Jornal Correio Braziliense

Cidades

Brasilienses começam a trabalhar mais tarde

A maioria dos brasileiros (90,9%) tem o primeiro emprego antes dos 20 anos. No DF, a alta renda deixa o jovem mais tempo na escola


Os brasilienses começam a trabalhar mais tarde do que a média do país. Os moradores da capital federal só não atrasam mais a entrada no mercado de trabalho do que os fluminenses. Mas a população dos outros 25 estados brasileiros iniciam antes a vida profissional. Um levantamento feito pelo Correio em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístia (IBGE), mostra que 90,9% dos brasileiros tiveram o primeiro emprego antes dos 20 anos.

No Distrito Federal, o percentual cai para 84,0%, atrás apenas do Rio de Janeiro, com 83,3%. Sem a obrigação de trabalhar, os jovens podem se dedicar mais aos estudos. Assim, tanto o DF quanto o Rio são as duas unidades da Federação que reúnem os brasileiros com maior escolaridade do país.

Com mais chance de se dedicarem aos estudos, os brasilienses têm o grau mais elevado de escolaridade do país. Do total de brasilienses com 10 anos ou mais de idade, 14,24% têm, no mínimo, 15 anos de estudo no currículo. A média nacional é de 6,89% e o estado que aparece em segundo lugar, o Rio de Janeiro, tem 10,30 % de sua população com 15 anos ou mais de escolaridade.

A renda elevada da população do DF permite às famílias atrasarem o ingresso de seus filhos no mercado de trabalho. ;A entrada no mercado de trabalho dos filhos da classe média se dá muito depois dos que são da classe trabalhadora;, afirma Júlio Miragaya, economista do Conselho Federal de Economia.

Concurso
Sem a pressão dos pais para que comece a ganhar dinheiro, o universitário Renato Uirá Afonso Chagas, 22 anos, nunca trabalhou. Primeiro, ele quer terminar a graduação, para depois passar em um concurso. ;Não quero trabalhar com cinema, que é o curso que faço. Mas quero terminar a faculdade para ter um curso superior, fazer concurso público e depois outro curso que eu goste mais. Penso em estudar filosofia;, conta o morador do Lago Norte. Enquanto isso, ele recebe mesada dos pais de R$ 350, valor parecido com o pago em estágios, e tem um cartão de crédito conjunto. O fato de não trabalhar lhe permitiu passar um ano fazendo trabalho missionário voluntário no México e na Espanha entre 2006 e 2007. ;Já tive uma oferta boa de estágio, mas recusei. Não é a profissão que quero seguir.;

Com a mesma idade de Renato, Cleyton Dantas dos Santos Rodrigues não teve a mesma oportunidade. Ele passou mais de seis meses procurando seu primeiro emprego e somente neste mês conseguiu. Ele e a irmã moram em Ceilândia. Mas Cleyton precisava trabalhar para ajuda nas despesas domésticas. Ele se preparou. Fez um curso técnico na área de informática antes de começar a distribuir o currículo. ;O mercado de trabalho estava ruim. Somente agora consegui emprego e porque fiz o curso;, conta o brasiliense que tem o ensino médio completo.




Altos salários
O rendimento médio do brasiliense é o mais alto do país, de acordo com a Pnad. Em 2008 estavam, em média, em R$ 2.117, mais que o dobro da média nacional, de R$ 1.036.
A segunda colocada no ranking, São Paulo, tem um salário médio de R$ 1.290.



Menor exploração infantil
Os brasilienses não precisam abandonar a infância como os moradores de outras unidades da federação. A precocidade no mercado de trabalho local não é tão grande quanto no restante do país, como mostram os dados da Pnad. Mais da metade dos trabalhadores brasileiros tiveram o primeiro emprego antes dos 14 anos de idade, o que é ilegal segundo a legislação trabalhista brasileira.

No DF, o percentual cai para 33,32%, ficando atrás do Rio de Janeiro, onde 29,79% da população infanto-juvenil que ingressa no mercado antes dos 14 anos. ;O trabalho das crianças e adolescentes serve para complementar a renda das famílias. Em algumas regiões é muito comum, como em áreas rurais ou onde o pai geralmente passa para o filho o seu ofício;, explica o especialista em mercado de trabalho Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.

Nas faixas de renda mais baixa, a entrada no mercado de trabalho ocorre para ajudar no sustento da casa. É o caso da moradora de Ceilândia Stéphanye Cristina Macedo do Nascimento, que começou a trabalhar com 12 anos. Por três anos ganhou R$ 20 por dia para animar festas infantis. Com 15 anos, passou a ser menor aprendiz na administração do Metrô, onde tem uma jornada de 20 horas semanais. Hoje, com 16 anos, Stéphanye ganha R$ 250 por mês, tem segurança profissional, e ajuda nas despesas da casa. ;A melhor coisa que existe é ter o próprio dinheiro. Sou independente, compro minhas roupas, sapatos e ainda ajudo em casa;, conta.

A legislação brasileira considera ilegal o trabalho antes dos 14 anos. Entre 14 e 16, o jovem pode exercer alguma atividade como aprendiz, desde que esteja estudando. A partir dos 16 anos, ele pode trabalhar com carteira de trabalho assinada. ;Mas, infelizmente, ainda é grande o número de crianças trabalhando no país;, analisa a professora de direito do trabalho da Universidade Católica de Brasília (UCB) Ana Paula Machado Amorim. (MF) No DF, a mão de obra infantil é a menos explorada. Um terço dos moradores da cidade começar a trabalhar antes de completar 14 anos de idade, quando a média nacional é de 53,0%.