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Cúpula nacional do PMDB tenta encontrar solução para crise no DF

Líderes do PMDB na Câmara dos Deputados demonstraram preocupação com a crise que ameaça espatifar o partido no Distrito Federal. Eles se reuniram ontem para decidir como vão se posicionar na rixa entre o ex-governador Joaquim Roriz e o presidente regional da sigla, Tadeu Filippelli. Para operar pelo improvável ; o do menor desgaste possível para o partido ;, integrantes da cúpula peemedebista pretendem atuar como bombeiros a fim de esfriar a temperatura do atrito entre as duas partes que lutam pelo controle da legenda na capital federal.

Na avaliação de lideranças nacionais do PMDB, o endurecimento da disputa entre Roriz e Filippelli forçará a cúpula peemedebista a escolher um dos dois lados, o que trará prejuízo para o partido seja qual for o desfecho. ;Vamos batalhar para o enlace. Essa é uma briga que dificilmente terá um vencedor, a tendência é que todo mundo saia perdendo, inclusive o partido, por isso a melhor opção é o entendimento;, contemporiza o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN).

O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (SP), tem a mesma opinião do líder e se mostrou disposto a participar pessoalmente das negociações no DF com a finalidade de construir um pacto entre os dois grupos que se digladiam no cenário político local. Temer acertou com Eduardo Alves, que, a partir de hoje, vai chamar para conversas um a um os deputados locais eleitos pelo PMDB, além de integrantes da executiva regional do partido. ;Vamos construir esse entendimento na base, colhendo uma a uma das opiniões;, reforça Eduardo Alves.

Embate
Por enquanto, o presidente da Câmara tenta evitar se posicionar a favor de um ou de outro lado. Tem conversado tanto com Tadeu Filippelli quanto com o relator do processo de intervenção no Conselho de Ética, Lázaro Barbosa, considerado um aliado de Roriz. Mas a disposição de Temer, do líder Eduardo Alves, além do vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Eliseu Padilha(1), para amainar o embate entre duas lideranças do partido no DF favorece Tadeu Filippelli.

Para Filippelli, há dois cenários possíveis. Um no qual Roriz deixa o partido para não arriscar a candidatura em 2010. E o segundo ; que com o desenrolar da briga está cada vez mais improvável ; no qual os dois costurem um acordo mais próximo às eleições. Nos dois casos, quanto mais o presidente do PMDB-DF conseguir adiar o duelo, melhor para ele. Joaquim Roriz, por sua vez, tem mostrado que não se contentará com a promessa de apoio no futuro. Está disposto ao tudo ou nada para arrancar do partido uma posição sobre a sua candidatura.

1 - Reunião
Padilha, Temer, Henrique Alves e Filippelli se reuniram na Câmara ontem para tratar do assunto da intervenção e do pedido de dissolução apresentado pelo grupo ligado a Roriz.

ENTENDA O CASO
Pedido de intervenção começou em junho

O primeiro sinal da intenção de Joaquim Roriz em medir força com o deputado federal Tadeu Filippelli se deu por meio do pedido de intervenção no PMDB, aberto por iniciativa do deputado federal Laerte Bessa. Aliado do ex-governador Roriz, o parlamentar ingressou com o processo no Conselho de Ética do partido em junho.

Com a atitude, Roriz tenta garantir o suporte do PMDB para que se lance candidato ao Governo do Distrito Federal em 2010. A dúvida do ex-governador se terá ou não legenda se intensificou com a ida de Filippelli para a base de apoio de José Roberto Arruda (DEM). O presidente do partido no DF tem planos de se candidatar ao Senado com o apoio do atual governador.

Mas também não descarta a hipótese de entendimento com o ex-governador no futuro. Tanto é assim que alega formalmente em sua defesa no processo de intervenção que nunca se manifestou publicamente contra a indicação de Roriz para o GDF, mas afirma que, um ano antes das eleições, não é o momento para se discutir a chapa que concorrerá ao governo.

Os argumentos são desprezados por Roriz, que ameaça deixar a legenda até setembro, caso não obtenha do partido a certeza de apoio nas próximas eleições. A demonstração de que o ex-governador está disposto ao tudo ou nada veio com a provocação do diretório nacional para a rixa local. Mais uma vez, Laerte Bessa foi orientado a entrar com pedido de dissolução, dessa vez no diretório nacional da legenda. Nas duas instâncias, Roriz conta com aliados. Lázaro Barbosa no processo de intervenção e Íris de Araújo, no caso de dissolução.

Mas os aliados de Roriz podem não ser suficientes para garanti-lo nessa queda de braço, já que de um lado o partido está dividido entre o peso de um ex-governador com potencial em 2010 e a posição de destaque de Filippelli, que cresceu na atuação no Congresso, com a presidência da Comissão de Constituição e Justiça e ganhou a simpatia de outras lideranças do partido. Num duelo, portanto, o currículo dos dois caciques locais pode não ser o critério para encerrar a disputa.

A tentativa de lideranças do partido em resolver o assunto pela conciliação vem justamente da conclusão de que pender para qualquer um dos lados pode desfalcar a legenda no ano que vem. Com esse raciocínio, representantes do PMDB na Câmara dos Deputados tentam montar uma estratégia que abra caminho para a reconciliação.