Segundo o levantamento feito em agosto deste ano pela assessoria do deputado distrital Chico Leite (PT), em 2006 o GDF gastou R$ 235 mil com os trabalhos realizados por outras empresas. Ressalte-se que, até esta época, boa parte dos serviços de impressão e reprodução era realizada na gráfica da própria Secretaria de Saúde.
Com a contratação da Uni Repro, no entanto, em apenas dois meses o valor empenhado aumentou mais de cinco vezes, ultrapassando os R$ 1,3 milhão. De acordo com dados recolhidos pelos assessores do deputado no Sistema Integrado de Gestão Governamental (Siggo/DF), em outubro de 2007 foram empenhados R$ 767 mil e, em dezembro, mais R$ 600 mil.
Já em 2008 o empenho chegou a R$ 14,8 milhões. Ainda conforme os números do Siggo/DF, em 2009, somente até agosto - quando os pagamentos foram suspensos após a secretaria identificar irregularidades em um segundo contrato firmado com a empresa -, foram empenhados R$ 10,2 milhões.
;Em 2006, o GDF gastou R$ 235 mil com serviços gráficos. Dois anos depois, esse gasto havia subido mais de 6000%. Como explicar que na Secretaria de Saúde falta dinheiro para o fundamental, como remédios, médicos e equipamentos, mas não para serviços gráficos?;, questionou Chico Leite.
Ainda em agosto deste ano, o deputado distrital Dr. Charles (PTB) denunciou o que classifica como uma situação ;inadmissível;. Segundo ele, em dado momento, somente o Hospital de Taguatinga chegou a receber mais de 50 máquinas copiadoras.
;Enquanto não tínhamos, e ainda não temos, remédios básicos, o GDF tripudia do cidadão assinando contratos milionários com essa empresa. Isso é inadmissível;, declarou o deputado, sugerindo que somente após suas queixas a Secretaria de Saúde tomou alguma providência.
Com sede em São Paulo (SP), a Uni Repro é uma das empresas acusadas pelo ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, de pagar propina a integrantes do GDF para obter contratos de prestação de serviço com órgãos e empresas públicas, conforme inquérito da Polícia Federal.
Ainda de acordo com Barbosa, o dinheiro obtido com o esquema servia para que o governador José Roberto Arruda (DEM) comprasse o apoio político de deputados distritais e também para o ;enriquecimento pessoal; de alguns dos envolvidos no esquema. Em um vídeo gravado por Barbosa, o ex-subsecretário de Recursos Humanos da secretaria, João Luiz, aparece recebendo cerca de R$ 20 mil referentes, segundo Barbosa, ao contrato da Uni Repro.
Para assinar o contrato com a Uni Repro, o GDF dispensou a licitação e usou como modelo a ata de preços e o contrato firmado, em 2006, pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo que, diferentemente da secretaria do GDF, realizou um pregão eletrônico vencido pela mesma empresa.
Em agosto de 2007, a Procuradoria-Geral do Distrito Federal decidiu que tal procedimento era inconstitucional e recomendou que a Uni Repro não fosse contratada. Por duas vezes o GDF recorreu da decisão, mas a Procuradoria manteve a mesma recomendação.
A Agência Brasil manteve contato com a assesoria da Uni Repro que até a publicação da reportagem não retornou a ligação.
Hoje (4), por meio de nota, a Corregedoria-Geral do Município de São Paulo informou que instaurou um procedimento para averiguar a documentação e a atual situação cadastral das empresas Call Tecnologia e Serviços, Uni Repro e CTIS Tecnologia. O corregedor-geral, Olheno Ricardo de Souza Scucuglia, comandará a verificação da regularidade dessas empresas.