Jornal Correio Braziliense

Cidades

Parque Burle Marx ganhará lagos artificiais e vias de trânsito para embelezar o local e facilitar a vida dos frequentadores

O projeto final do Parque de Uso Múltiplo (1) Burle Marx, que será construído entre a Asa Norte e o Setor Noroeste, está pronto. A Comissão Técnica de Acompanhamento e Avaliação (Cota), responsável pela aprovação dos estudos, deu ontem o aval para a última parte que faltava: o paisagismo. O plano de iluminação, distribuição da vegetação e de circulação de veículos e de pessoas chegou ontem à comissão. A paisagista Aline Fortes Figueiró assina o trabalho. Algumas estruturas previstas no projeto original, por exemplo, tiveram de ser alteradas. Uma das principais novidades será a construção de quatro lagos artificiais ao longo da área de lazer. Além de seguir o estilo do paisagista Roberto Burle Marx (2), com aproveitamento da vegetação nativa e presença de espelhos d'água, os reservatórios vão servir para amortecer o escoamento do sistema de águas pluviais da região. A construção do Noroeste, futuro bairro vizinho ao parque, fará com que a água da chuva desça para o Burle Marx com mais intensidade, principalmente por conta da impermeabilização exigida pelo asfalto. As lagoas, assim, servirão para conter a velocidade das águas e evitar erosões. Após passar por esses espaços, o fluxo seguirá para o Lago Paranoá. O caminho será traçado por meio de dutos subterrâneos, que conectarão os quatro tanques ao destino final. A maior lagoa deve ter 90 mil m², com cerca de 50cm a 70cm de profundidade. Os outros reservatórios devem ser menores e mais profundos. Aline acrescentou vegetação aquática especial no lago principal, que poderá ser contemplada de um mirante. A iluminação deve ser instalada de forma a privilegiar a visualização das plantas. A intenção da paisagista é fazer com que o projeto funcione como uma interpretação das obras de Burle Marx. Não quis imitá-las. Travessias Será possível atravessar de carro da Asa Norte ao Noroeste por dentro do parque, em duas pistas. Uma delas ficará entre a 913 e a 914 Norte. E a outra, na altura da 912 Norte. Na segunda, haverá um túnel para ligar os dois bairros. A outra via deve contar com um viaduto interno. Cinco acessos vão possibilitar a entrada na área verde, todos perto das quadras 900. O Parque Burle Marx terá 280 hectares. Desse espaço, 58 hectares estão reservados para Área de Preservação Permanente (APP). A ciclovia deve ter 16km de extensão. A construção do complexo foi anunciada várias vezes pelo governo local, mas nunca saiu do papel - o projeto existe há 19 anos. O início das obras estava previsto para o começo do ano passado. Mas o Tribunal de Contas do DF pediu a revisão de itens do edital, como o trecho onde não constava para onde a terra retirada do parque seria levada. Os projetistas adequaram o texto às exigências do órgão. Agora, o documento será revisado e entregue à Secretaria de Obras do DF até o fim do mês. Representantes da Novacap, Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do DF, Instituto Brasília Ambiental, Terracap, Secretaria de Governo e Administração Regional de Brasília participam da Cota. A previsão é que a primeira etapa comece a ser erguida no fim de 2010. A estrutura completa só deve ficar pronta em 2013, de acordo com o presidente da Cota e gerente de projetos do GDF, Ênio Dutra Fernandes. Segundo ele, o projeto é um dos mais importantes do GDF. "O Parque Burle Marx é a compensação ecológica do Noroeste (3). Por essa razão, tem de ser prioridade", disse. A proposta urbanística prevê a construção de museus, espaços culturais, praças e áreas de lazer, como oito quadras de esporte e oito campos de futebol. Entre as atrações, haverá uma fonte interativa, na qual as pessoas poderão se banhar. E ainda a Praça do Povo Brasileiro, com desenho no chão de um mapa do Brasil, com 100m de comprimento e 100m de largura. Um calçadão de pedras portuguesas também vai chamar a atenção dos frequentadores. Ficará entre o Burle Marx e o Noroeste. O centro de lazer será o segundo maior do DF. Perderá só para o Parque da Cidade, que tem 320 hectares. As comparações entre os dois são inevitáveis, mas Fernandes defendeu que os dois espaços são totalmente diferentes. "O que tentamos fazer no Burle Marx é exatamente o contrário do que ocorreu no Parque da Cidade. Não vamos desmatar e, sim, manter a vegetação local, como os ipês", explicou o gerente do projeto. O anteprojeto foi elaborado pelo ex-governador do Paraná Jaime Lerner. 1 - Preservação Os parques de uso múltiplo têm território dividido em duas áreas: uma aberta a visitação e recreação e outra reservada apenas para pesquisas e conservação. Nesses locais, o desenvolvimento sustentável das atividades dentro do parque é o maior objetivo. 2 - Várias habilidades Além de ser um dos maiores paisagistas do mundo, o artista desenvolveu trabalhos também como desenhista, pintor, tapeceiro, ceramista, cantor e criador de joias, entre outras atividades. Nasceu em São Paulo, em 4 de agosto de 1909. Burle Marx faleceu em 1994, no Rio de Janeiro, aos 84 anos. Em 2009, comemora-se o centenário do nascimento desse artista. 3 - Novo bairro O Noroeste tem 821 hectares de extensão e será erguido na última região disponível para construção dentro do perímetro tombado de Brasília. O bairro terá um setor comercial a cada duas quadras residenciais, sem área econômica. Os primeiros lotes começaram a ser licitados pela Terracap em março deste ano. As obras de infraestrutura, no entanto, ainda não começaram. Para saber mais Arte na natureza Paisagismo é arte e a técnica de planejar e organizar a paisagem para possibilitar ao homem maior aproveitamento e fruição de grandes espaços externos de uso coletivo. O estudo serve para a preparação e realização de paisagens como complemento arquitetônico. O projeto paisagístico se desenvolve a partir da conjugação de elementos naturais com outros, como seleção e distribuição da vegetação compatível, emprego do material adequado (pedra, água, concreto). O paisagista pensa também na colocação das estruturas arquitetônicas, da iluminação e circulação dentro do espaço.