Jornal Correio Braziliense

Cidades

Despesas com lazer na capital federal ficam cada vez mais elevadas

Desde janeiro, ir à boate encareceu 9,46% e jantar fora subiu 4,41%. Preços superam a inflação

Acostumados a amargar preços e reajustes superiores aos de outras cidades brasileiras, os brasilienses também pagam caro na hora da diversão. O oneroso lazer da capital do país está subindo mais do que a inflação. Um levantamento feito pelo Correio em dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)(2), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que de 14 produtos e serviços ligados ao divertimento, nove tiveram reajustes superiores à variação média de preços na cidade. O IPCA subiu 3,29%, de janeiro a outubro deste ano, mas as boates da cidade estão cobrando 9,46% mais. Assistir a um jogo esportivo está 10,43% mais caro. Os consumidores de lazer sentem no bolso os preços amargos. O valor de um ingresso para um show musical pode chegar a R$ 400. Não são raras as festas que cobram mais de R$ 100 pela entrada.

A renda elevada(1) ajuda a explicar os valores, segundo economistas. ;Quanto mais dinheiro uma pessoa tem, mais ela gasta com lazer. Primeiro, a pessoa consome o que é necessário à sobrevivência. Se ganha pouco, o consumo de lazer é pequeno. Quando o peso com a sobrevivência é menor, pode gastar mais para se divertir;, afirma o professor do Departamento de Economia da Universidade Católica de Brasília (UCB) José Carneiro da Cunha. ;Conhecendo essa disponibilidade de recursos, os empresários cobram mais caro, porque sabem que há mercado;, completa.

Os aumentos foram generalizados em todo o país. Dos 14 itens, 10 tiveram variações maiores na média nacional do que no Distrito Federal. Mas, de qualquer forma, os preços brasilienses continuam bem superiores aos de outras capitais, segundo os consumidores. A carioca Cristina Müller, 51 anos, se espanta com os preços cobrados em Brasília quando comparados aos da cidade em que nasceu. ;Aqui é tudo muito mais caro. Seja o chope, a peça de teatro ou o show de música;, afirma. Ela conta que tem saído menos de casa. Apesar de gostar de se reunir com os amigos para conversar e tomar uma cervejinha, deixou de frequentar alguns lugares por causa do valor final da conta. ;Se parar para pensar no preço do chope, você não toma nenhum. Em alguns estabelecimentos, o valor chega a R$ 5, R$ 6 e até R$ 7;, reclama.

O excesso de carteiras de meia-entrada em posse dos brasilienses ajuda a fomentar os preços altos, critica o economista Roberto Piscitelli, professor da Universidade de Brasília (UnB). ;Onde se tem renda mais elevada se tem a possibilidade de cobrar preços elevados. Mas um agravante é o fato de em Brasília todo mundo ter carteira de estudante. Os empresários aumentam os preços dos ingressos de meia-entrada, que, na verdade, hoje equivalem aos preços que seriam cobrados pela inteira. E aí, quem não tem carteira, acaba pagando o dobro do preço que seria real;, afirma.

1- Bons salários
O rendimento do brasiliense é o mais alto do país. Em 2008, o salário médio era de R$ 2.117, mais do que o dobro da média nacional, R$ 1.036. A segunda colocada no ranking, São Paulo, tem um salário médio de R$ 1.290, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

2- Levantamento
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é levantado mensalmente pelo IBGE entre as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre um e 40 salários mínimos. Os dados são coletados em estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, em concessionárias de serviços públicos e em domicílios.

Boêmios lamentam
Os boêmios são os que mais sofrem com os reajustes. As boates, danceterias e discotecas ficaram 9,46% mais caras em 2009. Jantar em um restaurante está 4,41% mais oneroso desde janeiro. A cerveja subiu 3,01%. O cigarro, 26,62%. Em contrapartida, o preço da entrada de cinema caiu 1,56%, e alugar uma fita de DVD está 5% mais barato. ;As pessoas devem substituir: se o bar ficou muito mais caro, podem fazer reuniões e jantares em casa;, orienta Carneiro da Cunha.

Para a classe de renda mais baixa, a saída é o lazer gratuito. ;Em algumas cidades, há campos de futebol, além disso, nesses casos, o lazer de fim de semana é a visita a vizinhos e a amigos. É comum que as pessoas fiquem batendo papo na porta de casa, como em cidades do interior. Em outras localidades há praia, que é uma opção para a baixa renda;, afirma Carneiro da Cunha.

PALAVRA DO ESPECIALISTA
Renda alta estimula gasto
"Os preços sobem acima da inflação porque os brasilienses têm maior disponibilidade para gastar com itens de lazer. À medida que a renda se eleva e você tem uma sofisticação do consumo, a pessoa começa a gastar mais com itens ligados à cultura, à arte ou a lazer. Como em Brasília temos mais pessoas com renda elevada, é normal que os preços sejam mais elevados."
Roberto Piscitelli, economista e professor da UnB