Morre a primeira vítima de gripe suína no DF

Católico fervoroso, Carlos Fernando Noronha era um dos membros mais atuantes na Paróquia Nossa Senhora da Assunção, em Águas Claras. Pai de dois filhos e casado havia 25 anos, dividia o tempo entre a casa, a igreja e o trabalho como analista de sistemas numa empresa que terceirizava serviços de informática para o Banco de Brasília (BRB). Carlos teria passado o Dia dos Pais com a família, como sempre fez, se não tivesse sido infectado pelo vírus da gripe A (H1N1), conhecida também como gripe suína. Ele morreu às 6h de ontem, aos 50 anos, no Hospital Anchieta, em Taguatinga, vítima de grave pneumonia resultante da ação do novo vírus. É o primeiro caso confirmado de óbito pela doença no Distrito Federal.

A Secretaria de Saúde informou ao Correio que foi notificada oficialmente sobre a morte no fim da manhã pelo Anchieta. E confirmou que o paciente tinha a gripe. De acordo com o hospital, o resultado do exame que identificou o vírus em Carlos Fernando foi entregue no último dia 4 pelo Instituto Adolf Lutz, de São Paulo, um dos três laboratórios credenciados pelo Ministério da Saúde para fazer o diagnóstico. A capital tem 55 casos confirmados da gripe A.

[SAIBAMAIS]Pneumologista e coordenador médico do Anchieta, Roberto Valente disse que o paciente chegou ao hospital há duas semanas com um quadro grave de insuficiência respiratória e, cerca de duas horas após ser internado, só conseguia respirar com a ajuda de aparelhos. ;Ele chegou num estágio avançado da doença. Ficou na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) todo o tempo, e só piorou;, descreveu.

Sete dias antes de dar entrada no Anchieta, segundo Valente, o paciente procurou atendimento na rede pública, mas não conseguiu. Quando chegou ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), teria sido orientado a procurar o posto de saúde do Núcleo Bandeirante ou o Hospital Regional de Taguatinga. Em ambos, não teria tido o tratamento adequado.

O médico do Anchieta informou ainda que Carlos Fernando não recebeu o Tamiflu, antiviral usado no tratamento da gripe, nas 48 horas após os primeiros sintomas ; período em que, segundo o próprio fabricante, o remédio é mais eficaz. ;Ele estava fora do protocolo do Ministério da Saúde, que só permitia dar o remédio a pacientes em estado grave ou com fatores de risco.; Só recebeu a medicação quando foi internado no hospital particular, já com o quadro instalado da doença. ;O ideal teria sido usar precocemente. Haveria uma chance maior de tratamento;, afirma Valente.

Técnicos da Secretaria de Saúde ressaltaram que, pela gravidade, o caso vinha sendo monitorado pelas autoridades sanitárias. Disseram, ainda, que não tinham como confirmar as informações sobre a passagem do paciente pela rede pública ontem à noite.

Música
O corpo de Carlos Fernando foi velado na paróquia que ele frequentava em Águas Claras e sepultado no fim da tarde no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. A cerimônia reuniu dezenas de familiares e amigos, que levaram violões e até um tambor para entoar as músicas da igreja.

Os filhos e a esposa ficaram todo o tempo ao lado do caixão e não quiseram conversar com a reportagem. Amigos relataram que ele esteve em Belo Horizonte cerca de dez dias antes de apresentar os primeiros sintomas de gripe. ;Ele procurou atendimento na rede pública, mas não conseguiu nem no hospital nem no posto de saúde;, criticou uma colega de trabalho.


Panorama

Até agora 183 pessoas já morreram por causa da nova gripe no Brasil. São Paulo tem o maior número de óbitos. Confira a situação por estado:

São Paulo 69 mortos
Rio Grande do Sul 44
Paraná 32
Rio de Janeiro 28
Santa Catarina 5
Paraíba 2
Distrito Federal 1
Bahia 1
Pernambuco 1

De 25 de abril até 1; de agosto foram confirmados 2.959 casos de gripe suína no país, segundo boletim do Ministério da Saúde divulgado em 5 de agosto