Jornal Correio Braziliense

Cidades

Quase metade dos 181 mil microempreendedores brasilienses não têm instalaçao fixa

Além de não ter acesso aos direitos trabalhistas, boa parte dos autônomos brasilienses não conta nem sequer com um lugar certo para trabalhar. Dos 181 mil em exercício no Distrito Federal, 79 mil, ou 43%, não têm instalações fixas ; salas comerciais, a própria residência ou barracas. Desse total, 55 mil não têm um local de trabalho, mas têm equipamentos. Outros 7 mil têm um automóvel como espaço para sua atividade, 1,7 mil, além de não terem nenhuma instalação, também não dispõem de equipamentos para exercer a atividade. Boa parte dessas pessoas trabalha de forma delivery, ou seja, leva o serviço ou o produto à casa dos clientes. A opção tem a vantagem da economia com custos fixos, como aluguel, água e luz, mas tem a desvantagem da falta de uma rotina. Para muitos, foi a solução encontrada para garantir a renda mensal e fugir do desemprego, que atinge 210 mil brasilienses, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), responsável pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED).

Cabeleireira há 13 anos, Wany Fraga, 45 anos, moradora de Águas Claras, fechou o salão há um ano com o intuito de abrir um outro, maior. Um problema de saúde no meio do caminho atrapalhou seus planos e Wany gastou suas economias com tratamento médico para se recuperar. Sem dinheiro para investir no novo salão, ela passou a atender na casa de suas clientes. O preço dos serviços é o mesmo cobrado na época em que tinha o salão no Guará. Um corte de cabelo feminino custa em torno de R$ 20, mas apenas para quem mora em Águas Claras, no Guará ou em Taguatinga. Por dia, Wany visita, pelo menos, quatro casas. ;No princípio estranhei um pouco, achava estranho não ter meu salão. Mas agora estou gostando, sinto que as clientes gostam de não ter que sair de casa;, conta.

A disponibilidade de tempo e a redução dos custos foi levaram a massagista e esteticista Rosemeire Rosa Silva a fechar o salão que tinha no Sudoeste há dois anos. Hoje, Rose atende cerca de 10 clientes por dia para fazer massagem, depilação, limpeza de pele e trabalhos como cabeleireira. Segundo ela, a renda mensal dobrou. ;Cansei de ter custos elevados com funcionários, aluguel, contas e impostos. É muito caro manter um salão. Agora, tenho mais liberdade e todo o dinheiro que recebo é para mim. O maior custo que tenho é com gasolina, mas eu gasto apenas R$ 50 por semana;, conta a moradora do Cruzeiro. Rose, 33 anos, recolhe sua contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para garantir a aposentadoria no futuro.

A possibilidade de cativar o cliente é maior quando se está disponível para ir à casa dele, na opinião do músico Jorge Luís dos Reis Nunes, 50 anos, professor de violão e guitarra. ;O aluno chega em casa cansado do trabalho e, se tiver que ir para outro lugar, pode desistir mais fácil da aula. Por isso, a melhor opção é ir até a casa dele, onde pode fazer a aula e ainda estar com os filhos;, afirma. ;Mas só pego alunos que não moram muito longe, senão não compensa o custo;, avalia. Por hora-aula, ele cobra em torno de R$ 30. Nos melhores períodos do ano, conta com 30 alunos fixos.

Dinheiro extra
Levar o serviço de churrasqueiro e buffet até a casa do cliente é uma forma de ganhar dinheiro extra para a empresária Patrícia Linhares, 36 anos, e o marido, Marcus Linhares. Há mais de um ano, eles prestam serviço em casas de brasilienses interessados em festejar com os amigos nos fins de semana. Os dois preparam tudo, o churrasco e os complementos e garantem as bebidas. Por pessoa, o contratante paga em torno de R$ 35. ;Mais barato do que em muitas churrascarias e a gente leva tudo, até o detergente e o sal, por exemplo. O cliente não tem que ter trabalho nenhum;, conta Patrícia.

Apesar de estar atendendo em três consultórios diferentes, a musicoterapeuta Fabiana Teixeira de Oliveira, 28 anos, atende em domicílio o paciente. ;No meu caso, eu vou até a casa porque é mais fácil você atender um paciente de esquizofrenia ou deficiente no domicílio dele, num ambiente que ele conhece. Para mim é mais fácil atender na clínica, mais cômodo. Mas tenho que abrir a possibilidade e acaba sendo bom porque posso sair um pouco da rotina.;

Os profissionais que atendem o cliente no próprio domicílio têm que estar sempre atentos à forma de contato para não perder nenhuma oportunidade, aconselha o gerente nacional de Atendimento do Sebrae, Ênio Pinto. ;Tem que ter um compromisso de estar acessível por e-mail ou pelo celular 24 horas por dia, senão vai perder cliente. A pessoa tem que conseguir encontrá-lo no momento em que precisa. E, para ganhar mais clientes, ele deve cobrar preços mais competitivos do que os cobrados nos pontos fixos, já que não arca com os mesmos custos de quem tem estrutura fixa;, aconselha. Para se formalizar e se tornar microempreendedor individual, o autônomo pode fornecer o endereço residencial como garantia, segundo o subsecretário de Micro e Pequenas Empresas do DF, Saulo Diniz, ligado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Governo do DF.