Jornal Correio Braziliense

Cidades

Estudantes aprendem principais noções de conservação e respeito do meio ambiente

Em vez de quadro-negro, um palco: é este o cenário em que estudantes da Escola Classe 01 estão aprendendo as principais noções de conservação, reciclagem e respeito ao meio ambiente

Os alunos da Escola Classe 01 do Itapoã tiveram uma aula diferente, com professores inusitados, durante o dia de ontem. Em vez de matemática, português e ciências, as crianças aprenderam sobre reciclagem, lixo e meio ambiente. Durante meia hora, a garrafa pet Galalau, a lata de alumínio Invocado e o pote de xampu Cheirosa ;contaram; a quase 500 crianças como é viver no lixão e deram dicas de como reutilizar alguns materiais usados no dia a dia. Encenada pelo grupo teatral Roupa de Ensaio, a peça Papo de lixo provocou entusiasmo e atraiu a participação dos estudantes mirins. Esse dia especial foi idealizado pelo projeto Mãe Ambiente, da Fundação Mulheres Unidas de Brasília e Entorno (Femube), que faz trabalhos de conscientização em cidades carentes há 20 anos.

A companhia de teatro existe há quatro anos. Desde o ano passado, seus integrantes apresentam ao público jovem a peça Papo de lixo. Com roupas pretas, Márcio Nascimento, Tauana Barros e Alan Mariano movimentam bonecos feitos de espuma por Miguel Mariano. Os personagens são materiais usados pelo homem que, depois de usados, foram jogados no lixo ; latas, garrafas, fraldas etc. Os diálogos abordam temas como decomposição, tratamento de lixo e, principalmente, a reciclagem. A história arrancou risadas, gritos e aplausos por parte do público de crianças e adultos que assistiam à peça. ;As crianças aprendem se divertindo, interagem e, ao mesmo tempo, se conscientizam dos cuidados com o meio ambiente;, avaliou Márcio Nascimento.

A aluna do programa de aceleração de ensino da Escola Classe do Itapoã Nara Queiroz da Silva, 10 anos, prestou atenção na história do início ao fim. Contou que nunca tinha visto alguém tratar o tema com tamanha profundidade. Com a cartilha do programa em mãos, prometeu mostrar à mãe as dicas de reciclagem e os cuidados com o lixo. ;Aprendi que não podemos jogar o lixo na rua. Temos que reciclar. Achei a palestra muito interessante. Os lixos gostam de ser transformados e não gostam de viver no lixão;, disse. Gustavo da Silva, 6 anos, aluno da primeira série, estava na primeira fila. ;Gostei muito. Tem que separar o lixo;, concluiu.

A ideia de levar a companhia teatral à escola partiu da Femube. Durante cinco anos, o grupo recrutou voluntárias para o projeto Mulheres Gerando Saúde. Uma vez por semana, elas passavam nas casas do Itapoã, Varjão e Riacho Fundo 2 para dar dicas sobre meio ambiente, saúde e cuidados dentro de casa. A maior preocupação era o cuidado com o lixo, até então tratado apenas como transmissor de doenças. ;Mas percebemos que tínhamos de mudar o enfoque para dar atenção às famílias sustentadas com trabalhos de reciclagem. O lixo se tornou parte da inclusão social, gerador de renda;, explicou a presidenta da Femube, Marisa Ramalho, 46 anos.

A partir de então, o grupo mudou de foco e passou a se chamar Mãe Ambiente. As voluntárias abordam temas como separação do lixo seco e orgânico ; coleta seletiva ; e incentivam a reciclagem. Há pouco mais de um mês, elas ofereceram às donas de casa uma oficina de fabricação de sabão a partir do óleo de cozinha usado. ;É um trabalho de formiguinha. Não é fácil mudar o hábito das pessoas. Não é de um dia para o outro, mas estamos plantando a semente no trabalho de conscientização para a preservação do meio ambiente;, disse Marisa.

Coordenadora de trabalhos do Mãe Ambiente Itapoã, Rosa Maria Rodrigues, 39 anos, percebe no dia a dia a maior preocupação com o meio ambiente. ;As pessoas fazem vassoura com garrafas pet, cestas de papel de jornal e aproveitam o potinho de maionese para colocar cotonete, por exemplo;, contou. Ela e outras nove mulheres saem de casa todo sábado às 8h com a missão de conscientizar cerca de 200 famílias de uma só vez. Rosa conta que os moradores estão dispostos a mudar, a tirar dúvidas e a aprender novas formas de reaproveitar produtos do dia a dia. ;O maior problema era o saco de lixo abandonado na rua e mal fechado. Os cachorros rasgavam tudo e espalhavam o lixo na rua. Agora elas sabem que só deve colocar o saco de lixo perto da hora do caminhão, e como amarrá-lo;, explicou.

Obrigatória e incompleta
A coleta seletiva de lixo no Distrito Federal passou a ser obrigatória em 7 de julho de 2006, quando a Lei n; 3.890, de autoria do deputado Chico Floresta, foi sancionada. Ainda assim, a operação abrange apenas 3% das casas no DF: nas Asas Norte e Sul. Para desenvolver o trabalho da coleta seletiva, os catadores de materiais recicláveis foram capacitados com um triciclo. São, ao todo, 3,5 mil catadores e 15 mil pessoas que vivem diretamente do recolhimento, triagem e comercialização de resíduos sólidos no DF.