Brasília cresce mais que o resto do país

O IBGE projeta um aumento na população do Distrito Federal de 1,94% este ano. Número representa o dobro da média brasileira

Os pares de chinelo deixados na frente da porta do barraco da dona de casa Tatiane de Jesus Alves, 28 anos, revelam a quantidade de pessoas que vivem na pequena construção na Cidade Estrutural. Ao todo são nove: sete crianças, com idade entre 2 e 12 anos, e dois adultos. ;Todos nasceram aqui na antiga vila. Quando cheguei nessa parte da Estrutural não tinha quase barraco. Olha só como está hoje;, observa a mãe. A numerosa família é só um retrato do atual crescimento populacional do Distrito Federal, que é o dobro da média nacional, segundo a estimativa deste ano divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2008, o DF tinha 2.557.158 de habitantes. Este ano, a projeção(1) mostra que há 2.606.885 de pessoas. O aumento é de 1,94%. Em número absolutos, isso representa quase a mesma população de Brazlândia. No Brasil, a média de crescimento, em relação ao mesmo período, ficou em 0,98%.

Quando o comparativo é o crescimento registrado nos 27 estados brasileiros, o DF está no segundo lugar e só perde para o Amapá, que ocupa o topo da lista de evolução demográfica, com 2,19%. Mas em relação ao crescimento dos 10 municípios brasileiros mais populosos, revelado pela estimativa do IBGE, o DF é o líder ; o seu crescimento ultrapassa localidades como Manaus (AM), Salvador (BA) e Curitiba (PR). Apesar de apresentar as mais altas posições de crescimento populacional em relação a outros lugares e até o país, o DF já teve registros surpreendentes no passado. Na construção da capital, por exemplo, entre o fim da década de 1950 e início dos anos 1960, foram registrados 128% de crescimento populacional ao ano. Desde então, esse índice recorde vem caindo e, a partir da década de 1990, mostra sinais de estabilidade, como explica o diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), Sérgio Magalhães.

;A taxa de crescimento populacional se estabiliza e gira em torno dos 1,9% e 2% ao ano, muito abaixo do que já foi registrado, mas ainda acima da média nacional. Diferentemente do que ocorreu no passado, hoje o fenômeno é o crescimento vegetativo da população, vinculado com o surgimento de novas regiões administrativas. As pessoas mais jovens, que estão em idade fértil, são os ocupantes dessas novas áreas;, explica ele. Magalhães justifica que a taxa de migração vem diminuindo e a genuína segunda geração brasiliense está adensando as cidades. Vicente Pires, Estrutural, Varjão, além das mais antigas regiões administrativas, como Samambaia, Taguatinga e Ceilândia, são localidades cuja a população cresce a cada dia.

Nova geração
Moradora de Vicente Pires há sete anos, a professora Ayesca Carvalho de Matos, 34, ainda comemora a chegada de Anna Beatriz, de 1 ano e dois meses. O tempo em que está morando na mais recente região administrativa do Distrito Federal é o que ela esperou para ter a primeira filha, que nasceu em abril do ano passado e está dentro das estimativas de aumento de população do IBGE. ;Minha vizinha tem um bebê e conheço muita gente que está tendo filhos aqui em Vicente Pires. O problema que vivemos hoje é a falta de infraestrutura da região;, reclama a professora.

A crítica de Ayesca Matos é a reforçada pelo geógrafo e professor do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais da Universidade de Brasília (UnB) Aldo Paviani. Ele ressalta que o crescimento populacional do DF precisa ser acompanhado por políticas públicas nas áreas de saúde, educação, habitação, transportes e geração de empregos. ;A cidade tem que se adequar à velocidade de seu crescimento. Em todas as esferas, seja na questão da geração de empregos e nas novas áreas de habitação;, diz.


1 - Fundo
Os censos demográficos são feitos a cada 10 anos no Brasil. As estimativas populacionais são fundamentais para o cálculo de indicadores econômicos e sociodemográfico durante o intervalo intercensitário. Esses parâmetros são usados pelo Tribunal de Contas da União na distribuição do Fundo de Participação de Estados e Municípios, que é o repasse de verba do governo federal para outras unidades federativas.

De olho no futuro
A expectativa de alcançar os 2,5 milhões de habitantes em 2008 estava prevista no Plano de Ordenamento Territorial (Pdot) do DF, segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma), Cássio Taniguchi. Para os próximos 10 anos, o plano espera o aumento de mais 400 mil pessoas. Para acomodar três milhões de habitantes no futuro, as novas moradias planejadas pelo governo serão instaladas ao longo dos eixos dos sistemas de transportes. Essa estratégia já está em andamento em cidades como Samambaia e Ceilândia, explica Taniguchi. ;Trabalhamos como o surgimento de mais 49 mil famílias nos próximos quatro, cinco anos. Em três anos, pretendemos oferecer de 10 a 12 mil habitações acompanhadas da infraestrutura. Temos de oferecer condições dignas à população;, afirma ele.

O secretário ressalta que os desafios que o governo enfrentará no futuro estão previstos no Pdot. ;A Cidade Digital, por exemplo, será uma fonte de geração de emprego. Além disso, é necessário que haja a descentralização do Plano Piloto, e que cidades como Ceilândia, Samambaia, Recanto das Emas e Santa Maria também tenham oferta de emprego e renda;, diz.

A estimativa do IBGE revela que o Brasil tem 191,5 milhões de habitantes espalhados por 27 estados e 5.565 municípios. São Paulo é o mais populoso, com 11 milhões de habitantes (veja quadro), seguido pelo Rio de Janeiro (6,2 milhões) e Salvador (3 milhões). Belo Horizonte (2,5 milhões) esteve no quarto lugar em 2000 e, a partir de 2007, caiu para sexto, tendo sido ultrapassado pelo DF e Fortaleza que, desde então, permanecem nos 4; e 5; lugares, respectivamente. A projeção foi feita em 1; de julho de 2009.