;Quando corro, me sinto como um pássaro que acabou de ser solto da gaiola;, afirma Damião Farias de Albuquerque, 11 anos, morador de um dos lugares mais carentes do Distrito Federal. Ele descobriu recentemente o esporte que tornou brasilienses como Clodoaldo Gomes da Silva e Marilson Gomes dos Santos campeões brasileiros em provas de longas distâncias: a corrida de rua. ;Vivia fora de casa e não queria estudar. Agora, minhas notas melhoraram bastante;, conta, orgulhoso, o garoto. Ele e outras 19 crianças de baixa renda da Vila Buritis, em Planaltina, conseguiram mudar seus destinos e já sonham com as Olimpíadas, graças ao projeto Correndo para o Futuro, criado há sete meses pelo corredor profissional José Carlos Dias de Oliveira, 38 anos.
Em 2004, após 13 anos longe da cidade que o acolheu, o piauiense decidiu retornar à Planaltina para concretizar um sonho antigo. ;Quando entrei no esporte, aos 22 anos, pensei em desenvolver um trabalho destinado às crianças;, conta José Carlos.
E foi com dificuldades, existentes até hoje, que o atleta conseguiu ;tirar das ruas; cerca de 30 crianças no começo do projeto. Por falta de apoio, o número de meninos e meninas diminuiu.
Hoje, o grupo é formado por 20 garotos e garotas entre 6 e 14 anos. ;Alguns já podem entrar em competições importantes;, garante o corredor. Atletas mirins que nem sequer têm tênis para treinar.
Enquanto esperam pela inauguração do Centro Olímpico da cidade, a criançada treina em uma área pública gramada. ;Como a turma está em fase de desenvolvimento, o gramado é o melhor local para eles correrem, pois a grama amortece a musculatura;, explica o fundador do projeto. Os exercícios ; alongamento, técnicas e corridas ; são realizados três vezes por semana, fora do horário das aulas. Para continuar no grupo, José Carlos exige bom desempenho em casa e na escola.
Superação
A estudante Kássya Yasmine da Cunha Simões, 11, foi atacada por um cachorro, em 2006. O braço direito ficou debilitado. A mordida do animal também atingiu o pescoço. ;Passei um ano no hospital e não podia ir para a aula;, lembra. ;Quando minha mãe soube da corrida, me falou que eu poderia melhorar se praticasse o esporte;, conclui a jovem. Hoje, Kássya diz sentir uma alegria sem tamanho quando corre.
Para dar continuidade ao projeto, o treinador se desdobra em meio às dificuldades. Há cinco anos, José Carlos organiza a Corrida de Rua de Planaltina, que leva o seu nome. Para organizá-la, o atleta tem o apoio de empresários locais.
Mas, de acordo com ele, a ajuda que consegue para as corridas não chega ao seu projeto. ;Tudo o que faço no Correndo para o Futuro é tirado do meu bolso;, afirma José Carlos.
COMO AJUDAR
Quem quiser doar materiais, como tênis e roupas esportivas, para as crianças do projeto e oferecer patrocínio a José Carlos, entre em contato com o atleta pelo telefone 9154-6149.