Jornal Correio Braziliense

Cidades

Técnicos penitenciários distribuíram presentes na creche que atende 83 filhos de presidiários e ex-presidiários

Para encerrar as atividades desenvolvidas durante 2009, a Creche Comunitária Anjo da Guarda, em São Sebastião, em parceria com os técnicos penitenciários do Distrito Federal, antecipou o Natal das 199 crianças atendidas pela instituição. Na tarde de ontem, eles distribuíram brinquedos para os meninos e meninas, que gritavam ansiosos pelos corredores: "Presente! Presente". A creche deve suspender o funcionamento para reformas e o descanso dos 34 funcionários e só deve reabrir daqui a 30 dias. Mas, durante esse período, as famílias não ficarão desamparadas. Além das lembranças de Natal, as crianças levaram para casa cestas básicas, arrecadadas com a comunidade, para garantir a alimentação enquanto a Anjo da Guarda estiver de portas fechadas. Um grupo de 20 voluntários entregou os presentes à criançada. Os meninos e meninas se amontoavam em volta dos doadores para garantir um brinquedo. Entre os preferidos, estavam joguinhos eletrônicos, bolas e bonecas. %u201CQueríamos fazer um Natal marcante. Além de um trabalho de segurança pública, fazemos um trabalho de ressocialização%u201D, afirmou o técnico penitenciário André Almeida ao explicar os motivos que levaram a categoria a escolher a creche %u2014 que abriga filhos e filhas de detentos e ex-detentos. Eles conseguiram arrecadar dinheiro suficiente para comprar cerca de 230 itens. Das 199 crianças de 0 a 6 anos assistidas pela instituição, 83 delas são filhas de presidiários e ex-presidiários. À época da fundação, em 2004, os responsáveis pela creche Anjo da Guarda notaram uma migração de diversas famílias %u2014 constituídas, em sua maioria, apenas pela mãe e os filhos %u2014 para São Sebastião devido à proximidade do presídio da Papuda, onde estavam muitos dos pais dessas crianças. %u201CAtendemos crianças com perfil social de carência. Nosso trabalho tem um alcance social muito importante e reconhecido%u201D, acredita o administrador da creche, Hamilton Carvalho. O filho da dona de casa Betânia da Conceição Souza, 22 anos, frequenta a instituição desde os 10 meses de idade. Ela tem uma filha com paralisia cerebral e precisa dedicar todo o seu tempo à menina de apenas 4 anos. Betânia encontrou na creche Anjo da Guarda a segurança que procurava para deixar o filho, o pequeno Juallison Dias de Souza, hoje com 2 anos. %u201CSinto que ele gosta daqui e me sinto confortável%u201D, diz. Lista de espera Segundo Hamilton Carvalho, há uma lista de espera com mais de 200 nomes que aguardam uma chance para entrar na instituição. Enquanto não surge a oportunidade, as famílias recebem visitas de um assistente social para acompanhamento. %u201CAs crianças que estão na lista recebem ajuda na alimentação e no tratamento odontológico%u201D, conta o administrador. Além dos pedidos vindos de mães que não têm com quem deixar os filhos, a creche Anjo da Guarda também recebe diversos encaminhamentos de outras instituições do Distrito Federal. Enquanto estava grávida, a empregada doméstica Vanilda Rosa de Jesus, 47 anos, se viu sozinha e sem amparo, longe da família. Ao se mudar para São Sebastião, procurou ajuda na creche Anjo da Guarda, onde recebeu assistência. %u201CFoi Deus que me trouxe até aqui%u201D, agradeceu. Desde os dois anos de idade, as gêmeas Dávila e Dafne de Jesus Brandão, 6, frequentam a instituição e afirmam não querer sair de lá. %u201CGosto dos amigos que fiz aqui e das brincadeiras no parquinho%u201D, revela Dávila. %u201CA gente faz o dever de casa da escola e depois pode ir brincar%u201D, complementa Dafne. Vanilda agradece a ajuda que recebeu trabalhando como voluntária na instituição. A Creche Comunitária Anjo da Guarda foi fundada em fevereiro de 2004 e atendia apenas crianças filhas de detentos e ex-detentos, mas logo ampliou os serviços a toda a comunidade. Das 7h às 18h, os meninos e meninas têm acompanhamento pedagógico, atividades recreativas e fazem cinco refeições diárias, além de receberem tratamento odontológico e psicológio. Quem tem mais de 5 anos de idade frequenta a escola em um período e, no outro, fica na creche. A diretora-presidente da Anjo da Guarda reconhece o importante trabalho que realiza, mas se preocupa com o futuro da instituição. %u201CNós enfrentamos desafios grandiosos todos os dias%u201D, lamenta. A creche vive apenas de doações da população local e de grupos isolados de empresários.