Moradora da Estrutural, Edilene Maria da Silva, 18 anos, aguarda uma vaga remanescente para retornar à sala de aula. Com os estudos interrompidos há dois anos devido a uma gravidez inesperada, a jovem pretende correr à escola na próxima semana para tentar uma vaga pelo EJA e, assim, concluir a 5; série. "Tive filho com 17 anos e isso atrapalhou os meus estudos. Agora, Gabriel completa um ano e poderei me dedicar mais", justifica. O irmão caçula de Edilene, Felipe Gonçalvez da Silva, 9, não perdeu o prazo para a inscrição pelo telematrícula e deve, na próxima segunda-feira, acompanhado da mãe, a catadora de lixo Cícera Maria da Silva, 47, procurar a escola da Estrutural para garantir a vaga do 2; ano do ensino fundamental. "Meus nove filhos sabem ler e escrever. Incentivo a estudarem para terem um futuro melhor", acredita a catadora.
Mapeamento
Este ano, a inscrição para os cursos dos CILs foi aberta a todos os estudantes da rede pública, a partir das séries finais do ensino fundamental, por meio do telematrícula, pelo 156. Até este ano, os estudantes eram encaminhados somente pelas escolas públicas tributárias aos CILs, ou seja, aquelas vinculadas aos centros por sua proximidade - o que restringia o acesso. Com a universalização, alunos de outras áreas tiveram a oportunidade de tentar uma vaga. A mudança serviu para mapear as regiões de maior interesse pelos alunos. "O resultado é importante para democratizar o acesso aos CILs. Através da inscrição, temos condições de fazer mapeamento da demanda e redirecionar escolas para atendê-las", explica a diretora de organização do sistema de ensino no Distrito Federal, Claudimeire Maria Silva Santos.
O resultado do telematrícula não agradou à dona de casa Eliana Márcia Evangelista Siqueira, 33. Pelo segundo ano consecutivo, ela tenta uma vaga na rede pública para o filho Ronildo, 5. No entanto, o número de escolas para educação infantil do Distrito Federal ainda é insuficiente para atender toda a demanda. "Não posso esperar pelo governo para educar meu filho. Ele está na escola desde os dois anos e meio, com dinheiro do meu bolso", desabafa. A Secretaria de Educação prevê a construção de quatro escolas infantis para setembro em Brazlândia, Samambaia, São Sebastião e Santa Maria.
Palavra de especialista
Foco no ensino infantil
Está em discussão um projeto de lei, em fase de elaboração pelo MEC, que estabelece a idade mínima de 6 anos (completados até 31 de março no ano da matrícula) para ingresso no ensino fundamental. Seria essa medida benéfica para os estudantes e para a educação no Brasil? Na Inglaterra, a alfabetização se inicia aos 5 anos nas classes de recepção, que preparam para a alfabetização. Um programa de alfabetização que tenha início aos seis anos, como prevê o MEC, terá necessariamente de ser precedido da educação infantil, com acesso garantido a todas as crianças brasileiras. Essa etapa, marcada por atividades lúdicas que estimulam o desenvolvimento motor e cognitivo, será destinada à preparação para o trabalho mais sistemático com a leitura e escrita no primeiro ano, e à sociabilização das crianças. A educação infantil é indispensável, porque a maioria das famílias brasileiras não tem condição de oferecer aos filhos pequenos uma iniciação prazerosa a práticas letradas.
Stella Bortoni, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) e PhD em Linguística
Fique atento
As matrículas devem ser efetivadas nas escolas em que os alunos conseguiram as vagas, de 4 a 15 de janeiro próximo, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18. Documentos necessários: