Jornal Correio Braziliense

Cidades

Temporais desta época aumentam transtornos em 23 áreas de risco

Todo ano é assim: chegam os meses de dezembro e janeiro e milhares de famílias do Distrito Federal sofrem com os transtornos causados pelas chuvas fortes. Grande parte dessas pessoas vive nas chamadas áreas de risco, que, segundo o levantamento da Defesa Civil, somam 23 em todo o DF (veja quadro). Em tais pontos, inundações de ruas, alagamentos de casa, erosões e rachaduras nas paredes são comuns. O medo é constante, mas muitos moradores preferem enfrentar o perigo a deixar a própria casa. A população deve ficar atenta: pela previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), choverá mais nesta virada de ano do que choveu na de 2008/2009.

Pelo menos até a véspera do Natal, o brasiliense terá de conviver os frequentes temporais. A média de chuvas em dezembro é de 348,6mm. Neste ano, durante os 10 primeiros dias do mês, o nível de chuva já atinge 130mm. Segundo a meteorologista Odete Chiesa, do Inmet, a quantidade de chuva nesta época em Brasília está acima do normal se comparada aos anos anteriores. A média da capital federal durante todo o ano é de 1.552,1 mm. Em 2009, já choveu um total de 1.633,1 mm. ;No total, deve ser uns 200 mm a mais do que em 2008;, analisou a especialista.

Por conta das intensas chuvas, aumentam os problemas nas áreas de risco. O assessor da Gerência de Operações da Defesa Civil, major Toni Monteiro Belinho, explicou que a vulnerabilidade nesses locais se dá em relação tanto ao meio ambiente quanto à população que vive no local. Segundo ele, o órgão retirou cerca de 500 famílias das regiões perigosas neste ano. ;O Distrito Federal ainda está na fase de prevenção dos acidentes. O governo intervém nas áreas e, em situações mais graves, retira as famílias do local, mas algumas ainda resistem;, explicou.

A Defesa Civil passou por 17 regiões administrativas ; são 30 no total ; e identificou, até agora, 23 pontos de risco médio, alto ou muito. Uma dessas áreas, no entanto, foi retirada da lista do órgão. A crescente erosão, que ameaçava o meio ambiente e os moradores da QS 8, do Riacho Fundo 1, foi estabilizada pela administração regional. Localizado no Parque Vivencial do Riacho Fundo, o buraco aumentava a cada chuva forte.

Enxurrada
Na contramão, duas áreas de risco foram incluídas na lista. No setor Placa das Mercedes, no Riacho Fundo 1, o principal problema é a falta de drenagem da água da chuva. Com isso, a enxurrada desce as ruas, carrega lixo e esgoto e invade casas. A região próxima ao Córrego Samambaia, em Vicente Pires também apresenta perigo. Os barracos mal estruturados construídos perto do córrego podem desabar. ;O ideal é que as pessoas saibam da necessidade de infraestrutura antes de erguer a casa em determinado local. A maioria, no entanto, prefere construir para depois cobrar do governo a solução dos problemas. A sociedade acaba sofrendo com as condições do clima e também com o seu próprio comportamento;, defendeu o major Belinho.

Na Vila Rabelo 2, em Sobradinho 2, o riso é muito alto, de acordo com a Defesa Civil. Eis os maiores problemas da região onde moram 130 famílias: falta do sistema de drenagem da água da chuva, falta de saneamento básico, esgoto e lixo a céu aberto e casas de estrutura precária. Construídos em uma região de vales e barrancos, alguns barracos ficam inclinados até 45;, prestes cair.

A empregada doméstica Maria José do Nascimento, 39 anos, sabe que o perigo aumenta com as chuvas. Ela mora há 12 anos na encosta de um morro na Vila Rabelo 2 e alega que está à espera de um lote prometido pelo GDF. Jura que nunca viu um desabamento de terra na região, mas admite ter medo de morar ali. Como a casa fica rebaixada em relação à rua de terra, o grande receio de Maria é que um carro desgovernado atinja o seu telhado ou que um vento forte leve tudo embora. Há um mês, ela trocou parte das madeiras da parede, que estavam encharcadas e podres. Ainda assim, a enxurrada que desce a rua em direção ao vale passa por dentro da casa de Maria. ;Construímos uma vala para escoar a água, mas não adianta. Não podemos fazer mais nada.;

Banheiro
No assentamento erguido ao lado da Quadra 11 do Varjão, os transtornos se repetem. Moradora da região há dois anos, a família da dona de casa Telma Lima da Silva, 34 anos, sofre as consequências da falta de infraestrutura da região. Localizada em uma esquina, a casa fica no caminho da enxurrada. O jeito é colocar o filho Josué, 3 anos, em cima da cama e tirar a água com um rodo à medida que invade os cômodos. No banheiro, a água só escoa horas após o fim da chuva.

As infiltrações no telhado e nas paredes também são constantes. Ao ouvir o barulho da chuva forte, Telma cobre, com pressa, a televisão e o aparelho de DVD e coloca o colchão na posição vertical. ;Já acordamos várias vezes com a água caindo no nosso rosto. É muito difícil a situação. Quando chove demais e a casa molha, vamos para a casa de uma amiga na rua de cima que não tem esse problema. Todo ano é a mesma coisa;, disse Telma. Ela e o marido Josion também querem um lote do GDF.

A Defesa Civil ainda não esteve no Arapoanga, em Planaltina. Mas os moradores reclamam das frequentes inundações, além das rachaduras nas paredes. Sem rede de esgoto, os moradores constroem fossas no quintal. Muitos buracos foram soterrados por causa das chuvas e, como consequência, paredes racharam e estruturas inclinaram. ;Antes de construir uma casa, é preciso ter um estudo do solo, uma licença ambiental. Sem estudo, pode ser que a casa fique comprometida com o passar do tempo, devido ao peso e as condições do solo;, explicou o major Belinho. A empregada doméstica Geralda Joaquina de Lima, 49, viu, aos poucos, a casa rachar. O terreno cedeu algumas vezes, e a situação agravou-se com a pavimentação da rua.

O muro que divide a casa de Geralda com a do vizinho cedeu. A caixa d;água está vazia porque a estrutura de sustentação inclinou 10cm e a fenda do muro da frente está tão grande que de dentro da dentro da casa dá para enxergar a rua. Geralda foi aconselhada pela filha, Adriana, 28, a procurar a Defesa Civil devido às condições da casa. ;Estamos impressionados com essas rachaduras.;

CUIDADOS
Como prevenir problemas na época de chuvas:

# Não jogue lixo nos bueiros (bocas de lobo), para não obstruir o escoamento da água

# Não jogue lixo ou entulho no córrego, para não obstruir a passagem da água

# Não construa próximo a córregos que possam inundar

# Não construa às margens de barrancos (tanto na base quanto no alto), pois o risco de desabamento é alto. Sua casa pode ser carregada pela movimentação de terra e lama

# Se o nível de água estiver subindo, vá com sua família para um lugar seguro

# Não deixe crianças brincando na enxurrada ou nas águas dos córregos, pois elas podem ser levadas pela correnteza ou se contaminar, contraindo graves doenças, como hepatite e leptospirose

# Consulte um geólogo, um engenheiro civil e a administração regional para saber se é seguro construir em determinada área


Os perigos de cada região

# Estrutural ; enxurradas, desabamentos de casa, vendavais

# Vila Cauhy, no Núcleo Bandeirante ; inundações, alagamentos e vendavais

# Chácara Bela Vista, no Paranoá ; contaminação da nascente do Rio Taboquinha

# Assentamento próximo à Quadra 11, no Varjão ; desabamentos, incêndios em residências e enxurradas

# Queima Lençol, em Sobradinho 2 ; desabamentos, incêndio de residências, enxurradas e alagamentos

# Alto da Bela Vista, em Sobradinho 2 ; desabamentos, vendavais e incêndio de residências

# Vila Rabelo 2, em Sobradinho 2 ; desabamentos, vendavais, enxurradas e fogo em residências

# Condomínio Privê, em Ceilândia ; assoreamento do córrego e avanço de erosões em direção aos condomínios

# Chácara Cachoeirinha, em Ceilândia ; abertura de erosão, exurradas e alagamento de residências

# Chácara Pantanal, em Ceilândia ; avanço de erosão contra as moradias e novos invasores

# Vila Madureira, em Ceilândia ; avanço de erosões contra as moradias, enxurradas e incêndio de residências Condomínio Pôr do Sol, em Ceilândia ; novas invasões

# Comunidade Matadouro, no Riacho Fundo 1 ; desabamentos, enxurradas, inundações, contaminação da água com o lixo e incêndio em residências

# Parque Ecológico e Vivencial do Riacho Fundo, no Riacho Fundo 1 ; alargamento de erosôes

# Placa das Mercerdes, no Riacho Fundo 1 ; enxurradas e contaminação do Córrego Riacho Fundo

# Fazenda Monjolo, no Recanto das Emas ; contaminação do solo,
do lençol freático e do Córrego Monjolo, vendavais e desabamento

# Vale do Amanhecer, em Planaltina ; desabamento, incêndio em residências e vendavais

# Cruzeiro Novo ; comprometimento de calçadas por causa das árvores

# Itapoã ; inundações e alagamentos

# Asa Sul ; quedas de árvores, enxurradas e alagamentos

# Asa Norte ; quedas de árvores, enxurradas e alagamentos

# Vila São José, em Vicente Pires ; erosões e desabamentos

# Chácaras 148 e 149, em Vicente Pires ; erosões e desabamentos

Fonte: Defesa Civil do Distrito Federal