Jornal Correio Braziliense

Cidades

Dólar em baixa. Viagens em alta

Com o retorno das moedas internacionais a valores antes da crise e o parcelamento de pacotes, brasilienses preparam as malas para passar o fim de ano ou as férias no exterior

Com o dólar e o euro mais em conta, voltou a caber no bolso de muita gente um passeio pela Champs-Élysées, em Paris, uma visita à Estátua da Liberdade, em Nova York, ou um mergulho no mar do Caribe. Promoções e facilidades de pagamento seduzem o público de Brasília, conhecido por viajar bastante ao exterior, e movimentam as agências de turismo. Sem medo de gripe suína e alheio aos resquícios da crise econômica, o turista da capital surpreende o setor. Neste fim de ano, a estimativa é vender 30% a mais de pacotes internacionais, em relação a 2008 ; o dobro do aumento previsto para destinos brasileiros.

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A queda na cotação do dólar e do euro fez despencar o preço das viagens. A moeda americana, que chegou a R$ 2,50, em dezembro do ano passado, fechou ontem em R$ 1,71. A europeia alcançou R$ 3,38 no auge da crise, recuou e está em 2,55. Aos poucos, os valores se aproximam dos patamares observados antes da turbulência mundial (veja gráficos). O câmbio influencia diretamente o preço das passagens aéreas, da hospedagem e, enfim, o orçamento dos pacotes. Além das promoções, as facilidades de pagamento atraem quem sonha conhecer outros países. Os valores podem ser divididos em até 10 vezes.

Por isso, tanta correria para programar o réveillon e o verão de 2010 em terras estrangeiras. Os destinos mais procurados continuam sendo cidades dos Estados Unidos, principalmente Nova York, Orlando e Miami, e da Europa, sobretudo Paris. Turquia, a grande novidade, e as ilhas caribenhas também se destacam. Na América do Sul, Argentina ainda lidera o ranking, apesar do baque da gripe suína. Na época em que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, pediu à população que evitasse viajar para aquele país, as agências registraram 60% de cancelamentos. A maioria, porém, remarcou a viagem para este fim de ano.

Mais barato
A videografista Liana Lessa, 22 anos, não esperou. Já foi e voltou da Argentina. Passou cinco dias em Mar del Plata, na costa atlântica, no início deste mês. ;Com ou sem gripe, eu iria;, pondera a jovem, que foi participar de um evento de artes gráficas, mas não nega que aproveitou bastante a semana longe da rotina. ;Está muito mais barato agora, isso ajuda. Se fosse em outra época, nem cogitaria ir;, compara. Em janeiro, Liana curtiu Buenos Aires por 10 dias. Agora, planeja conhecer a Europa em maio ou junho do ano que vem. ;Estou vendo algumas promoções. É possível parcelar várias vezes;, conta.

Em relação à tabela de preços do mesmo período do ano passado, alguns pacotes para fora do país tiveram redução de até 50%. ;Não estou querendo ser otimista em excesso, mas arrisco dizer que o aumento das vendas será superior à estimativa de 30%;, diz o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem do Distrito Federal (Abav-DF), João Zisman. Segundo ele, as viagens para o exterior não prejudicam o movimento interno. ;Viajar passou a fazer parte da cesta de consumo do brasileiro. O turismo doméstico se manteve estável ao longo do ano;, afirmou.

Com a filha Maria Eduarda, Cláudia diz que pretende ir uma vez por ano à Europa" />Para acompanhar o avanço das viagens internacionais(1), as agências foram forçadas a diminuir o preço dos pacotes internos. Mas, na avaliação do superintendente de vendas da Bancorbrás Turismo, Carlos Eduardo Pereira, o brasiliense gosta mesmo é de viajar pelo mundo. ;Ele já conhece Natal, Fortaleza, Rio de Janeiro; Agora, quer visitar novos lugares;, analisa. Os pacotes internacionais respondem por cerca de 60% das vendas da Bancorbrás em Brasília. ;O aumento tem sido uma surpresa para nós. Conhecemos o perfil da cidade, mas não esperávamos que seria assim este ano;, completa.

Detentor da maior renda per capita do país, o turista da capital federal tem mais facilidade para tirar visto e passaporte, por conta da proximidade com as embaixadas. A servidora pública Cláudia Metello, 45 anos, aproveita. Ela já visitou Paris três vezes, mas voltará à cidade no fim deste mês para levar a filha Maria Eduarda, de 8 anos. ;Pretendo ir uma vez por ano à Europa. Em anos anteriores, pensar nisso era impraticável;, lembra ela, que programa mais uma visita à cidade-luz em maio de 2010. ;Com essas facilidades de pagamento e preços mais em conta, podemos nos permitir viajar mais. É um presente para nós mesmos;, argumenta.

Na rede CVC de Brasília, a cada 10 vendas, quatro são para o exterior, de acordo com o gerente regional da empresa, Cláudio Vila Nova. ;Estamos acima da média nacional, que gira em torno de 20%. O brasiliense é, de fato, um público diferenciado, gosta muito do exterior;, diz. Miami, por exemplo, é o segundo destino mais procurado. Fica atrás apenas de Porto Seguro, na Bahia. ;No dia em que tiver um voo direto para Miami, vai vender que nem água;, prevê. Em dezembro, a Delta Airlines começa a operar voos de Brasília para Atlanta(2), cidade considerada o maior centro de distribuição de voos do planeta.

O servidor público Thiago Queiroz, 38 anos, já conhece os Estados Unidos. Chegou a vez da Europa. Ele embarca com a esposa em novembro, com destino a Paris. Os cinco dias por lá sairão mais barato que uma semana em Porto de Galinhas, em Pernambuco. ;Quando vimos a promoção, mudamos os planos. Se não fosse o preço baixo, nem pensaríamos em ir agora para a Europa;, conta. O pacote para o casal, incluindo transporte e hospedagem com café da manhã, custou R$ 4,5 mil, dividido em oito vezes. ;Vamos ficar de olho nas promoções para já marcar a próxima;, afirma.


Crescimento
De janeiro a agosto deste ano, embarcaram e desembarcaram em voos na capital federal 7, 7 milhões de pessoas. Desse total, 113.422 (1,4%) saíram ou chegaram do exterior. Apesar de pequeno, o número cresceu 5,6% em relação ao mesmo período de 2008.


Direto para os EUA
A maior companhia aérea do mundo começa a operar a partir de 17 de dezembro três voos semanais entre Brasília e Atlanta. Um boeing 757, com 170 assentos, sairá às terças, sextas e domingos e retornará às segundas, quintas e sábados. As agências já começaram a vender passagens. O valor médio é de US$ 900 (R$ 1.539, pela cotação de ontem) por trecho.

Apesar da euforia, o mercado de agências de viagem levou um susto com a crise financeira mundial. Se as vendas não diminuíram, pelo menos não cresceram como se esperava. A alta do dólar e do euro, a gripe suína e o acidente da Air France, no fim de maio, foram responsáveis por uma queda significativa no movimento. O maior impacto foi na venda de pacotes para quem quer trabalhar no exterior. ;Com a crise, o próprio americano ficou desempregado e, claro, as vagas para estrangeiros diminuíram;, comenta a gerente da CI de Brasília, Carolina Oliveira. ;No nosso caso, o número de vagas caiu de 120, em 2008, para 40, neste fim de ano;. Com menos vagas, a procura também caiu. Porém, Carolina diz que é possível sentir uma melhora. ;Os efeitos da crise começam a diminuir, o dólar baixou muito, a gripe suína está mais tranquila. Tudo isso contribui;. A CI trabalha com turismo e programas de trabalho e estudo no exterior.


Confira algumas dicas para não entrar em apuros durante sua viagem ao exterior:

  • A relação entre o cliente e o agente de viagem se baseia na confiança. Por isso, procure referências de pessoas que já conheçam os serviços da empresa

  • Consulte o Ministério do Turismo (www.cadastur.turismo.gov.br) e a Associação Brasileira de Agências de Viagem (www.abav.com.br) para ter informações sobre o histórico da agência. Verifique no Procon (telefone: 151) se existe alguma reclamação referente à empresa

  • Veja se os serviços oferecidos em materiais de divulgação e no contrato condizem com a realidade da viagem. Caso sejam de qualidade inferior, fotografe ou recolha outras provas para reivindicar o prejuízo nos órgãos responsáveis

  • Examine cuidadosamente o contrato firmado com a agência de turismo e guarde todo o material promocional. Procure saber se, durante a viagem, serão oferecidos passeios ou serviços que precisem de pagamento extra

  • Peça à agência, com vários dias de antecedência, os vouchers (documentos de confirmação de reservas), as passagens com assento marcado, o roteiro da viagem, além de cópias da programação

  • Ligue para verificar se os serviços oferecidos estão assegurados. Telefone, por exemplo, para confirmar as reservas do hotel e faça o check-in o quanto antes

  • Principalmente no caso de viagens internacionais, peça para o agente de viagens listar todos os documentos que você deve levar (visto, passaporte etc.)