Quase 20 horas após ter começado, por volta do meio-dia de ontem o incêndio em um depósito irregular de Vicente Pires ainda liberava fumaça pela queima de materiais inflamáveis estocados na casa. Os bombeiros passaram a noite combatendo o fogo na Chácara 145 da Vila São José e, na manhã de ontem, eliminaram focos de calor que pudessem provocar um novo incêndio. O imóvel servia clandestinamente de depósito para a empresa Plasticouro, com matriz registrada em Taguatinga Norte. O galpão abrigava espuma, plástico, tíner e outros itens inflamáveis.
[SAIBAMAIS]O incêndio começou às 16h30 de sexta-feira e provocou o desabamento da estrutura. "Quando chegamos, vimos que não era incêndio em residência, que havia grande concentração de materiais para enchimento de sofás e estofados. Com a ação do fogo na alvenaria, ela cedeu e desmoronou", explicou o coronel Rogério Soares, do Corpo de Bombeiros. A fumaça durou até o dia seguinte porque a espuma mantém a temperatura elevada no miolo mesmo após o fogo da superfície ser eliminado. A laje da construção caiu e encobriu o material que estava no subsolo, dificultando a passagem da água. Com isso, o material continuou incandescente por horas.
Segundo o administrador da cidade, Alberto Meireles, o imóvel fica em área residencial e não possuía alvará para funcionar como estoque da empresa. Apesar disso, a administração nunca recebeu denúncia contra esse ou outro imóvel utilizado para estocar materiais irregularmente. Não é a primeira vez que um depósito clandestino é descoberto em Vicente Pires. De acordo com o delegado-chefe da 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires), Gerardo de Aguiar, já houve casos de venda clandestina de gás de cozinha na região. "As denúncias que recebemos foram checadas e resolvidas. As pessoas podem ligar para o 197 que a gente investiga", disse. Moradores da cidade denunciam a existência de depósitos de combustível sem autorização em estabelecimentos comerciais e até a venda de gasolina em residências.
Questionado sobre o incêndio, o dono da Plasticouro, Alison André Raimundo, 33 anos, não quis se pronunciar. Na delegacia, no entanto, afirmou ser proprietário do terreno onde funcionava o depósito, de aproximadamente 400 metros quadrados. A mercadoria ficava em uma edificação nos fundos do lote e uma obra estava em construção na parte da frente. Dois funcionários trabalhavam como estoquistas no local. Aos policiais, Alisson avaliou o prejuízo em pelo menos R$ 1 milhão em mercadorias e disse que o imóvel não tem seguro contra sinistros.
Uma testemunha do caso contou aos policiais que estava trabalhando no terreno e, por volta das 16h, sentiu um cheiro forte e observou um pouco de fumaça saindo de espumas encostadas na parede de fora da obra. Ela avisou os outros trabalhadores e todos tentaram apagar o princípio de incêndio, mas o fogo se espalhou rapidamente. O delegado Gerardo afirmou não ter indícios de que o incêndio tenha sido culposo (sem intenção). "A princípio, o lugar não tinha instalações precárias, nada diz que foi acidental", comentou. O delegado pretende convocar mais testemunhas e moradores da rua para saber se alguém deu início ao fogo propositalmente. O incêndio, em si, não é considerado um crime, pois não houve feridos ou mortos.
Casas interditadas
As duas casas vizinhas ao galpão ainda estavam cobertas de fumaça durante a manhã - elas pertencem ao dono da Plasticouro e a familiares dele. O incêndio atingiu uma residência que dividia o muro de trás do depósito. A dona de casa Elaine Cristina Fonseca, 32 anos, saiu do imóvel às pressas e retirou os móveis e eletrodomésticos que conseguiu. Os bombeiros quebraram as paredes da sala e do quarto dos filhos de Elaine para ter acesso aos fundos do terreno onde ocorria o incêndio. A água das mangueiras encheu os cômodos e a dona de casa teve que passar a noite na residência da sogra.
Elaine lembra que o incêndio começou com um pequeno foco de fumaça preta. "Eu estava brincando com as crianças no jardim e não me assustei, achei que fosse alguém queimando alguma coisa em casa", disse. Ela entrou em casa para pegar o telefone e comunicar os bombeiros e, quando voltou, ouviu a explosão. "Fez um barulho alto e o fogo se alastrou. Tirei meus filhos de casa na hora", comentou. A dona de casa não sabe quando poderá voltar para o imóvel nem calculou o prejuízo com a reforma.
Moradores da cidade se assustaram com o incêndio e exigem fiscalização. O funcionário público Jaime Oliveira, 53 anos, mora em Vicente Pires há oito anos e nunca soube de depósitos em áreas residenciais da região. "Em qualquer lugar isso é perigoso, a pessoa tem que ter muito cuidado", acredita. A estudante de direito Juliana Pereira, 23 anos, vive na cidade há seis anos e reconhece que há muitos comerciantes com depósitos clandestinos.