;A sociedade e o próprio mercado de trabalho exigem boa aparência e que as pessoas estejam bem cuidadas. Fazer a unha, por exemplo, é visto como um compromisso semanal pelas mulheres. Faz parte da cultura brasileira;, afirma a presidente do Sindicato dos Salões e Institutos de Beleza, Barbeiros, Cabeleireiros e Profissionais Autônomos na Área de Beleza do DF, Elaine Furtado.
Com uma demanda considerável, os preços são reajustados com frequência. Um corte de cabelo no Distrito Federal pode chegar a R$ 200. Fazer as unhas dos pés e das mãos pode custar mais de R$ 40. Além de elevados, os valores sobem acima da média do mercado. Somente nas últimas quatro semanas, a média cobrada pelos salões deu um salto de 1,72%, bem acima da inflação acumulada no período, tanto no DF quanto na média nacional, de 0,51%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S). O movimento foi contrário ao verificado nas outras seis capitais pesquisadas pela FGV. Na média nacional, os salões ficaram 0,27% mais caros no último mês.
Os números da FGV mostram que o reajuste é mesmo constante. A elevação verificada em 2009 equivale a quase o dobro da implementada na média nacional. Fazer a unha e cortar, tingir ou escovar o cabelo ficou 5,06% mais oneroso desde o início do ano. Enquanto no país o aumento foi de 2,59%. Desde janeiro, os 450 produtos e serviços pesquisados pela FGV ficaram 3,22% mais caros. Nos últimos 12 meses, a inflação geral foi de 4,51%, também superior à variação efetuada nos produtos e serviços dos salões de beleza, de 6,78%, no DF, e de 5,16% no Brasil.
Prioridade
A explicação para o grande comprometimento com o gasto supérfluo está na renda elevada da população. É a maior do país, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego. O levantamento mensal do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que cada trabalhador brasiliense ganha, em média, R$ 1.839, 50% mais do que os moradores de São Paulo, que ficam em segundo lugar no ranking.
;Quanto mais se ganha, mais se incorpora ao orçamento outros tipos de bens e serviços, fora os essenciais;, explica o economista da FGV André Braz, responsável pelo IPC-S. Sobre o gasto bem superior ao dispensado com a dupla mais famosa das cozinhas brasileiras, ele explica: ;Se o trabalhador gasta uma parcela grande de sua renda com comida, significa que está com restrição orçamentária grande, ou seja, está empatando tudo o que ganha para comer, a necessidade mais básica. Se ganha muito, não vai comer mais porque tem um ganho maior. Compra a mesma coisa, só que com mais facilidade, e tem muita renda para gastar, por exemplo, em salões de beleza.;
Cuidar da própria beleza é tão importante para a dona de casa Cristina Lima dos Santos, 24 anos moradora de Ceilândia, que o dinheiro dispensado para o salão chega a ser considerado sagrado. Todos os meses, ela gasta cerca de R$ 100 para fazer as unhas, hidratação, pintar e escovar os cabelos. O valor é o mesmo que ela e o marido, autônomo, gastam para pagar a escola do filho mais novo, de três anos. ;Normalmente até faço a unha sozinha, mas cuidar do cabelo é mais difícil. Quando preciso, pego o dinheiro com o meu marido, ele entende e nem reclama;, conta. A dona do salão que Cristina frequenta, Deilsa Gomes da Silva, comemora a fidelidade das clientes. Há quatro anos, ela abriu o salão e, na sua opinião, o movimento é satisfatório. Pela escova, cobra R$ 10, e pela unha, R$ 14, o pé e a mão. ;Para mulher não tem crise econômica que diminua o dinheiro do salão. Quem depende do marido é menos estável, tem que negociar. Mas quem trabalha fora sempre vem.;
Variação de preços
O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) é calculado pela Fundação Getulio Vargas e mede a variação de preços em Brasília e em seis regiões metropolitanas. Semanalmente, são pesquisados os valores de 450 produtos e serviços, agrupados em sete classes de despesas. Os pesos atribuídos a esses itens espelham os gastos das famílias com renda mensal de até 33 salários mínimos.
Estudo mensal
A Pesquisa de Emprego e Desemprego é realizada todos os meses em 19 regiões administrativas do Distrito Federal e em seis regiões metropolitanas. O levantamento é feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em cerca de 2,9 mil domicílios e coleta informações sobre todos os moradores com 10 anos ou mais de idade.
; Profissionais com nível superior
Com um vantajoso mercado consumidor, a oferta de profissionais também é crescente. Atualmente, mais de 15 mil pessoas estão empregadas no segmento, segundo estimativa do Sindicato dos Salões e Institutos de Beleza, Barbeiros, Cabeleireiros e Profissionais Autônomos na Área de Beleza do Distrito Federal. E não faltam interessados em trabalhar na área. Nos últimos quatro anos, 2.728 pessoas fizeram os cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) para se tornarem manicures e pedicures. Outros 784 brasilienses fizeram o treinamento para cabeleireiro, a um custo que chega a R$ 1,2 mil.
Quem quer se profissionalizar ainda mais, tem uma nova opção. Desde fevereiro deste ano, é oferecido na cidade um curso de nível superior na área. O curso de visagismo e estética capilar, autorizado pelo Ministério da Educação, é ministrado pelo Centro Universitário do Distrito Federal (UDF). Com duração de dois anos, a um custo de até R$ 900 por mês, o curso é ministrado por professores da faculdade e profissionais das equipes Hélio Diffusion des Coiffeur e Metamorphose Cabelo & Maquiagem. Ao todo, 60 alunos estão matriculados até o momento.