Jornal Correio Braziliense

Cidades

Carvoaria ilegal vai abaixo em Cristalina (GO)

Operação de combate ao desmatamento do cerrado destrói, em Cristalina (GO), 19 fornos cuja licença estava vencida desde 2007

"O cerrado agora tem a mesma prioridade da Amazônia. Vamos frear o desmatamento.; O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse a frase logo após descer de um trator na área rural de Cristalina (GO), a 100km de Brasília. Ele acabara de acompanhar um servidor na derrubada de 19 fornos de uma carvoaria ilegal que funcionava ali desde 2005 e estava com a licença vencida havia dois anos. A ação é só o início dos esforços para reduzir drasticamente um desmatamento que chega a 20 mil quilômetros quadrados por ano e já destruiu metade do bioma típico do Planalto Central. Minc quer barrar o crédito governamental às cidades que mais desmatam e proibir a comercialização de carvão sem certificado de origem. O ministro fez questão de acompanhar a fiscalização, que ontem contou com o apoio de 22 policiais militares ambientais de Goiás e servidores do próprio ministério e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). ;Quero ver com meus próprios olhos o trabalho e incentivar o pessoal que passa dificuldade para combater esses crimes ambientais;, disse Minc. A comitiva rumou para Cristalina bem cedo, por volta das 7h de ontem. Apontado como o responsável pela irregularidade, Sebastião Pinto Brandão foi pego de surpresa pelos fiscais. De cabeça baixa, escutou o sermão do ministro. ;Desmatar plantas nativas é crime, assim como operar uma carvoaria sem licença. O senhor sabia disso?;, questionou Minc. ;O senhor será levado à delegacia de Cristalina e terá de responder por crime ambiental. Será multado e está sujeito à cadeia. Não pensou nisso antes?;, acrescentou, diante do silêncio do homem identificado como dono da Fazenda Buritizal, onde ocorreu o flagrante. A fazenda já está bem devastada. Há pouca vegetação nativa nos 4km que separam a porteira da carvoaria irregular. Sobra pasto. Os fornos tinham capacidade para transformar em carvão dois hectares de mata virgem por semana. Neles, foram encontradas espécies como Sucupira, Pau Terra e Barbatimão. Cobertura nativa Para combater a destruição do cerrado, o Ministério do Meio Ambiente pretende colocar em prática ações já aplicadas na região Norte. A ideia é cortar o crédito para as 60 cidades que menos preservam a vegetação. ;Além disso, quero que o carvão só seja vendido para o consumidor com garantia de origem. Espero conseguir isso até o fim do ano;, adiantou Minc, que também prometeu instalar barreiras ambientais nas principais estradas do Centro-Oeste para conferir a documentação de cargas de madeira e carvão. O cerrado já perdeu 48% de sua cobertura nativa. Hoje, o principal foco de preocupação dos órgãos ambientais é o oeste da Bahia, na divisa com Tocantins e Goiás. O problema ali é a expansão das plantações de soja mais do que o carvão ou a pecuária. A operação em Cristalina foi a terceira realizada na região do cerrado. A primeira ocorreu no ano passado, justamente na Bahia. A segunda, há dois meses, em outras carvoarias de Goiás. Ontem, o dono da fazenda teve um trator apreendido e receberá multa ; o valor ainda foi definido.
Cadeia
Retirar a mata nativa é crime e pode render pena de até três anos de prisão, além de multa de R$ 50 mil a R$ 10 milhões. As punições estão previstas na Lei Federal n; 9.605/98, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais, legislação que aproximou o Brasil do que há de mais avançado sobre o assunto no mundo.