Jornal Correio Braziliense

Cidades

Saxofonista faz apresentações para crianças de escolas públicas

Músico brasiliense compartilha o que aprendeu nos estudos fora do país com alunos, que vibram com a oportunidade

Gritos, risadas, conversas altas. Reunidos, os quase 100 alunos que estavam, na manhã de ontem, no pátio da Escola Classe 04, do Cruzeiro, faziam um barulho ensurdecedor. No momento em que o saxofonista Carlos Gontijo soprou as primeiras notas em seu instrumento, porém, a turma ficou como que hipnotizada. Nascido e criado em Brazlândia, o músico, que faz mestrado na França e já tem doutorado garantido nos Estados Unidos, termina hoje uma temporada de apresentações para crianças de escolas públicas ; como as que ele estudou durante toda a vida. Com os olhos vidrados, a plateia vibrou ao ouvir canções populares e até temas de desenhos animados saindo do instrumento erudito.

É a segunda vez que Gontijo aproveita as férias para dividir com a comunidade o que teve a oportunidade de aprender. ;Não entendo a arte sem isso. O que tenho, não aprendi sozinho, sinto que preciso dar o meu retorno. Não adianta passar horas, dias estudando para mostrar apenas para quem já conhece a arte;, defendeu enquanto preparava três saxofones ; um soprano, o menor e mais agudo; um alto, com um som intermediário; e um barítono, o maior e mais grave.

O saxofonista leva convidados a todas as escolas que visita ; seis nesta edição. A iniciativa é patrocinada pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura. ;O FAC nos ajuda em cinco escolas. Ano passado e neste, escolhi uma para fazer à parte, por minha conta. Agora, foi um colégio para alunos especiais de Brazlândia, que, antes de recebê-los, foi o primeiro lugar em que estudei;, lembra.

Hoje, a temporada termina com uma apresentação no Centro de Ensino Fundamental 02, no Paranoá, às 16h30. O músico volta para a França feliz. ;Além de mostrar-lhes a música, tenho o objetivo de despertar talentos. São seis escolas. Se eu conseguir conquistar uma pessoa, estarei realizado;, conta. Pela empolgação apresentada pelas crianças do Cruzeiro, o objetivo não é tão distante assim. ;Eu adorei. Ele toca muito bem;, elogia Patrick Fernandes Santana Barbosa, 11 anos, aluno da 3; série que já conhecia o som do sax. ;Minha tia fazia aula e tocava;, conta ele. ;Mas, agora que vi ele, acho que ela tocava meio mal;, brinca.

Enfileirados na ordem das séries (da 1; até a 4;), as crianças ficaram de boca aberta já no primeiro número, a composição Carinhoso, de Pixinguinha. E logo passaram à euforia com versões dos temas dos desenhos Pica-Pau e Pantera Cor-de-Rosa. ;Me excita a curiosidade das crianças. Elas sempre me perguntam, pedem para tocar no instrumento;, anima-se Gontijo. ;Eu fiquei com vontade de tocar;, disse o tímido João Paulo Alves, já iniciado no mundo dos instrumentos de sopro. ;Eu fazia aula de flauta, mas tiver que largar. Minha família vai se mudar para Brasilinha (Planaltina de Goiás);, contou ele.

Mesmo não conhecendo música erudita, os alunos pareciam entender cada passo do saxofonista. ;Eu gosto mesmo é de funk, mas gostei muito do que ele tocou;, garante Paulo Henrique Queiroz Freitas, 10, 3; série. ;A música que eu mais gosto é música de Deus. E pode usar esse instrumento também;, afirma a pequena Lilian Gabriele Viana Amorin, 7, da 2; série.

Os adultos também se emocionaram com a apresentação. Quando os convidados Davison Miranda, Lívia Bergo e Alan Moreira cantaram uma parte de O Fantasma da Ópera(1), a orientadora educacional Nilvânia Faria foi às lágrimas. ;Eu amo esse musical. E perdi meu marido há pouco, estou muito sensível;, justificou. O programa terminou com duas canções natalinas, Pra Não Ser Triste e Bate o Sino, cantadas em coro pelas crianças.

1- 100 anos
Le Fantôme de l`Opéra, no original em francês, completa, em 2010, um século de sua primeira publicação. Seu autor, Gaston Leroux, inspirou-se na novela Trilby de George du Maurier. A obra foi adaptada diversas vezes para o teatro e o cinema e está em cartaz desde 1986 na Broadway.