Jornal Correio Braziliense

Cidades

Lagoa Joaquim Medeiros e córrego Cascarra, em Planaltina, desapareceram

Se os grandes mananciais do Distrito Federal já sentem os impactos da degradação ambiental, era de se esperar que os pequenos lagos, além de córregos e lagoas, estivessem em profunda agonia. ;Proibido pescar;, ;Proibido nadar;, informam duas placas colocadas às margens da DF-230, próximo ao Morro da Capelinha, em Planaltina. Quem olha para elas não entende bem o motivo das proibições. Afinal, onde está o reservatório em que as pessoas pescariam ou nadariam? O que sobrou dele foram apenas uma extensão de mato seco e algumas poças d;água vistas ao fundo da área. Quem olha não acredita que ali existiu uma lagoa chamada Joaquim Medeiros, cheia de peixes das mais variadas espécies e tamanhos. Tinha cará, traíra, bagre e até tartaruga. Há quem jure que existia por ali jacaré.

A professora Márcia Cristina Pereira, 42 anos, lembra bem dos tempos em que saía de casa aos fins de semana só para apreciar a beleza da lagoa. ;À noite era um espetáculo. A gente levava violão, tapete e ficava sentado à beira do lago, admirando a lua;, conta. E foi assim durante muito tempo. Até cinco anos atrás, ainda era possível ver água no local, apesar do volume abaixo do normal. ;Era tudo verdinho ao redor. Todo mundo saía de casa para nadar e era aquela fila de carros;, lembra a professora, que, à época, cansou de ver carroceiros carregarem baldes de água do lago.

Outra que não esquece o passado valioso é a agricultora Lucimar Alves de Toledo, 38. Desde os 12 anos de idade, ela mora em uma chácara próxima à lagoa Joaquim Medeiros. Mudou-se do Gama com os pais e 13 irmãos. ;Eu vi esse lago quando ainda era cheio. Me entristece muito ver que ele secou e que tem gente que ainda por cima joga lixo nele;, contou. Além da ocupação e do despejo de lixo, outro motivo que pode ter levado a lagoa à morte seria a captação de água por parte dos agricultores para irrigação de plantações. ;Eles foram proibidos de utilizar água da lagoa para esse fim;, disse o administrador. A situação mostra que essa medida de nada adiantou.

Na estação Águas Emendadas, em Planaltina, o córrego Cascarra, que desembocava no córrego Fumal e abastecia a cidade, praticamente desapareceu. Em 1989, o córrego passou a ser fonte para captação de água da Caesb, em razão de contaminação por derramamento de defensivo agrícola na Barragem do Brejinho. Mas, há 12 anos, somente no período das chuvas o ex-córrego é caminho para filetes de água. Três buritis que caracterizam o solo encharcado morreram.

Segundo o coordenador da estação, Aylton Lopes Santos, a vazão era de aproximadamente 50 litros por segundo, mas hoje não chega a 5 litros. ;De maio a outubro, o córrego fica completamente seco. Somente no período de chuva é que surge um pouco de água. É triste ver essa situação porque afeta toda a biodiversidade existente;, explicou.

Para a coordenadora do Programa Adote uma Nascente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Vondete Maldaner, ainda não é possível explicar o que tem levado as lagoas e córregos a secarem. ;Estamos começando o monitoramento dos olhos d;água, mas em Planaltina temos percebido que a maior parte das nascentes têm reduzido o volume. Pode ser um fenômeno regional;, acredita. O fato de haver muitos produtores rurais pela região pode estar influenciando na diminuição da disponibilidade de água. Próximo à lagoa Joaquim Medeiros, por exemplo, os técnicos também acreditam que as inúmeras fundações de poços artesianos possam ter influenciado no processo de secagem.

Os tristes fins que tiveram a lagoa Joaquim Medeiros e o córrego Cascarra não eram previstos para tão cedo. Especialistas apontam que a retirada de água para irrigação da agricultura, a instalação de poços artesianos, o uso doméstico e industrial são alguns dos motivos que levam um lago a secar. Para o superintendente de Recursos Hídricos da a Agência Reguladora de Águas e Saneamento (Adasa), Diógenes Mortari, multar quem desrespeita o meio ambiente e o uso indiscriminado da água não adianta. ;É preciso mudar a cultura instalada nos dias de hoje. O ser humano tem que entender que está fazendo mal não somente para a natureza, mas para ele também;, avalia.

Para janeiro de 2010, a Adasa pretende começar a implantar 128 estações de monitoramento das águas pluviais, lagoas, rios e córregos espalhados pelo DF. Ainda não existe, porém, um levantamento de quantos são e onde estão localizados. O programa está em fase de licitação e está orçado em R$ 1,5 milhão. Com ele, a intenção é criar uma rede de observação dos recursos hídricos disponíveis para identificar eventuais irregulares no volume da água ainda no início. ;Ver uma nascente brotar é algo que não tem preço;, disse Diógenes.

As lagoas do DF

Nos limites da capital federal existem apenas três lagoas naturais: Jaburu, localizada próximo ao Palácio do Jaburu ; onde mora o
vice-presidente da República, José Alencar ;, Lagoa Bonita e Joaquim Medeiros, ambas localizadas em Planaltina.

Lagoa do Jaburu ; Recebeu este nome em razão da presença de grandes pássaros conhecidos como jaburus. A lagoa está ameaçada com a redução do espelho d;água estimada em 5%. Localizada na área nobre de Brasília, dentro da residência oficial do vice-presidente da República e distante alguns metros da orla do Lago Paranoá.

Lagoa Bonita ; Está protegida por lei desde que passou a integrar a área da Estação Ecológica Águas Emendadas, unidade de conservação sob responsabilidade distrital. É o maior espelho d;água natural do DF, com 193 hectares de área. Tem sido prejudicada pela expansão de lavoura de soja e pastagens.

Lagoa Joaquim Medeiros ; É uma pequena lagoa natural na parte norte do DF, ao lado da DF-230, em área protegida por legislação local. Integra um parque ecológico que pode ser visitado por qualquer pessoa.