Jornal Correio Braziliense

Cidades

Graças à atuação dos brigadistas, Parque Nacional não teve registro de incêndios este ano

Vigilância ostensiva e produção de aceiros negros impedem a entrada das chamas na reserva

Olhos atentos varrem o horizonte de cima de quatro torres de vigilância espalhadas pelo Parque Nacional de Brasília(1). Ao menor sinal de fumaça, comunicações via rádio colocam equipes de brigadistas em estado de alerta. Eles avançam em carros destacados para percorrer estradas de terra ou de asfalto, prontos para combater o fogo, se necessário. Assim funciona o serviço de prevenção de incêndio dentro da reserva ecológica, que em 2007 teve aproximadamente 11 mil hectares de área devastada devido a uma queimada que durou quatro dias.

Na ocasião, a queima do lixo em uma chácara próxima ao Parque Nacional deu início ao incêndio. A diretora da reserva, Maria Helena Reinhardt, ressaltou que ações humanas como essa são as principais causas de queimadas dentro de áreas de preservação ambiental. ;Alguém inicia o fogo do lado de fora e o vento traz as chamas para dentro do parque;, detalhou. Além da vigilância das bordas do parque, os brigadistas concluíram ontem outro trabalho de prevenção: a produção de aceiros negros ao redor de toda a reserva.

Equipada com queimadores pinga-fogo, bombas costais de água, abafadores e um caminhão-pipa, a equipe de brigadistas se encarregou de atear fogo nas matas que margeiam o parque por uma extensão aproximada de 90 quilômetros e a apagar as chamas em seguida. ;Dessa forma, criamos uma área queimada, de 20 a 50 metros, que dificulta a passagem do fogo para dentro da reserva;, explicou João Batista Lemos, chefe dos brigadistas do parque. O trabalho, que pode parecer simples à primeira vista, envolve uma série de variáveis, desde direcionamento do vento à possibilidade de reignição das chamas. ;É importante ficar de olho para garantir que o fogo não retorne e adentre o parque;, ressaltou João.

Os brigadistas ainda fizeram aceiros roçados, com uso de máquinas, em alguns pontos mais críticos no interior do parque. A produção dos aceiros levou 16 dias para ser concluída. Mas os trabalhos de prevenção já surtiram efeito. ;Ainda não tivemos registro de nenhum incêndio dentro do parque neste ano;, revelou Maria Helena. No ano passado, ocorreram dois incêndios na reserva, que consumiram, no total, 20 hectares.

A mesma sorte não se estendeu para a Reserva Biológica da Contagem (Rebio), contígua ao Parque Nacional. Só neste ano, 21 queimadas foram registradas lá. O fogo devastou uma área aproximada de 10 hectares nas investidas contínuas que o parque tem sofrido. A quantidade de incêndios também já é maior do que a registrada no ano passado, quando as chamas se espalharam por diversos pontos da reserva 18 vezes. ;Nosso maior temor é de que os incêndios prejudiquem os recursos hídricos presentes na nossa área. Um dos focos de incêndio chegou a ameaçar algumas de nossas nascentes este ano;, ressaltou a chefe da Rebio, Isabela Deiss de Farias.

A Rebio também conta com brigadistas próprios. Uma das maiores preocupações da reserva, assim como do Parque Nacional, tem sido a conscientização das comunidades mais próximas das áreas protegidas da importância de se preservar o meio ambiente. ;Temos distribuído panfletos com alternativas à queima do lixo, que ainda é a principal causa dos princípios de incêndio em regiões de preservação ambiental;, afirmou Isabela.

1 - Área expandida
Criado em 29 de novembro de 1961, o Parque Nacional de Brasília tinha inicialmente uma área de 30 mil hectares. Mas, já na época, previa-se um aumento de 12 mil hectares em sua área inicial para garantir a existência de corredores ecológicos e a subsistência da fauna e da flora da região. Essa expansão ocorreu apenas em 2006, quando a área total do parque passou de 30 mil para 42 mil hectares.