Apresentar a cultura africana e trabalhar a diversidade racial (1)com crianças faz parte da proposta do projeto Griô: Oficina Conta Contos, que fala sobre a África de maneira didática aos alunos de uma escola pública no Vale do Amanhecer, em Planaltina. Até o próximo sábado, cerca de 300 crianças terão contato com histórias e livros que remetem àquele continente. Professores e funcionários participarão de oficinas para aprender a trabalhar o assunto em sala de aula.
Rodeada por bonecas negras e livros de mitos africanos, a idealizadora do projeto e professora da Universidade de Brasília (UnB) Edileuza Souza conversa com as professoras do Centro de Ensino Fundamental Mestre d;Armas. Durante a oficina, elas conheceram elementos que podem ser inseridos na rotina escolar das crianças para falar do preconceito. ;Existe um desconhecimento total sobre o continente africano. Quando perguntamos aos alunos o que eles conhecem de lá, eles lembram da pobreza, de pontos negativos;, comentou a professora. Desde 2003, uma lei federal torna obrigatório o ensino de história e de cultura afro-brasileira em escolas. Edileuza ressalta que os professores podem pesquisar na internet e em livros de literatura para seguir a recomendação da lei. ;Na África, diz-se que quando você reconta uma história, está mantendo a memória viva;, concluiu.
As professoras aprendem a lidar com demonstrações de preconceito dentro da escola. A questão racial é forte, mas, muitas vezes, a cor da pele não é o motivo de discriminação entre as crianças. Jeito de se vestir, uso de óculos, classe social ou excesso de peso podem dar origem a piadas e brigas. ;Eles reparam, às vezes criticam e não querem ficar junto da pessoa. Existe o preconceito, mas sempre tentamos trabalhar isso com eles;, lembrou a professora da 2; série do colégio, Vanes de Oliveira, 43 anos.
A professora da turma de aceleração Maria Rodrigues Lopo, 36, não deixa passar em branco as brincadeiras desrespeitosas entre os jovens. ;Faço uma roda, converso com eles. Eles sabem que uma palavra pode doer mais que um soco, e que atinge o ponto fraco;, comentou. Este ano, ela trabalhou com a turma um painel chamado Somos diferentes. Uma das regras coladas na parede é clara: aceitar os outros. No quadro, imagens de deficientes físicos, negros, indígenas, pessoas obesas, pobres, ricas, de diversas características. ;Mostrei que todos somos diferentes, mas temos direitos iguais;, resumiu.
Falar sobre a cultura e a história do continente africano é rotina na escola desde o ano passado, quando foi criado o projeto Ser humano de valor. Em sala de aula, os professores passaram a falar de diversidade religiosa, cultural, racial e de gênero. ;Eles trabalham durante três meses com o tema. Falamos do respeito à mulher, ao homossexual, às pessoas de diferentes religiões;, explicou o diretor do colégio, Marcus Maciel. O encerramento da oficina está marcado para o próximo sábado, com a apresentação de trabalhos dos alunos. Pais e comunidade estão convidados a passar a manhã na instituição.
Interação racial
O Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro, data escolhida por ser a mesma da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Ele liderou o Quilombo dos Palmares, uma comunidade que reunia negros fugidos de senzalas e fazendas. Em 1694, o quilombo foi invadido e Zumbi, ferido na luta, morreu no ano seguinte. A Semana da Consciência Negra tem programação especial em 12 unidades da Federação. No DF, haverá degustação de acarajé, oficinas e apresentação de projetos voluntários para a cultura negra. A programação está no site da Fundação Palmares: www.palmares.gov.br.