Jornal Correio Braziliense

Cidades

Um mês depois, mistério continua no caso Villela

Lacunas emperram as investigações. Laudos ainda não ficaram prontos e nem mesmo um suspeito foi apontado

Trinta dias após encontrar os corpos dos advogados José Guilherme Villela e Maria Carvalho Mendes Villela e da principal empregada da família, Francisca Nascimento da Silva, esfaqueados dentro do apartamento 601/602 do Bloco C da 113 Sul, a polícia ainda não reuniu provas suficientes para apontar os responsáveis pelo crime. Apesar do trabalho obsessivo da equipe de investigação ; que rompe madrugadas na análise dos indícios coletados diariamente ;, algumas lacunas emperram a apuração do caso.

A polícia não sabe quem entrou no Bloco C na sexta-feira em que o crime foi cometido, porque as câmeras de segurança do prédio não gravam. Além disso, nenhuma das câmeras dos edifícios em volta acrescentou elementos à investigação. Como os Villela levavam uma vida muito reservada, sua ausência não foi notada no bloco durante o fim de semana, e os corpos só foram encontrados três dias depois do crime, pela neta do casal. Também não foram encontradas testemunhas dos brutais assassinatos ou, pelo menos, de movimentações suspeitas.

Depois de dezenas de depoimentos, perícias e diligências, os investigadores dão como certo que o crime foi encomendado, mas ainda não descartaram por completo a hipótese de latrocínio comum. A ausência de evidências que levem aos executores indica que eles sabiam o que estavam fazendo e não improvisaram.

Portas
Nessa linha de raciocínio, fontes afirmam que é quase impossível não haver alguém próximo ao casal Villela ou à empregada da família envolvido nas mortes. Seja quem for o autor das facadas, ele dificilmente entrou no apartamento 601/602 sem a anuência de alguém do lado de dentro. Não foram encontradas marcas de arrombamento nas portas do imóvel.

Uma das únicas certezas da polícia é que as vítimas não reagiram às facadas. Os laudos periciais apontaram que os Villela e Francisca não apresentavam marcas de faca nos braços, o que indica que não tentaram se proteger dos golpes. Apesar de os exames toxicológicos não atestarem o uso de sedativos, é possível que os três tenham sido entorpecidos por substâncias que causam sonolência momentânea e evaporam rapidamente, como éter e clorofórmio. Essa é mais uma hipótese trabalhada pelos policiais ; até agora, como em outras frentes, sem confirmação.

Cautela para evitar erros


Paciência e bom humor são as principais características da chefe da 1; DP, Martha Vargas, hoje à frente da mais importante investigação da Polícia Civil do DF: o triplo homicídio de José Guilherme Villela, Maria Mendes Carvalho Villela e a principal empregada deles, Francisca Nascimento da Silva. Passados 30 dias sem solução, Martha não se abala com as cobranças e, em conversas com amigos, cita casos em que atuou que demoraram, mas terminaram com a prisão dos criminosos.

Martha costuma chegar à 1; DP sorridente, mesmo com as poucas horas de sono, nos últimos dias. Não fala sobre o crime com pessoas alheias à investigação, principalmente jornalistas, mas já lhes ofereceu café durante as noites de plantão. Quando vai para casa, dorme de cinco a sete horas, retornando para a delegacia pela manhã, quase sempre às 10h. No primeiro mês de apuração da morte dos Villela e de Francisca, segundo amigos da policial, ela deixou de comparecer ao local de trabalho apenas no domingo passado. Mesmo assim, ficou em sua residência analisando o inquérito.

Gaúcha, há 37 anos em Brasília, sendo 20 deles na Polícia Civil, Martha passou por várias delegacias até assumir a da Asa Sul, onde comanda uma equipe de 80 pessoas, a maioria homens. De acordo com amigos, ela considera o triplo homicídio um caso como os outros, e não tem pressa para solucioná-lo. ;Todos são importantes. Não tem um ou outro, mas tudo tem que ser bem apurado para não haver erros;, afirma ela a seus subordinados. A delegada usa sempre exemplos de crimes que abalaram a cidade, demoraram para ser resolvidos, mas tiveram resultado.

Moradores de rua
Um deles foi a morte do desembargador aposentado Irajá Pimentel, em março de 2002. A apuração do assassinato durou um ano, mas ele foi solucionado. Martha também esclareceu a morte de dois moradores de rua, em fevereiro deste ano, dois meses depois que o crime ocorreu. A delegada indiciou o analista do Banco Central José Cândido do Amaral Filho como autor dos homicídios. Seus superiores afirmam que Martha Vargas está conduzindo a investigação com cautela. ;O tempo que está levando é absolutamente normal;, diz uma fonte da Polícia Civil.

Elogiada pela cúpula da Secretaria de Segurança Pública, que não pretende tirá-la do caso, a delegada é rígida e paciente, segundo seus auxiliares. Apesar do excesso de trabalho, afirma a amigos que tem conseguido manter sua vida pessoal normalmente.