Os trabalhadores brasilienses que estão ocupados pressionam mais o mercado de trabalho do que os profissionais desempregados. Além de lidarem com a segunda pior realidade do país, os desempregados têm que competir com um número considerável de pessoas que, mesmo trabalhando, continuam distribuindo currículos. Um levantamento feito pelo Correio nos resultados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que no ano passado havia 150 mil desempregados na capital federal. Mas eles não estavam sozinhos à procura por um posto de trabalho. O número de pessoas que, mesmo ocupadas, continuavam buscando uma nova oportunidade era ainda maior: 186 mil brasilienses. Ou seja, 15,4% dos 1,2 milhão de moradores do DF que estavam ocupados queriam deixar seus empregos. O percentual nacional é bem menor. Dos 92,3 milhões de brasilienses que tinham emprego no período, 8,9% queriam trocar de empregador.
;Este não é um indicador negativo. Mostra que as pessoas estão confiando na economia. Esse volume tende a subir quando os trabalhadores têm a sinalização de que é possível conseguir um emprego e a economia vai bem;, analisa o gerente da Pnad, Cimar Azeredo. Ao todo, segundo o IBGE, havia 336 mil brasilienses querendo um novo posto de trabalho ; 30 mil a mais que em 2007. E, nessa disputa, saem ganhando os 186 mil que apesar de estarem buscando uma vaga, estão trabalhando.
De acordo com economistas e especialistas em recursos humanos, os empregadores preferem quem já está inserido no mercado de trabalho. ;Normalmente vale mais o passe daquele que está empregado. Ele tem muito mais condição de negociar salários, vale de 20% a 30% mais do que quem está disponível;, afirma o diretor de Operações da Consultoria Human Brasil, Fernando Montero da Costa.
Quem demora para se recolocar sai perdendo ainda mais. ;Quanto mais tempo o profissional passa desempregado, maior é a discriminação do mercado de trabalho contra ele. O empregador pensa: se ele fosse bom, já teria conseguido;, afirma o economista Adolfo Fachsida, professor da Universidade Católica de Brasília. Conseguir negociar outro emprego enquanto está ocupado é a dica dos especialistas. ;As empresas acabam preferindo quem está trabalhando porque tem mais experiência e mostra que a pessoa está buscando crescimento profissional;, diz o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos ; Distrito Federal (ABRH-DF), Manoel Mendes de Oliveira.
Funcionária, há sete meses, de uma banca da Feira dos Importados, Amanda Soares, de 18 anos, procura um emprego para deixar a função de vendedora de souvenirs. ;A gente sempre tem que procurar algo melhor;, justifica a moradora de São Sebastião. Depois de concluir o ensino médio, no semestre passado, ela começou a planejar o futuro com foco na área que pretende seguir. ;Quero ser enfermeira, mas até para fazer a inscrição dos concursos vou precisar de um emprego que pague melhor;, conta a atendente, que ganha R$ 515 mensais.
Renda e escolaridade
Assim como Amanda, 60% dos trabalhadores que querem mudar de emprego têm rendimento de até dois salários mínimos, ou seja, menos de R$ 930. Quem ganha mais está mais satisfeito e quer continuar onde está. Apenas 3,7% dos brasilienses que recebem mais de 10 salários mínimos estão procurando emprego. E, assim como a vendedora, a maioria dos que desejam uma nova atividade também concluíram o ensino médio. Das 186 mil pessoas, 48% estudaram de 11 a 14 anos ; é o maior percentual entre as faixas de estudo definidas pelo IBGE (veja quadro).
Há 35 mil brasilienses que estudaram mais de 15 anos, ou seja, pelo menos iniciaram uma faculdade, e querem mudar de vaga. Paulo Renê, 22 anos, faz parte desse grupo. Estudante de sistemas de informação, ele faz estágio em uma empresa de eventos e cursos para se profissionalizar. O objetivo é mudar de emprego, antes mesmo de se formar. ;Tem gente que se acomoda, mas eu não. Quero algo melhor sempre. Afinal, pretendo ter um carro, uma casa boa, poder viajar de vez em quando;, comenta o morador do Paranoá.
De acordo com a gerente de Atendimento da Catho Online, Camila Mariano, Renê está no caminho certo. ;Para quem está empregado, procurar uma outra vaga é mais confotável. Pode analisar cada oportunidade, avaliar com mais cuidado, se preparar e escolher a que for melhor para sua carreira;, afirma.