A candidata que por pouco não levou para o segundo turno as eleições de 2006 para governador ainda não sabe onde pretende depositar seu patrimônio eleitoral ; recebeu 315.671 votos; no ano que vem, mas tem uma boa ideia do que vai fazer com ele em 2012. A ex-governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB) quer concorrer a uma vaga de prefeita logo ali, em Águas Lindas (GO), distante 50km do Plano Piloto. Dois anos e meio depois de ser derrotada nas urnas por José Roberto Arruda (DEM), a tucana permanece interessada pela política, mas mirou o seu foco para fora das fronteiras do DF. Além de Águas Lindas, ela estuda a hipótese de disputar o comando do Novo Gama (GO), a 40km de Brasília.
O projeto de Abadia em dirigir uma cidade vizinha ao DF tem, pelo menos, três motivos. Primeiro, ela almeja aumentar sua temporada à frente do Executivo (1). Segundo, acredita que tem chances reais de vencer uma disputa numa das duas cidades goianas, especialmente em Águas Lindas, que abriga boa parte de ex-moradores de Ceilândia, reduto eleitoral dela. Por último, Abadia se sentiu traída por antigos aliados da política local, o que explica em parte o desapego da ex-governadora às articulações locais. Além do mais, entre ser ;rabo de jacaré no DF; e ;cabeça de lagartixa no Entorno;, a ex-governadora tem pensado bastante na segunda alternativa. ;Cansei de ser a cereja do bolo dos outros;, disse em entrevista ao Correio (leia ao lado).
No páreo
Abadia não é a primeira política com base no Distrito Federal a cobiçar o comando de Águas Lindas. A cidade tornou-se bastante visada depois de se tornar a mais populosa do Entorno. Tem aproximadamente 240 mil moradores, 98,5 mil eleitores e um orçamento anual de R$ 96 milhões. O potencial da cidade despertou, por exemplo, o interesse do deputado federal José Edmar (DEM) pelo município. Ele chegou a cogitar a mudança de domicílio eleitoral para concorrer no Entorno, mas não conseguiu reunir apoio para sustentar o projeto. Nas últimas eleições para prefeito, lideranças do DF, como é o caso do deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB), se envolveram profundamente na tentativa de eleger um aliado na cidade. O candidato, no entanto, acabou derrotado por Geraldo Messias (PP) (2).
Antes de 2012, Abadia, inevitavelmente, terá de enfrentar o processo eleitoral de 2010 aqui no DF. A ex-governadora não diz ainda para qual cargo pretende se candidatar no ano que vem, mas garante que vai estar no páreo. Por enquanto, ela se define como uma observadora do processo: ;Estou só de olho, estudando todas as alternativas;. E, pela variedade de interlocutores com quem a ex-governadora tem conversado ao longo dos últimos meses, são várias as possibilidades.
1 - NO BURITI
Abadia ficou no cargo de governadora durante nove meses. Ela assumiu o posto com a saída do ex-governador Roriz, que se desligou do cargo para concorrer à vaga de senador.
2 - RESULTADO
Geraldo Messias (PP) recebeu 19.895 votos (42,61%). Em segundo ficou o candidato de Rollemberg: Hildo do Candango (PSB), com 16.453 votos (35,24%).
ENTREVISTA - Maria de Lourdes Abadia
A senhora sumiu do cenário político. Por onde anda?
Não sumi, não. Apenas estou dedicada a um projeto que iniciei em parceria com a Universidade de Brasília. Estou à frente de uma pesquisa sobre a expectativa de futuro dos jovens carentes que moram no Entorno. O livro com o resultado desse estudo está pronto e deverá se chamar As armadinhas e os sonhos.
E esses jovens têm alguma perspectiva?
Fiquei chocada com o resultado do trabalho, a maior parte dessas pessoas está perdida. E o culpado é o Estado, que não tem ações claras para direcionar esse público. Percebi uma sutil diferença positiva para os jovens envolvidos com as igrejas católica ou evangélica, que em geral fazem parte de bandas de música, o que os coloca para cima.
A senhora será candidata nas próximas eleições?
Provavelmente.
A que cargo?
Ainda não sei. Estou observando todas as possibilidades. Tenho conversado com muita gente. Mas ainda não há nenhuma definição.
Com quem a senhora tem conversado?
Com todo mundo que você possa imaginar. De vez em quando, falo com o Arruda pelo telefone, recebi uma visita do Roriz um dia desses. Ele veio me falar que estava voltando para a política. Já conversei com Gim Argel; acho que é Argello, né? Também fui procurada pelo Chico Vigilante. Com todos tenho mantido conversas cordiais mas, por enquanto, sem compromisso.
Numa entrevista ao Correio poucos dias antes de deixar o Buriti, a senhora afirmou que faria campanha durante quatro anos até 2010. Tem sido assim?
Cada domingo vou à missa numa igreja diferente, não deixo de visitar os amigos e falar com as pessoas na rua. Além do mais, tenho ido ao Entorno sistematicamente.
Qual o interesse político da senhora no Entorno?
Todo. Estou cansada de ser a cereja do bolo dos outros. As pessoas de Águas Lindas e do Novo Gama, por exemplo, demonstram ter um carinho enorme comigo. Até porque muitas delas moraram em Ceilândia, que eu ajudei a construir. São cidades que precisam de um cuidado especial. E por que então não fazer política por lá?