Jornal Correio Braziliense

Cidades

85% dos moradores do Distrito Federal se consideram felizes

Os brasilienses estão rindo à toa. Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Economia da Universidade Católica de Brasília (UCB) mostra que 85% dos moradores do Distrito Federal se consideram felizes. O nível elevado de felicidade (veja quadro) revela que a maioria das pessoas está satisfeita com a vida que leva. A opinião é compartilhada por quem é solteiro ou casado, com filhos ou não, religiosos ou ateus, jovens ou velhos. O que parece óbvio é a mais pura verdade: fazer o que se gosta ou estar próximo de coisas que se valoriza é o melhor caminho para viver com o sorriso no rosto. Para a maior parte dos entrevistados, a felicidade está associada à realização pessoal (38%) e à realização familiar (33%).

O levantamento (1)faz parte da tese de doutorado Felicidade, casamento e choques positivos de renda, de Alexandre Damasceno. O orientador e autor da pesquisa, o professor de economia Adolfo Sachsida, explica que a finalidade era mostrar quanto os brasilienses estão satisfeitos com a vida que levam e quais variáveis estão associadas a isso. ;Não temos como medir a felicidade das pessoas. A pesquisa é quantitativa e não qualitativa. É uma estatística de média que revela indícios da percepção das pessoas;, afirma ele.

A preocupação com o próprio bem-estar e a liberdade é característica presente nas pessoas felizes. Segundo a pesquisa, os solteiros (86,3%) estão um pouco mais satisfeitos com a vida que levam do que os casados (84,5%). Quem está numa relação consolidada é um ponto percentual mais infeliz em relação àqueles que estão livres. A bancária Arlene Ramos do Nascimento, 47 anos, não para de sorrir. Se diz feliz pelo impressionante fato de não conhecer o que é a infelicidade. ;Tem que fazer coisas que trazem bem-estar. Não há segredo. Nas pequenas coisas, podemos tirar muito. Passear, sair com os amigos e estudar. Isso me faz bem;, dá a dica. Além de ser solteira por opção, ;porque não se vê amarrada a ninguém;, ela não teve filhos também porque não quis, está acima dos 45 anos e é mulher ; três variáveis apontadas pela pesquisa associadas às pessoas mais satisfeitas.

Para Sachsida, a explicação é pontual. ;Os filhos trazem felicidade mas muita preocupação. As pessoas mais velhas se aceitam mais do que as jovens. E os homens sofrem uma cobrança social para se mostrarem sempre fortes, mas quando observamos os níveis de felicidade, vemos que eles estão um pouco abaixo das mulheres;, avalia. O levantamento mostra que os homens estão mais insatisfeitos do que as mulheres no DF. Enquanto 4,4% dos entrevistados do sexo feminino se consideram muito infelizes ou infelizes, esse número sobe para 7,7% entre o sexo masculino.

Na opinião do psiquiatra clínico Rafael Boechat, admitir que se é infeliz é uma atitude difícil de se tomar e, portanto, pode ser maquiada por mecanismos de defesas. ;É mais comum os solteiros negarem solidão ou tristeza porque podem não ter alguém para compartilhar isso. Os estudos mais antigos mostram o casamento como uma proteção social. Acho que é muito difícil mensurar a felicidade. É muito subjetivo;, analisa. A psicóloga Ana Lúcia Sueñé Palma diz que as mulheres procuram mais o consultório do que os homens. ;Talvez seja por isso que elas aparecem mais felizes do que eles. As mulheres tentam se tratar quando veem os sinais da depressão;, aponta.

Sexo


A alta rotatividade sexual não é um chamariz para a felicidade na concepção da maioria dos brasilienses. De acordo com a pesquisa, o satisfatório é ter dois parceiros sexuais durante um período de um ano (87,4%). Na cama das pessoas mais infelizes e infelizes (11,2%), passam seis ou mais parceiros por ano. O analista de comunicação Daniel Jordão, 28, é mais feliz quando está namorando. ;Gosto de ter alguém comigo. Uma boa companhia é melhor do que ir para a balada e ficar na caçada. Isso cansa. Ter alguém que te dá carinho e estabilidade sexual faz toda da diferença;, defende. A psicóloga Ana Lúcia confirma a tese dentro de seu consultório. ;A pessoa que tem seis ou mais parceiros não tem ninguém. Não se vincula a nada. Quando se é jovem tem uma questão da experimentação, mas depois dos 35, 40 anos, as pessoas querem vínculo sexual e afetivo;, diz.


1 - Questionário
De agosto a outubro deste ano, 10 pesquisadores da Universidade Católica entrevistaram 1.521 pessoas em todo o Distrito Federal para verificar o nível de felicidade (classificados como muito infeliz, infeliz, pouco feliz, feliz e muito feliz) e a relação desse sentimento com variáveis como gênero, religiosidade, classe social, estado civil, sexualidade, entre outros. Elas responderam um questionário padrão de economia, sem perguntas abertas. A amostra é composta por 46,6% de homens, 40% casados, 47,1% de pessoas com filhos e, na média, com 30 anos e meio de idade.


RELIGIÃO
A pesquisa mostra a relação entre religiosidade e felicidade. O estudo indica que pessoas que frequentam igrejas ou cultos religiosos são mais felizes. A maioria dos entrevistados (86,9%) se diz satisfeita em acompanhar missas ou cultos. O nível de felicidade cai quatro pontos percentuais nas pessoas que não frequentam os templos religiosos. A produtora Rubia Boaventura, 27 anos, sente um estado de felicidade desde que se tornou evangélica há cinco anos. ;Sou mais feliz porque encontrei um propósito de viver. Pessoas que têm Deus no coração, independentemente da religião, são mais felizes;, acredita. A relação direta com Deus, como ela gosta de dizer que tem, a ajudou a mudar de vida. ;Me foquei mais e conquistei o que sempre quis. Hoje, tenho emprego, marido e faço faculdade. Fazer o que gosto ou estar perto disso me dá prazer;, conclui.