2,74. Enquanto no DF os moradores assistem a um aumento de R$ 0,11, levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aponta que o preço do etanol combustível caiu em 11 estados. O litro do álcool no DF só não é mais caro que o cobrado no Acre, Amapá, Pará e em Roraima, onde o combustível chega pelas rodovias e a distância do litoral justifica os valores mais altos. No DF, quase todo o álcool vendido sai do vizinho Goiás, por meio de um alcoolduto. Proprietários de postos de outras redes adotaram, como de costume, a nova tabela da Gasol, responsável por um terço do mercado. Funcionários de alguns estabelecimentos chegaram a fazer ronda na cidade, antes de confirmar o reajuste. "Vimos que eles (a Gasol) aumentaram e aumentamos. Temos que acompanhar, não tem jeito", contou Geane Gomes, gerente de um posto da 212 Sul, da Rede Gasoline, a segunda maior do DF. "Se os concorrentes não aumentarem hoje (ontem), vão aumentar até o fim desta semana. A tendência é essa, sempre foi assim", previu Tadeu Lima, gerente do posto da Gasol na 113 Sul. Quem não aumentou o preço ontem prometia mexer na bomba o quanto antes, sob a alegação de que o setor funciona assim. Em um posto da 115 Sul, a gerente não quis comentar o aumento, mas os funcionários informaram que o litro do álcool a R$ 1,97 estava com os dias contados. Na 214 Sul, Margarida Costa, proprietária de um posto que não pertence a nenhuma rede, comentou: "Também tenho que cobrar a mesma coisa. Estou brigando para me manter, sou pequenininha no meio desses gigantes". Até o fim da manhã de ontem, ela ainda cobrava R$ 1,98 pelo litro do álcool. Frentistas ouvidos pelo Correio afirmaram que a primeira manhã do álcool a R$ 2,10 foi de muita reclamação por parte dos clientes. Com o novo valor, segundo cálculo sugerido por especialistas, ficou ainda menos vantajoso optar pelo álcool. "Agora, lascou mesmo. Não é vantagem. Pelo contrário, virou prejuízo", concluiu o servidor público Francisco Risomar Medeiros, 55 anos, que tem um carro flex. O gerente administrativo Alcemir Leal Silva, 33, foi abastecer com álcool e quando viu o novo preço, mudou de ideia. "Não dá. Vou passar a encher o tanque com gasolina", comentou. Os donos de postos do DF sustentam, mais uma vez, que o aumento nas bombas nada mais é do que um repasse ao consumidor do reajuste feito pelas distribuidoras. Em nota divulgada na segunda-feira, o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos e de Lubrificantes (Sinpetro-DF), José Carlos Ulhôa, afirmou que falta interesse político para priorizar o abastecimento para consumo interno, criticou o governo local pelas elevadas cargas tributárias e reconheceu que "o álcool corre o risco de tornar-se inviável". Reações Coordenador de um movimento popular criado para baixar o preço dos combustíveis no DF, Charles Guerreiro acredita que nada justifica o novo aumento. "É simplesmente um absurdo. Não podemos aceitar que esses donos de postos imponham valores fora da realidade", disse. Mais de 5 mil adesivos do chamado Movimento contra a Cartelização dos Combustíveis foram distribuídos em todo o DF desde o início de novembro. Guerreiro sugere um boicote aos postos da capital federal. Na fronteira com Goiás, o litro do álcool custa R$ 0,40 mais barato. Este ano, o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) abriu investigação para apurar abuso no preço do álcool no DF, mas os promotores ainda não terminaram o trabalho. Também ficou para o ano que vem o andamento das investigações na Secretaria de Direito Econômico (SDE), ligada ao Ministério da Justiça. Uma equipe técnica analisa os preços cobrados nos postos do DF e uma possível formação de cartel. Além disso, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello deve decidir no início de 2010 sobre a inconstitucionalidade da lei distrital que impede a instalação de postos em estacionamentos de supermercados. Em 2004, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) condenou o Sinpetro-DF e as redes Gasol e Igrejinha por orquestrarem essa lei e, assim, impedir a entrada de novos agentes no mercado. Em 2003, 22 pessoas foram indiciadas após conclusão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Combustíveis, que comprovou o cartel.