A polícia goiana encontrou ontem em Formosa (GO) o que acredita serem os restos mortais de um fazendeiro da cidade desaparecido há seis meses. A ossada estava em um poço abandonado em terreno baldio, com 12m de profundidade, na periferia do município de 90 mil habitantes situado a 79km de Brasília. O local foi apontado por um dos acusados de envolvimento no caso, preso há três meses. Ele confessou o sequestro da vítima. Diz ter feito isso a mando de outra pessoa e com participação de um segundo homem, o autor dos disparos que teriam matado o produtor rural. As identidades são mantidas em sigilo, mas agentes e delegados trabalham com a hipótese de participação de policiais militares.
[SAIBAMAIS]José Eduardo Ferreira, 56 anos, que também é médico veterinário, foi visto pela última vez em 10 de março, quando saiu de casa pela manhã para visitar duas lojas de produtos agropecuários em Cabeceiras de Goiás, a 70km de Formosa. Retornaria a sua fazenda no mesmo dia. Desde então, os parentes não têm mais notícias dele. Policiais civis encontraram o carro de José Eduardo abandonado perto do Setor Vale do Amanhecer, área rural de Formosa.
O Fiat Uno estava com as portas abertas, sem ocupantes. Moradores afirmaram à polícia ter visto um Fox e um Astra, ambos brancos, perto do Uno. Nenhum Fox ainda foi apreendido. No entanto, um Astra igual ao usado no rapto foi encontrado em poder de um soldado da PM goiana. Ele alega ter comprado o veículo de João Batista Brandão Amerces, 36 anos, o homem preso sob acusação de participação no sumiço e provável assassinato do fazendeiro.
Em depoimento, testemunhas contaram ter presenciado José Eduardo reagir à abordagem de quatro homens e sair do bagageiro do Astra em uma tentativa de fuga. Elas reconheceram João Batista como o motorista do veículo. Contaram que João correu atrás de José Eduardo. João agrediu o fazendeiro e o colocou de volta no Astra, ainda segundo testemunhas.
Com base nas informações, a Polícia Civil de Formosa prendeu João Batista e América Cristina Gontijo de Sousa, 29, em 24 de março, por ordem da Justiça goiana. Os dois estão no cárcere da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Goiânia, desde 25 de março. Em 3 de abril, a Justiça acatou o pedido da polícia e expediu a prisão preventiva, que prorrogou a permanência de ambos na cadeia.
No boletim de ocorrência, o filho caçula do fazendeiro, Fernando Henrique Ferreira, 25, disse que o pai esteve, no dia do desaparecimento, em um bar de Cabeceiras bebendo com amigos. Lá, o fazendeiro teria recebido a ligação de uma mulher e combinado de se encontrar com ela em Formosa. Para a polícia, trata-se de América de Sousa, que se apresentava como policial civil, sem nunca ter sido.
Escavações
No fim da tarde de ontem, policiais da Deic, agentes da delegacia de Formosa e bombeiros militares foram ao Parque União, bairro afastado do centro da cidade, conferir a informação passada por João Batista após uma série de interrogatórios. ;Como achamos a ossada justamente onde ele (o acusado) indicou, isso nos leva a crer que se trata do José Eduardo. O João não assumiria a morte de outro homem para enfrentar dois processos por homicídio;, afirmou o delegado Douglas Pedrosa, titular da Deic.
O poço fica perto da casa de João. Como se tratava de local ermo, o delegado suspendeu a escavação assim que escureceu, após retirada do tronco e membros inferiores. ;Havia ainda uma bota parecida com as que a vítima costuma usar, segundo os parentes;, contou o delegado. ;O trabalho reinicia assim que o sol aparecer (hoje). Precisamos encontrar o crânio e os membros superiores;, completou.
Pedrosa informou os familiares de José Eduardo sobre a ossada e da possibilidade de se tratar dos restos mortais do fazendeiro, no fim da tarde. No entanto, os parentes preferiram não ir ao local. José Eduardo Ferreira Júnior, 28, filho mais velho do homem desaparecido, demonstrou cautela. ;Preferimos esperar um laudo técnico. Já estamos com radiografia da arcada dentária dele para uma provável perícia;, comentou.