Jornal Correio Braziliense

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Moradores de Ceilândia sofrem com falta de parada de ônibus

Quem precisa esperar por ônibus para se locomover em Ceilândia muitas vezes sofre com a falta de paradas na cidade. Em época de sol forte, o calor castiga. Quando chove, as pessoas correm para debaixo das marquises dos estabelecimentos comerciais para não se molharem. A comunidade garante que esse problema persiste há pelo menos 15 anos. Algumas paradas tiveram de ser derrubadas para duplicação de vias e nunca mais foram erguidas. Outras simplesmente nunca existiram. Para driblar as más condições, os moradores inventam soluções criativas, como construir um alambrado em um quiosque de sapateiro que serve como ponto de ônibus ou abrir o guarda-chuva sob um calor de 30;C, como na tarde da última terça-feira.

De acordo com o DF Trans, setor da Secretaria de Transportes responsável pela construção de paradas de ônibus, há 353 pontos para a espera de coletivos em Ceilândia. Mas nem todos são paradas com estrutura de concreto, metal ou vidro. Muitos estão representados apenas por uma placa. O improviso ocorre onde não há espaço para o recuo de três metros entre o asfalto e a calçada, como é exigido pelas normas do orgão. A população cobra

melhorias. ;O transporte público em Ceilândia é muito ruim. Quase não passa ônibus. Como demora muito, ficamos muito tempo no sol, sem nenhuma proteção. Para mim e meu marido, que temos um bebê de 1 ano e 3 meses, fica complicado. E pior é que sempre foi assim;, reclama a diarista Adailcia Rodrigues, 26 anos, moradora da QNR, acompanhada do marido, Wemerson Faustino, 27 anos, auxiliar de pedreiro, e com o filho Uberty nos braços.

Na QNQ 5, perto da garagem de uma empresa de ônibus, apesar do grande movimento de coletivos no local, não existem nem paradas improvisadas. ;Antigamente, havia um abrigo para os passageiros em frente à garagem da Viação Planeta (a empresa faz a maior parte das linhas nesse bairro). Mas destruíram a estrutura para fazer obras na via principal e depois nunca mais construíram;, relata a operadora de caixa Luzia Lenier, 38 anos, moradora de Ceilândia há 20 anos. A depiladora Elizangela da Silva, 31 anos, usa um guarda-chuva para se proteger do sol forte. ;Minha pele é sensível, já está começando a ficar manchada por causa da falta de paradas nesta cidade. Ou uso a sombrinha ou corro o risco de ter câncer de pele. Afinal, fico esperando o ônibus durante horas;, queixou-se.

No Setor P Norte, perto do Setor de Chácaras, um sapateiro resolveu fazer um puxadinho em seu quiosque em consideração aos vizinhos, que sempre esperavam o transporte desabrigados. ;Sei que não é certo, porque é área pública, mas fazer o quê? Deixar todo mundo sofrendo é que eu não ia;, justifica o sapateiro José da Silva, que aproveitou o movimento para vender cachaça e churrasquinho no local. A comunidade apoia a iniciativa. ;Há anos, estamos sem parada em vários locais do P Norte. ;Os motoristas de ônibus já se acostumaram com todo esse improviso. Se não for assim, vamos andar quilômetros ou pagar duas passagens;, afirma o padeiro Valdeci de Medeiros, 49 anos. ;O governo poderia investir um pouco menos em pistas e mais na sinalização e na estrutura;, sugeriu José.

O DF Trans informou que a licitação para a construção de 450 paradas de ônibus(1) já foi concluída e que as obras começaram no início deste mês. Desse total, apenas 18 serão destinadas a Ceilândia, em locais a definir. Além das paradas, a secretaria vai providenciar 1.700 placas indicando onde os veículos devem parar para pegar os passageiros.

1 - Promessa
As obras da construção de pontos de ônibus vão custar mais de R$ 3 milhões e devem ser concluídas até o fim de 2010. Há ainda um projeto para revitalização das paradas já existentes em processo de licitação.

EU ACHO...
;O problema do transporte público em Ceilândia vai além da falta de paradas de ônibus. Se o DF Trans fiscalizasse o horário dos ônibus e distribuísse melhor as linhas, nós não teríamos de ficar horas esperando. A cidade está carente também de novas faixas de pedestres e semáforos. Já cansei de perder o ônibus porque não consegui atravessar a rua. Quando chove, não dá para ficar esperando no meio da calçada. É uma situação crítica.;

Francisco Zeferino, 46 anos, vigilante, morador de Ceilândia