O drama vivido pela família do jovem César Oliveira Ferreira, 17 anos, iniciou há quase um mês. O que parecia ser um simples tratamento odontológico se transformou em um verdadeiro trauma para o adolescente. Desde o dia 24 de setembro, o menino não vai mais a aula. Ele estuda na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Distrito Federal (Apae-DF). O motivo? Vergonha.
César teve todos os dentes da boca extraídos, quando na verdade deveriam ser retirados apenas dois. Segundo a mãe dele, Maria Aldenora Oliveira, 48 anos, a dentista do filho o encaminhou para uma cirurgia na qual deveriam ser extraídos dois dentes, e em seguida ele retornaria a ela para concluir o tratamento de rotina como obturações. César passou por uma radiografia de panorâmica e exames de risco cirúrgico. Mas, o tratamento do garoto teve de ser interrompido.
No último dia 23, César internou-se no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). ;No dia fui com ele, como sempre o acompanhei. No dia seguinte (24/9), quando ele entrou no centro cirúrgico eu fiquei numa sala ao lado;, afirmou a mãe. Maria contou também que em momento algum foi avisada ou consultada pelo cirurgião-dentista sobre a possibilidade de todos os dentes dele serem retirados. ;Quando tudo terminou, cheguei ao lado da cama e foi aí que vi que César não tinha nenhum dos dentes mais. Fiquei desesperada e ele também. Meu filho estava sedado, mas mesmo assim não parava de repetir ;cadê meus dentes?;, relembra.
Maria lembra ainda que chegou a questionar o médico, mas ele limitou-se a dizer que o menino apresentava uma patologia na arcada dentária. ;Eu estava lá, meu filho não estava sozinho. Ele deveria ter me avisado;.
Isolamento
O menino não sorri mais. Ele também parou de frequentar as aulas na Apae. ;Ele está com vergonha, fomos dois dias à escola, mas ele não ficou;, disse a mãe. Maria decidiu procurar ajuda depois que o filho apresentou melhora. ;No começo, ele estava muito abalado e com a boca muito machucada, cheia de pontos e, por isso, decidimos esperar um pouco;.
A dona de casa e o marido, Alfredo Ferreira, registraram queixa na 5; Delegacia de Polícia (Setor Bancário Norte). O casal também procurou o Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT). ;Uma procuradora da Apae está nos ajudando muito;, afirmou Maria. Eles pretendem entrar com uma ação por danos morais.
Punição
A coordenadora de odontologia do Hran foi exonerada do cargo nesta segunda-feira (19/10). No entanto, ela continua exercendo a profissão. Segundo alegou a Secretaria de Saúde do DF, ela não cometeu um erro profissional e sim administrativo, por não ter comunicado ao gabinete do Hran o ocorrido. Já o cirurgião-dentista foi afastado preventivamente de suas funções. Uma sindicância foi aberta no hospital e o dentista ainda será ouvido.
O Conselho Regional de Odontologia no Distrito Federal (CRO-DF) abriu um processo ético contra o profissional. ;Vamos pedir aos profissionais envolvidos que acelerem a tramitação devido a gravidade do caso;, afirmou o presidente do CRO-DF, Julio César. Segundo ele, a pena pode variar de uma advertência confidencial ou pública, suspensão temporária ou a cassação do registro profissional. ;Posso dizer que o dentista é um profissional conceituado e está a 10 anos na Secretaria de Saúde;, afirmou Julio César.
Esperança
O CRO-DF ofereceu a família um tratamento para a reconstituição dos dentes do menino. ;Alguns colegas se sensibilizaram e vão dar ao menino um tratamento moderno que vai desde a radiografia, tomografia até a conclusão das próteses, tudo da mais alta tecnologia;, afirmou Julio César. O presidente admitiu que um caso desta magnitude nunca ocorreu antes no DF.