Miguel tomava um remédio contra reumatismo (1)desde 2003. Os comprimidos podiam ser encontrados em qualquer drogaria. Mas o médico o aconselhou a procurar uma farmácia de manipulação, já que a receita é composta por duas substâncias fortes: alopurinol e (2)colchicina(3). Em 13 de abril de 2005, o paciente recebeu em casa o medicamento encomendado no laboratório goiano Natu Pharmu;s, na 102 Sul. Até então, a doença de Miguel estava sob controle. Mas quase uma hora e meia depois de tomar a primeira cápsula da nova cartela, teve crises de vômito e acabou levado ao Hospital Santa Luzia, no fim da Asa Sul. Morreu dois dias depois.
Até então, ninguém desconfiava que o remédio havia sido a causa da morte. Elenice passou o primeiro dia acompanhando o marido no hospital. Ao chegar em casa, à noite, tomou um comprimido do mesmo remédio para diminuir o incômodo sentido no corpo ao longo do dia. Sentiu os mesmos sintomas de Miguel no dia seguinte, quando seguiu às pressas ao Hospital do Exército. A mulher ficou em coma por 30 dias até morrer. ;Ainda tentamos fazer tudo para salvar a minha mãe porque desconfiávamos do que havia causado tudo. Mas o erro era muito grotesco e nada mais adiantava;, contou Eunice de Oliveira, uma das filhas do casal.
Provas
Os irmãos Eunice, Aida e Amílcar têm em mãos laudos da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e do Instituto de Medicina Legal de Estrasburgo, na França, conseguidos um ano após a morte dos pais. O exames confirmaram a superdosagem na fórmula feita sob encomenda. Com tais provas, a família entrou com dois processos no TJDF contra a Natu Pharmu;s: um penal e um cível. A ação penal, que cobrava punição dos responsáveis pela manipulação do remédio, acabou arquivada pelo Ministério Público do Distrito Federal depois de um acordo entre as partes.
O processo cível seguiu na Justiça. Com isso, a juíza responsável pelo caso, Maria Angélica Ribeiro Bazili, deu à família o direito de receber indenização de R$ 175 mil, além de R$ 7.128,44 para ressarcir os gastos com hospital e funeral do casal. Mas espera o dinheiro desde 14 de agosto do ano passado, quando o tribunal deu parecer favorável aos Oliveira. ;A farmácia, que cometeu uma negligência estúpida, continua funcionando. A demora na Justiça faz com que o sentimento de impunidade prevaleça;, reclamou Eunice.
A assessoria de imprensa do TJDF disse que qualquer decisão deve demorar. Primeiro, porque o trâmite de uma ação cível costuma ser mais lenta do que o de uma criminal. Também porque o advogado da Natu Pharmu;s entrou com um recurso contra a decisão do TJDF. Isso significa que o recurso deve ser julgado em todas as instâncias, antes de voltar à mão de um juiz. ;Não tem nada de novo nessa história. A gente vai recorrer para reverter esta sentença;, afirmou o defensor do laboratório, Michael Heder.
1 - Inflamações
Reumatismo é o nome dado a qualquer doença ligada às articulações, músculos, ligamentos e tendões, que acomete pessoas idosas. Mais de 200 fazem parte deste grupo, como a bursite, artrite, gota e o lúpus. O principal sintoma é a dor no local onde está inflamado. Durante as crises de dor, recomenda-se o uso de anti-inflamatórios e repouso.
2 - Inibidor
Alopurinol é um inibidor da produção de ácido úrico no corpo. Durante as crises de gota, o alopurinol geralmente é utilizado nas formas crônicas graves caracterizadas. Crises agudas podem ocorrer com mais frequência durante os primeiros meses de tratamento com alopurinol. Em alguns casos, é necessário utilizar também a substância colchicina.
3 - Alívio rápido
Colchicina é uma substância altamente venenosa, originalmente extraída de plantas. É usada atualmente para tratamento de gota, doença causada por excesso de ácido úrico nas articulações. O medicamento com base em colchicina proporciona alívio rápido a crises agudas de gota. E atualmente vem sendo investigado o seu uso potencial como uma droga anticancerígena.