Guichê da 1ª Delegacia de Polícia, na Asa Sul: pelo menos duas testemunhas no caso Villela foram ouvidas ontem" />A polícia descartou ontem o envolvimento no crime da 113 Sul do terceiro homem preso desde o início das investigações do triplo homicídio. Detido no fim da noite de terça-feira (8/10), ele acabou liberado horas depois de chegar algemado à 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul. Assim, permanecem como suspeitos das mortes do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69; e da principal empregada da família, Francisca Nascimento da Silva, 58, os dois homens detidos na terça-feira da semana passada e no sábado. Testemunhas disseram que a dupla, identificada como D. e A., esteve nas proximidades da 113 Sul em 28 de agosto, dia do crime. Continuam, por enquanto, as buscas ao mandante dos assassinatos.
Os investigadores do caso ouviram pelo menos duas testemunhas do caso Villela. A primeira chegou à delegacia à tarde no mesmo carro da delegada-chefe da 1; DP, Martha Vargas. O veículo entrou em uma garagem lateral do distrito, o que impossibilitou a identificação da pessoa. Às 19h50, o namorado da neta dos Villela mais uma vez prestou esclarecimentos. O policial federal estava com ela no momento em que um chaveiro abriu a porta do apartamento 601/602 do Bloco C da SQS 113 em 31 de agosto, data em que foram encontrados os corpos das três vítimas.
A polícia deve pedir hoje a renovação da prisão temporária(1) de A., mantido preso há cinco dias ;prazo limite para a restrição da liberdade de um suspeito. A. é acusado de envolvimento em clonagem de veículos. O promotor do Tribunal do Júri Maurício Miranda disse que, em casos parecidos com o dos Villela, não há o hábito de pedir uma prisão preventiva (2). ;Nesses casos, em que o inquérito continua em andamento, é mais comum renovar a prisão temporária;, explicou.
D. está preso desde terça-feira da semana passada, quando foi flagrado em um Astra roubado. O veículo foi recuperado, e o material orgânico coletado dentro dele passa por perícia. Suspeita-se que ele dirigiu o carro que levou A. até a 113 Sul para executar as três vítimas. Elas levaram 73 facadas ao todo. Os investigadores do caso também sabem que ele conversou por telefone no dia dos assassinatos com um terceiro envolvido nas mortes, possivelmente o mesmo que teve um relacionamento com um familiar próximo dos Villela. D. é suspeito ainda de integrar o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa de São Paulo. Faria parte de um grupo de extermínio com ações voltadas para a Região Nordeste. Ele mora no Riacho Fundo com a mulher e a filha dela.
Desvio de dinheiro
A delegada Martha Vargas não encontrou relação do terceiro homem detido com o triplo assassinato ocorrido no apartamento dos Villela. Identificado como pedreiro, fazia a segurança de uma vítima de tentativa de latrocínio no DF. A história se cruzou com a do crime da 113 Sul depois que os investigadores do caso encontraram na casa de A. uma lista com nomes e placas de veículos de pessoas que seriam mortas por um suposto grupo de extermínio.
Um dos alvos seria o então presidente da Cooperativa dos Profissionais Autônomos de Transporte de Samambaia (Coopetram) Noel Santos Abreu. Ele sofreu a tentativa de latrocínio há 11 dias. Os policiais resolveram ir até a residência dos ameaçados na noite da última terça-feira. O pedreiro teria estranhado a chegada dos policiais e reagido com agressividade. Acabou encaminhado à delegacia da Asa Sul, mas liberado em seguida.
Abreu foi recentemente destituído da cooperativa devido a denúncias de desvio de verbas. Ele é acusado de apropriação indébita. Há um inquérito contra ele aberto na 21; Delegacia de Polícia, em Taguatinga Sul. O presidente do Conselho Fiscal da Coopetram, Jadir Soares, compareceu ontem à 1; DP para explicar que Abreu não faz mais parte da cooperativa.
Segundo Soares, o afastamento de Noel Abreu ocorreu porque houve um desvio de R$ 925 mil da Coopetram. São acusadas do crime outras três pessoas, entre elas a mulher do acusado. ;Nós acreditamos que eles possam ter desviado muito mais, até R$ 6 milhões;, arriscou Jadir Soares. Ele disse não ter informações sobre a tentativa de latrocínio da qual o ex-presidente teria sido vítima.
Noel presidiu a Coopetram por 10 anos. A entidade tem hoje 106 associados e opera em 80 linhas de Planaltina ao Plano Piloto. A delegada Martha Vargas admitiu ontem que o escritório de advocacia dos Villela atuava em ações relativas a transporte. ;Mas não no DF, que eu me lembre. Tem em outros estados. Eu teria que checar porque são mais de 100 processos (em que ele atuava);, disse.
1 - Renovação
A prisão temporária é pedida quando os indícios de autoria são frágeis, mas a autoridade policial precisa garantir a investigação e a coleta de provas. No caso de crimes comuns, a detenção temporária vale por cinco dias e pode ser renovada por igual período.
2 - Processo
A prisão preventiva é pedida quando há indícios de autoria, certeza de que houve um crime, para garantir a ordem pública (que a pessoa não cometerá outro delito), assegurar a produção de provas e evitar o risco de fuga. Normalmente dura 81 dias, prazo da instrução processual, mas pode ser por mais tempo, se houver justificativa.
Colaborou Raphael Veleda