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Vitoriosa em torneio internacional de educação profissional, estudante dá a largada para uma carreira de sucesso

Helena Quintas Simões, 22 anos, era uma adolescente de cabelos pintados ora de roxo, ora de azul, até pouco tempo atrás. A mãe dela, a engenheira florestal Maria José Quintas, se preocupava com o futuro profissional da filha por causa da aparência rebelde. ;Menina, onde é que você vai arrumar emprego com esta cor de cabelo?;, perguntava Maria José. Para alívio da mãe, a vida profissional de Helena começou mais cedo do que todos imaginavam. Ela demonstrou habilidade na área de design gráfico e segue por rumos promissores após ser escolhida como a melhor do Brasil nessa especialidade, na última edição das Olimpíadas do Conhecimento, concurso nacional realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.

Helena, moradora de Vicente Pires, tem também no currículo a participação e premiação no torneio internacional de educação profissional World Skills, que ocorreu de 1; a 7 de setembro, no Canadá, de onde acaba de chegar (leia Para saber mais). Ela era a única mulher da delegação brasiliense nessa categoria. A jovem se matriculou no curso de design gráfico do Senai em 2007. Desde então, treinava para ir ao campeonato mundial que ocorreu este mês. Helena, agora com os cabelos pintados de preto e com um corte tão moderno como seus desenhos, voltou ao Brasil com certificado de excelência na competição e classificada em 8; lugar entre os 20 competidores que concorreram na categoria design gráfico.

Com quatro ouros, quatro pratas, dois bronzes e cinco certificados de excelência, o Brasil ficou em 3; lugar em números de medalhas na maior competição profissional do mundo. O desempenho da delegação brasileira ; composta por 22 alunos do Senai e dois do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), competindo em apenas 20 das 42 ocupações ;fez com que o país ficasse atrás somente da Coreia do Sul e Irlanda, ultrapassando o número de medalhas de delegações maiores, como a Suíça e França.

A disputa contou com 580 participantes, no total. Cada um tinha 22 horas para apresentar soluções para problemas colocados por grandes empresas de vários setores. Helena teve de elaborar um cartão-postal para a organização não governamental War Child, voltada a auxiliar crianças que viveram em guerras. A peça da brasileira se destacou por ser uma das mais coloridas. A profissional decidiu usar muitos tons, pois o postal seria enviado aos colaboradores como forma de agradecimento pela ajuda financeira. ;Também gosto muito de preto e branco, mas sou apaixonada por cores. Apostei na forma de expressão brasileira, mas em uma linguagem universal;, acredita.

Olimpíada
Helena também montou um pôster, jogo de tabuleiro com embalagem, um calendário, um mascote para uma exposição de máscaras na Bélgica e a capa da edição de luxo de um livro. Todos os produtos serão usados pelas corporações. ;Fiz um ótimo portifólio e tive a chance de trabalhar na minha área preferida, que é desenvolvimento de embalagens. Tenho uma coleção enorme de caixas em casa;, diz. Entre os critérios para avaliar as ideias dos alunos, os jurados levaram em consideração se os projetos eram sustentáveis, executáveis e criativos. A comissão avaliadora era composta por professores dos cursos profissionalizantes e autoridades de cada setor de vários lugares do mundo.

Os grupos de alunos enviados para fora do país são selecionados por instituições de ensino técnico. Antes ir para a competição final, os jovens passam pela Olimpíada do Conhecimento, uma espécie de seleção dividida em cinco etapas: escolar, regional, nacional, prova de índice e, se necessário, desempate. Helena subiu ao topo do pódio em sua categoria, em julho do ano passado. O reconhecimento é a prova de que todo esforço da estudante valeu a pena. Ela saía cedo de Vicente Pires e ia ao Setor de Indústrias Gráficas para ter lições sobre ferramentas e técnicas de desenho. Só voltava à meia-noite, de ônibus. ;Era perigoso, mas, como fazia o que queria, eu não ligava muito para o cansaço e para a insegurança;, lembra. Atualmente, o curso de design gráfico é ministrado no Senai Taguatinga.

Boa aluna
Os competidores passam por uma seleção rígida ; afinal, as escolas custeiam todas as despesas dos estudantes por acreditar na capacidade deles de voltarem como vencedores. O prêmio, além de elevar o estudante à categoria de o melhor do mundo, é a viagem a outro país. Helena nunca tinha ido ao Canadá. ;Lá é quente e seco igual a Brasília. Aliás, é ainda mais seco. Saí daqui para fugir da seca e encontrei uma pior ainda;, brinca.

A designer atribui as qualidades que a levaram a ganhar o certificado de excelência e a medalha de melhor designer gráfica do Brasil aos pais. A criatividade, ela reconhece ter herdado do pai, o ator e diretor de teatro de bonecos Francisco Simões. A parte racional Helena atribui à mãe, que é engenheira. O Senai também reconhece o sucesso da jovem. ;Esta estudante certamente será disputada no mercado, pois é a melhor do país e a oitava melhor do mundo;, avalia o presidente da Fibra e do Conselho Regional do Senai-DF, Antônio Rocha. E ele está certo. Helena já tem vaga garantida para dar aulas no Senai e proposta de emprego em andamento. ;Quero passar meu conhecimento adiante;, finaliza a designer.

; Para saber mais
59 anos de disputa

World Skills é um torneio internacional de educação profissional promovido pela Internacional Vocation Training Organization (IVTO), realizado a cada dois anos, desde 1950. Seus principais objetivos são promover o intercâmbio entre jovens profissionais de várias regiões do mundo, troca de habilidades, experiências e inovações tecnológicas e despertar o espírito esportivo nos profissionais. Os jovens profissionais que competem neste torneio só podem participar uma vez, e os escolhidos devem ter, no máximo, 22 anos de idade.

A ideia da competição nasceu em 1946. Diante da necessidade de trabalhadores qualificados na Espanha, o então diretor-geral da Organização de Trabalhadores Espanhóis (OJE), António Elola Olaso, percebeu que era preciso criar um sistema eficaz de capacitação profissional. O pensamento tornou-se um projeto e despertou interesse de agências e empresas quando o centro de treinamento espanhol Virgem de La Paloma abraçou o projeto. A cada ano, o evento ocorre em um país diferente. Ainda não houve uma edição brasileira do World Skills.