Setor residencial com um dos metros quadrados mais caros da capital do país, o Noroeste tem alavancado os preços dos imóveis em todo o Distrito Federal. Os primeiros lançamentos no setor ecológico tiveram efeito difusor sobre o mercado da capital, que passa a ocupar este ano o segundo lugar no ranking de cidades onde mais se vende imóveis ; só perderá para São Paulo. A demanda crescente deve fazer com que os preços dobrem nos próximos cinco anos, segundo estimativas dos empresários do setor.
Até dois anos atrás, o metro quadrado a R$ 8 mil era considerado inaceitável pelos consumidores. Os primeiros apartamentos do Noroeste foram vendidos com valores que variam de R$ 8 mil a R$ 10 mil o metro quadrado. No fim de semana passado, a Lopes Royal comercializou quase 100 flats à margem do Lago Paranoá a R$ 12 mil o metro quadrado. Em Águas Claras, o valor dos imóveis quase dobrou desde 2007. Os últimos lançamentos feitos na cidade passam de R$ 4 mil o m;. Em Samambaia e no Gama, os valores superam R$ 2,5 mil.
E a tendência é que os reajustes continuem. Portanto, os brasilienses devem se preparar. Pela previsão dos empresários do setor, se o índice de crescimento seguir o mesmo ritmo registrado desde o início da década, de 20% de valorização ao ano, em pouco tempo, o DF atingirá os valores verificados em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ou seja, em apenas cinco anos, o brasiliense terá que conviver com preços que chegam a R$ 20 mil o metro quadrado. ;Os preços aqui não chegaram no ápice. Há espaço para crescerem mais;, avisa Marco Antônio Demartini, diretor da Lopes Royal.
A expectativa é de que o volume geral de vendas de imóveis no DF atinja, em 2009, R$ 3,1 bilhões, contra R$ 2,1 bilhões registrados no ano passado. Em 2008, o Rio de Janeiro vendeu o equivalente a
R$ 2,5 bilhões, mas, este ano, a capital fluminense não deve ter crescimento sobre o ano anterior. São Paulo aparece em primeiro lugar, com vendas no valor total de
R$ 7,2 bilhões. ;A região do Plano Piloto é muito valorizada pela escassez de terrenos e por estar em boa localização, mas está longe de ser a mais cara do país, o metro quadrado na orla da Zona Sul, no Rio de Janeiro, pode chegar a R$ 30 mil;, afirma Frederico Kessler, diretor regional da Rossi, presente em mais de 60 cidades brasileiras e com um lançamento previsto para este ano no Noroeste.
Crescimento
Mas o ritmo de crescimento do mercado no DF ultrapassa o das duas cidades, na opinião do gerente nacional de vendas da João Fortes Engenharia, Jorge Rucas. ;A valorização vista em Brasília é a maior do país. As zonas sul de São Paulo e do Rio de Janeiro são mais caras, mas a valorização ano a ano do DF como um todo é bem maior. O Noroeste ajuda a puxar os valores para cima. A oferta no Plano Piloto está muito baixa, e a demanda, elevada, o que pressiona o preço;, afirma. A João Fortes Engenharia lançou, esta semana, seu primeiro empreendimento no novo setor. Em 2010, vai lançar outras três obras.
O poder do Noroeste está no fato de ser o último setor imobiliário na região central de Brasília, segundo o gerente comercial da Emplavi, Wilson Charles Oliveira, que lançou, há duas semanas, um residencial de dois e três quartos no bairro ecológico, localizado na Asa Norte. ;É o último setor nobre na área tombada, certamente os preços vão subir mais ainda;, afirma. ;A tendência é que os imóveis fiquem cada vez mais caros. O Plano Piloto é finito e Águas Claras está acabando;, completa Marcelo Carvalho, diretor da Paulo Octávio Investimentos Imobiliários.
O diretor de incorporações imobiliárias do grupo Via Engenharia, Tarcísio Rodrigues Ferreira Leite, concorda. ;O mercado financeiro não está rendendo bem, o que eleva a demanda por imóveis. A isso, no DF, soma-se a carência de oferta de terrenos. O setor está mantendo uma rentabilidade histórica em torno de 20% ao ano;, afirma. O grupo, que possui três prédios em fase de comercialização no Noroeste e vai lançar o quarto ainda este ano, tem ainda outras cinco projeções para construções futuras.
A falta de terrenos puxa os custos para cima, de acordo com o gerente comercial da Emplavi, Wilson Charles Oliveira. ;Além da demanda elevada, os preços altos têm origem na forma como os terrenos são comercializados. A Terracap vende por licitação em doses homeopáticas e esse controle da oferta faz com que haja um aumento natural do preço;, afirma. De acordo com ele, as primeiras projeções no Noroeste foram vendidas às construtoras por R$ 10 milhões e agora já passam de R$ 16 milhões. ;Não tem jeito de não repassar para o metro quadrado do apartamento;, acrescenta.
Valorização acelerada
As próprias construtoras se assustam com os preços alcançados na capital do país. ;Não imaginávamos que fôssemos vender imóvel em Águas Claras a R$ 4,5 mil o metro quadrado;, afirma Marcelo Carvalho, da Paulo Octávio. Nem o engenheiro Gebrim Ésper Junior, de 52 anos, calculava que suas três quitinetes compradas há dois anos na cidade renderiam tanto. Uma delas, adquirida a
R$ 32 mil em 2007, foi vendida a R$ 95 mil recentemente.
Seu novo investimento agora é o Noroeste. Ele comprou um apartamento de dois quartos no novo bairro. Pagou R$ 8,2 mil pelo metro quadrado. Gebrim ainda não sabe se vai vender assim que ficar pronto ou se vai se mudar para o Noroeste e alugar o apartamento da Asa Sul, onde mora atualmente. ;Na Asa Sul, não vendo. Como lá não tem mais imóveis novos, a tendência é valorizar cada vez mais;, acredita.
Susto
A volta do crescimento econômico ajudou a alavancar as vendas, segundo Marcelo Carvalho. ;Houve um susto há um ano. Com o início da crise, todo mundo se encolheu, mas depois as vendas ganharam uma celeridade que não esperávamos. O mercado de Brasília é comprador. E os preços estão subindo. Há dois anos, um imóvel no Sudoeste não passava de R$ 8 mil o metro quadrado, agora temos apartamentos sendo vendidos a R$ 10 mil o metro quadrado. O Noroeste criou muita expectativa e puxou tudo para cima;, afirma. Esta semana, a Paulo Octávio lança seus dois primeiros residenciais no bairro.
Com dois terrenos no Noroeste, a JC Gontijo quer esperar o avanço da infraestrutura antes de começar a construir. Enquanto isso, investe nos residenciais em condomínios fechados. Em seis meses, vendeu mais de 1 mil apartamentos do Living, localizado próximo ao ParkShopping, a um valor médio de R$ 7,2 mil o metro quadrado. O Super Quadra Atlântica, novo condomínio lançado neste fim de semana a R$ 5,5 mil o metro quadrado, deve passar de R$ 8 mil em algumas semanas, segundo Rodrigo Nogueira, sócio-diretor da companhia. ;A valorização é generalizada. Com a queda dos juros, as pessoas estão tirando investimentos e indo para o setor imobiliário;, afirma. (MF)
Bom negócio
A Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) deve lançar, no próximo dia 26, licitação para a venda de novas projeções do Setor Noroeste.
O aumento
Exemplos de valorização dos imóveis no Distrito Federal nos últimos anos:
591%
Reajuste médio dos preços das quitinetes localizadas no Sudoeste
e na Asa Sul desde o início da década. O m;, em 2000, girava em
torno de R$ 1,2 mil. O valor médio atual está em R$ 8,3 mil
265%
Aumento do preço de apartamentos de três quartos localizados
no Sudoeste nos últimos nove anos. O m; médio saltou de
R$ 2,3 mil para R$ 8,4 mil
304%
Valorização média dos imóveis em Águas Claras. Os preços
passaram de R$ 990 o m; para mais de R$ 4 mil
Fonte: Lopes Royal