A Justiça goiana determinou ontem a prisão dos três integrantes da Força Nacional de Segurança (FNS) acusados de ter torturado dois jovens de 17 e 23 anos no último dia 3. Erivan Oliveira Picanço, 37, Walter Misael Santos Rocha, 40, e Valdenir Oliveira Mesquita, 37, foram identificados como bombeiros militares do Amapá, Paraíba e Brasília, respectivamente. Eles estavam em treinamento há quatro meses e deveriam voltar para seus estados de origem dentro de três. O comandante da FNS, coronel Luiz Antônio Ferreira, lamentou pela conduta dos bombeiros e anunciou o desligamento deles da tropa de elite da polícia. ;Peço desculpa às vítimas e aos familiares pelo ocorrido. Os três não pertencem mais ao nosso quadro;, garantiu.
A denúncia de agressão, tortura e estupro foi registrada na 2; Delegacia de Polícia Civil de Luziânia. Os crimes teriam sido praticados após uma abordagem feita em um bar da cidade, no bairro Jardim Ipê. Uma pessoa teria parado a viatura e informado os militares que havia jovens armados no local. Os três, então, seguiram para o bar e abordaram cinco pessoas, mas apenas Pedro*, 17 anos, e o amigo João*,23, não portavam documento de identificação. Com eles, os bombeiros teriam encontrado duas munições, mas nenhuma arma.
Em uma tentativa de pressionar os rapazes a mostrar onde estava a arma, o trio teria colocado as vítimas na viatura e percorrido 20km até chegar a um matagal, a caminho de Cristalina. Lá, as vítimas teriam sido agredidas a chutes e coronhadas. Os bombeiros ainda teriam obrigado João a tirar a roupa e a engatinhar no mato em seguida. Nesse momento, um deles teria enfiado um pedaço de pau no ânus da vítima. Um deles ainda é acusado de ter amarrado Pedro em uma árvore e também de ter cortado o braço do outro rapaz. Depois que os acusados foram embora, as vítimas conseguiram se soltar e pediram ajuda no hospital de Luziânia.
[SAIBAMAIS]O caso passou a ser investigado e a Polícia Civil de Goiás conseguiu identificar os suspeitos. Após serem convocados pelo delegado titular da 2; Delegacia de Polícia (DP) Civil de Luziânia, Rafael Pareja, os bombeiros militares compareceram na noite da última quarta-feira à DP, onde prestaram depoimento. Ouvidos separadamente, apenas Erivan confirmou o crime, mas negou ter participado das agressões. Walter reservou-se no direito de ficar calado e Valdenir, o bombeiro brasiliense, negou qualquer tipo de agressão. ;Os outros dois demonstraram um certo arrependimento, mas o de Brasília é dissimulado e frio. Disse que fez a abordagem, mas que deixou as vítimas no mesmo local (no bar);, contou o delegado.
Valdenir seria o comandante da guarnição e o condutor da viatura. A polícia, inclusive, acredita que seja dele a faca utilizada para cortar o braço de uma das vítimas. Na próxima semana, as vítimas farão o reconhecimento dos acusados para dar andamento ao processo. Durante entrevista coletiva no Ministério da Justiça, o comandante da Força Nacional, coronel Luiz Antônio Ferreira, disse que não há registros de má conduta por parte dos acusados e que não tem notícias de testemunhas que presenciaram o fato, mas demonstrou indignação com o episódio. ;A Força Nacional repudia esse tipo de ação por parte dos profissionais;, declarou.
Os acusados foram levados ontem à noite para 3; Companhia de Polícia Militar Independente, a Papudinha(1), e deverão permanecer presos até determinação judicial contrária. Eles vão responder por lesão corporal, tortura, estupro e roubo, uma vez que um das vítimas disse que os bombeiros levaram um aparelho celular e R$ 25 que estavam em seu bolso. Somando as penas, eles podem pegar até 30 anos de reclusão. Cada estado será encarregado de fazer o processo de exoneração da corporação à qual eles pertencem.
1 - Somente para militares
Localizada em São Sebastião, a papudinha é conhecida como um presídio destinado exclusivamente a militares acusados de praticar algum crime.
(*) Os nomes das vítimas são fictícios para proteger a identidade delas
Memória
7 de março de 2008
O soldado da Polícia Militar Leonardo Kleiton da Silva, 31 anos, foi preso depois de espancar com um amigo, até a morte, o rodoviário Gilmário Siqueira Mendes, 35. O crime, segundo a Polícia Civil, teria sido motivado por uma discussão ocorrida na porta de um caixa eletrônico, em um posto de gasolina no Setor O, em Ceilândia. Testemunhas contaram à polícia que o motorista de ônibus teria parado seu carro atrás do veículo do PM, que estava no caixa eletrônico. Gilmário se dirigiu ao banheiro do lava a jato do posto. Impedido de sair, o policial sugeriu que o outro condutor entregasse as chaves do Gol a uma das três acompanhantes que estavam no carro, mas Gilmário se recusou. Os dois teriam discutido até que o PM e o amigo partiram para cima da vítima com socos e chutes.
23 de fevereiro de 2008
O cobrador de ônibus Gilmar Damásio, 48 anos, trabalhava em um quiosque de Ceilândia nas horas de folga. Em uma madrugada, o cabo Pedro Amorim, que morava próximo ao local, chamou a Polícia Militar para tentar diminuir o som do quiosque. Ele e outros quatro policiais foram acusados de espancar Gilmar, que entrou em coma. A vítima morreu 10 dias depois. Em agosto do ano passado, a família de Gilmar ganhou na Justiça o direito à pensão.