Antes de chegar à mesa do brasiliense, os alimentos viajam centenas de quilômetros por terra, água ou ar. Em agosto deste ano, 80,74% dos legumes, frutas e verduras comercializados na Central de Abastecimento do DF (Ceasa) vieram de outros estados ou países. São 22.877.903kg de vegetais colhidos em diferentes partes do mundo. O restante ; 5.458.773kg ; é proveniente de áreas rurais do DF.
O movimento na Ceasa começa antes de o sol nascer, ainda na madrugada. Os caminhões carregados de alimentos estão lá desde a noite do dia anterior, quando terminaram a viagem rumo à capital federal. Eles estacionam em frente às lojas e entregam caixas e sacolas carregadas de vegetais. As placas indicam a procedência: Bahia, São Paulo e Goiás são algumas das origens mais comuns.
;Em cada época do ano, os alimentos vêm de uma parte do país. Cada produto tem sua época de colheita;, diz o comerciante e presidente da Associação dos Empresários da Ceasa (Assucena), Marcos Boschini. São Paulo manda maracujás, limões e mandioquinha. As mangas vêm da Bahia, que também envia mamão papaia. Minas Gerais contribui com abóbora japonesa e tomate.
A pilha de batatas pode parecer igual o ano todo, mas a origem delas nem sempre é a mesma. Em janeiro, Brasília recebe encomendas do Paraná. Em maio, boa parte do tubérculo vem de cidades do DF. As batatas goianas ocupam as gôndolas dos sacolões entre agosto e setembro. A mudança é para conquistar os compradores. ;O consumidor quer qualidade, às vezes mais do que preço, então temos que procurar um bom produto;, completa Marcos. Segundo ele, pelo menos 80% das hortaliças, frutas e verduras consumidas no DF passam pela Ceasa.
Sem fronteiras
Os itens são encomendados em qualquer lugar do mundo para não faltar nada na despensa da população. Certa vez, a safra de cebolas no Brasil estava tão ruim que o produto veio da Nova Zelândia para abastecer os mercados da cidade. Marcos acaba de receber um carregamento de alho cultivado na China porque o preço do nacional estava alto. A carga saiu de Shandong em um navio e levou 30 dias de viagem. ;O alho chinês é maior e tem visual melhor, fica mais fácil vender. A dona de casa compra com os olhos;, brinca.
Na banca de abacaxis gerenciada por José Carneiro, 51 anos, a origem dos alimentos é variada. Ele faz a encomenda no estado com a produção de melhor qualidade em cada período do ano. Pode ser da Paraíba, de Tocantins ou de Minas Gerais. Quem visitar o local hoje deve encontrar os abacaxis baianos que desembarcaram em Brasília na manhã de quinta-feira. Foram dois dias de viagem a bordo de um caminhão com capacidade para 8 mil frutas. ;Os abacaxis da Bahia e de Tocantins têm qualidade melhor;, comenta José. A carga é distribuída para restaurantes, lanchonetes, hotéis e sacolões do DF.
O trajeto Paraíba/Brasília é moleza se comparado à viagem que as nectarinas espanholas enfrentam. Como a produção da fruta no Brasil só começa em outubro, os comerciantes mandam trazer carregamentos da Europa. ;A Espanha está produzindo há um mês e meio;, justificou o gerente comercial Cleiton Lima de Menezes, 27 anos. As nectarinas pegam um navio no velho continente, cruzam o Oceano Atlântico e desembarcam em portos da Região Sudeste. A travessia dura entre 15 e 20 dias. Se tudo der certo na alfândega, elas pegam a estrada e levam mais dois dias em direção a Brasília.
Antes de o dia clarear, Cleiton está pronto para receber as caixas de nectarina. Ele tem 10 dias para vender todo o estoque ; o comprador tem mais 10 dias para consumi-las. A Espanha não é a única fornecedora internacional do gerente. Ele compra pêras de Portugal e maçãs dos Estados Unidos, Argentina ou Chile. Da Argentina para cá, são de oito a 10 dias de viagem. As maçãs vêm por terra em um caminhão com câmara fria, o que prolonga a integridade. ;As frutas do Chile têm um sabor, as da Europa outro, as do Brasil têm outro. Elas têm diferença no tamanho e no sabor. Mas quando a produção do Brasil está em alta, as daqui são melhores;, explicou o gerente.