Mais de um terço da população ainda o considera supérfluo e uma forma de ostentação, mas o luxo ganha cada vez mais adeptos no mercado consumidor. As possibilidades de agradar ao público de renda elevada são crescentes, principalmente em Brasília, onde está concentrada a população com maior rendimento per capita do país(1). Uma pesquisa realizada com 32 mil pessoas em Brasília, além de São Paulo e Rio de Janeiro, mostra que 64% não têm preconceitos em relação aos produtos e serviços caros e sofisticados. O levantamento realizado pela Case Consultoria, do grupo Catho, aponta que 40% veem como forma de mostrar poder e status e 20% gostam de se sentir exclusivos (veja quadro). Para os empresários especializados no segmento, a oferta de serviços especiais e o atendimento personalizado são os principais pré-requisitos para garantir a preferência entre os abastados.
As mulheres são as mais receptivas. De acordo com a pesquisa, 17,14% dos homens consideram o luxo supérfluo. O índice de mulheres despenca para 3,33%. No universo feminino, 30% dizem que o conceito corresponde a experiências que supram seus desejos, enquanto apenas 10% dos homens dão a mesma conotação. ;As mulheres são mais presas a detalhes, o que caracteriza o luxo. Quando entram em uma loja, elas olham a cor da decoração, o cheiro, a música;, explica a especialista no segmento Mayra Rocha, consultora da Case Consultores.[FOTO2]
Os detalhes são apontados por 14% dos entrevistados como um sinônimo para luxo. E são exatamente eles que fazem uma empresa agradar, segundo a especialista Karla Rosa Vaz, da Empório ReK, consultoria especializada em varejo. ;O essencial hoje são os detalhes. É a forma de atendimento, a linguagem do profissional, o bem-estar do cliente. Os consumidores desse segmento querem se sentir vips, querem tomar um bom capuccino, servido em um xícara chique, enquanto compram;, afirma. ;Quem tem dinheiro gosta de contar que compra em tal loja, que frequenta tal salão ou que passou o dia no melhor spa da cidade;, completa.
Brasília, segundo o especialista em mercado de luxo Carlos Ferreirinha, consultor da MCF Consultoria, ocupa atualmente o terceiro lugar de um mercado que movimenta mais de R$ 11 bilhões por ano e cresce a uma taxa anual estimada em 20%. A cidade ainda fica aquém de outras metrópoles mundiais, mas as opções estão avançando bastante, na opinião da dona de casa e artesã Marta Cercal de Godoy Bastos, 41 anos. Para a moradora do Lago Sul, um bom serviço personalizado é mesmo cativante. ;O que é importa é o serviço, independentemente do que você esteja consumindo. É um charme, um agrado a mais para o consumidor você receber presente da loja no Natal, por exemplo. É como se a loja quisesse dizer: eu não me esqueço dos meus clientes. E isso cativa;, afirma. ;Brasília melhorou muito com o aumento da concorrência;, analisa a consumidora que chegou recentemente de uma viagem a Nova York.
Mordomia
Os preços dos produtos e serviços e o lucro dos empresários são elevados. Mas eles têm que se desdobrar para conquistar o consumidor de renda AA, como são chamados os abastados. De decoração elegante com móveis requintados a vendedoras cultas e viajadas, é preciso investir para oferecer as mordomias que o público exige. O que a empresária Anne Araújo, da Clan Turismo, tem que oferecer de mais importante é o seu tempo. Especializada em viagens personalizadas e para destinos diferentes dos tradicionais ; como Estados Unidos e Europa ;, ela conta que tem que estar totalmente disponível para se adaptar à agenda de seus clientes, a maioria empresários.
;Eles gostam de discrição. Então, geralmente, eu tenho que ir até eles, no escritório ou em suas casas. São altamente exigentes e você tem que estar totalmente disponível para atendê-los. Às vezes, marcam uma entrevista em um horário, mas não podem naquele momento e vão adiando, você acaba ficando o dia todo à disposição.; Mas o esforço vale a pena, conta. Recentemente, Anne fechou um roteiro de 13 dias por R$ 70 mil para um casal do DF. A viagem incluia três dias em cidades alemãs, três dias em Lisboa e outros sete dias em um cruzeiro fluvial pela Alemanha, um dos desejos atuais dos ricos brasilienses. ;Geralmente, eles já foram para a Europa 15, 20 vezes. Não querem mais ir. Então, pedem roteiros diferentes, como a Indochina ou a África, por exemplo;, diz Anne.
Tempo livre para atender o cliente é exigido da decoradora, Helen Szervinsk. ;Você tem que ter disponibilidade de horários para atender e tem que ser pontual;, conta a decoradora que faz de festas de 15 anos e casamentos a jantares corporativos. E Brasília tem mercado para evento de todo preço. ;Recentemente foi realizado um casamento em Brasília que chegou a R$ 10 milhões o custo total. Infelizmente não fiz a decoração dele;, brinca.
1 - População abastada
A renda média do brasiliense é a mais alta do país. Em 2008, o salário médio era de R$ 2.117, mais que o dobro da média nacional, de R$ 1.036. A segunda colocada no ranking, São Paulo, tem um salário médio de R$ 1.290, segundo números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).