A Polícia Federal voltou a fazer buscas e apreensões em residências e escritórios de pessoas investigadas por suposto envolvimento com pagamentos de propina no Governo do Distrito Federal. Os alvos foram o gabinete, a residência e uma loja do chefe da Unidade de Administração-Geral da Secretaria de Educação, Gibrail Gebrim; o Instituto Fraterna; e a Associação dos Amigos do Arruda, nas asas Sul e Norte e no Lago Sul. As novas buscas foram pedidas pelo Ministério Público Federal e determinadas pelo ministro Fernando Gonçalves, relator do inquérito judicial aberto no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na ação, que ocorreu na tarde de segunda-feira, e que não deverá ser a única nesta fase da investigação, foram apreendidos documentos e computadores.
Na última sexta-feira, depois de analisar o primeiro relatório da PF após a Operação Caixa de Pandora, a subprocuradora-geral da República Rachel Elias Ferreira Dodge, responsável pelo caso no MPF, pediu ao ministro do STJ a realização de novas diligências. Entre elas estavam as buscas e apreensões e a quebra de sigilo bancário e fiscal dos principais envolvidos. Raquel alegou que havia indícios consistentes de participação no suposto esquema de desvio e apropriação de recursos públicos no Distrito Federal. No mesmo documento, a subprocuradora pediu levantamentos dos pagamentos feitos pelo governo à empresas de informática.
Investigadores que atuam no caso admitem que outras buscas e apreensões possam ser realizadas no decorrer da segunda fase da Operação Caixa de Pandora, que começou a ter novos desdobramentos com outros depoimentos de Durval Barbosa,ex-secretário de Relações Institucionais. Entre 3 e 7 de dezembro, Barbosa deu 16 declarações a Raquel Dodge na Procuradoria da República em São Paulo. No interrogatório, que teve a presença de promotores do Distrito Federal, o ex-secretário confirmou e detalhou as imagens em que aparece entregando dinheiro para políticos e auxiliares do governo.
Setor de Mansões
A PF não informou os motivos das buscas na casa do funcionário da Secretaria de Educação, mas o nome dele é citado no relatório de inteligência n; 1, produzido em 16 de outubro. No documento, a Polícia Federal relata a ação feita em torno de Durval, além de ressaltar situações específicas. Em uma delas, o ex-secretário disse à PF que fora procurado por uma empresa, que apresentou R$ 298 mil. ;Parte do dinheiro foi separada em duas partes de 20% (2 de R$ 59,6 mil), sendo entregues a Kondo, uma pessoa de aparente ascendência oriental, a qual seria incumbida de repassar às pessoas de Gibrail e Fábio Simão;, diz o relatório da PF.
Na nova busca, os policiais estiveram na residência de Gibrail Gebrim, no Setor de Mansões Dom Bosco, e em seguida na agência de turismo da mulher dele, na QI 23 do Lago Sul. Os policiais começaram as buscas à tarde e também estiveram na 502 Sul, onde funciona o Instituto Fraterna ; presidido pela primeira-dama Flávia Arruda ; e na Associação dos Amigos do Arruda, na mesma quadra. Os agentes da área de inteligência da PF estiveram também no anexo do Palácio do Buriti, onde vasculharam o gabinete usado por Gebrim, que ontem foi afastado de suas funções no governo. Nas buscas foram apreendidos documentos e computadores, mas em um dos alvos nada encontraram. A PF não informou se entre o material recolhido havia dinheiro.
Assessores da Secretaria de Educação não responderam sobre a ação da PF no final da manhã de segunda-feira. Assim como ocorreu no início da Operação Caixa de Pandora, quando foram recolhidos computadores e documentos do ex-secretário José Luís Valente, a polícia deteve os mesmos itens na Unidade de Administração Geral (UAG).
Colaborou Daniel Brito
Perfil
Investigado na CPI da Educação
Daniel Brito
Não é a primeira vez que Gibrail Nabih Gebrim passa por investigação. Brasileiro de família libanesa, ele foi protagonista da CPI da Educação na Câmara Legislativa, de março de 2005 a junho de 2006, ainda durante o governo de Joaquim Roriz. A comissão ganhou o apelido de CPI do Gibrail, tamanho era seu envolvimento com as irregularidades na Secretaria de Educação do DF.
Até 2006, Gibrail era diretor de material da Secretaria de Educação. De acordo com o relatório final da comissão, todas as aquisições do órgão tinham que passar pela sua mesa. Em depoimento, disse não ter residência fixa e que era dono de apenas um Gol. Comprovou-se mais tarde, no entanto, que ele tinha uma coleção de carros importados, mas nenhum estava em seu nome. Os gastos anuais no cartão de crédito superavam em mais de R$ 500 mil os seus rendimentos como funcionário da secretaria.
Uma das irregularidades mais comuns era permitir os contratos de licitação vencerem e renová-los de forma emergencial. A CPI também trouxe à tona erros propositais em projetos básicos de licitação para transporte escolar gratuito nas escolas do GDF, como, por exemplo, fazer especificações que apenas uma empresa poderia cumprir. O relatório final da comissão registrou informações falsas de Gibrail no Imposto de Renda, IPVA e IPTU.
Ele foi indiciado, com a deputada distrital Eurides Brito e a então diretora da Fundação Educacional do Distrito Federal, Maristela de Melo Neves Mendes. O Tribunal de Contas do Distrito Federal decretou a inelegibilidade de Gibrail para cargos públicos. Em 2007, contudo, ele foi promovido na Secretaria de Educação: de diretor de material para chefe da Unidade de Administração-Geral. Segundo uma funcionária do setor, o acusado compareceu ao serviço ontem, mas permaneceu por poucos minutos.
Expulsão no PSB
Lilian Tahan
A direção regional do PSB decidiu ontem expulsar do partido o distrital Rogério Ulysses. Citado no inquérito n; 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o deputado é um dos investigados da Operação Caixa de Pandora por suposta participação em esquema de pagamento de propina envolvendo integrantes do primeiro escalão, empresários e deputados distritais. Com a desfiliação forçada pelo comando regional do partido, Rogério Ulysses fica impedido de disputar a reeleição no ano que vem.
Único distrital eleito pelo PSB em 2006, Ulysses é um dos oito deputados acusados pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa de receber dinheiro para votar a favor dos interesses do Executivo. Apesar de ele não aparecer em vídeos, os seis integrantes da executiva do partido que votaram no processo optaram pela expulsão do distrital na tentativa de diminuir os desgastes do PSB, que até a revelação do escândalo caminhava cada vez mais alinhado com o governo de José Roberto Arruda (sem partido). Por meio da assessoria, Ulysses afirmou que vai recorrer da decisão à direção nacional da legenda.
Pressão nacional
O destino político de mais um distrital também poderá ser definido hoje. Está marcada para o fim da tarde uma reunião do diretório regional do DEM para julgar o processo do deputado Leonardo Prudente, apontado no inquérito do STJ como um dos parlamentares beneficiados em pagamentos à base aliada. Em vídeos, Prudente é gravado escondendo dinheiro nas roupas e nas meias. Licenciado da presidência da Câmara em função das denúncias de corrupção, ele tem até hoje para apresentar a defesa.
Diferentemente da situação de Arruda, que pediu a desfiliação do DEM, o distrital não deu sinais até agora de que pretende seguir o mesmo caminho. ;Não haverá meio termo no caso de Prudente, porque ele não deu nenhuma indicação de que quer se desligar do partido espontaneamente. Dessa forma, a situação dele caberá à maioria do diretório regional;, disse o secretário-geral do DEM-DF, Flávio Couri.
Se depender da pressão de integrantes do diretório nacional, Prudente ficará sem legenda antes da virada do ano. Mas representantes do partido na esfera local ; com direito a voto na reunião de hoje ; demonstram um pouco menos de pressa no desfecho do caso. É possível até que não haja quorum. Até as 17h de ontem, o secretário-geral do partido havia confirmado a presença de 9 dos 21 integrantes do diretório. São necessários, pelo menos, 11.