Jornal Correio Braziliense

Cidades

Grupo de italianos que viaja pelo mundo em motor homes está em Brasília

Uma ideia na cabeça, um guia embaixo do braço e a estrada como único destino. Assim sete italianos aposentados, divididos em quatro motor homes, partiram de Florença(1), rumo à América do Sul. Para baratear os custos, viajaram em um navio cargueiro e passaram 26 dias em alto-mar até finalmente aportarem em Buenos Aires, em 19 de janeiro deste ano. Começava ali uma aventura que já dura mais de seis meses e que atravessou seis países, além de diversas cidades brasileiras. Ontem, os animados italianos chegaram ao coração do Planalto Central e ficaram impressionados com o que viram em Brasília.

Passearam pela Ermida Dom Bosco, conheceram a Catedral e visitaram a Torre de Televisão. ;É uma cidade diferente de tudo que já vi no mundo;, admitiu Mário Zini, 68 anos. Ele fala com toda a propriedade, uma vez que, como os outros três casais que o acompanham, conheceu boa parte do planeta nas viagens de motor home(2). Austrália, Japão, China, Índia, Rússia, Egito, Tunísia, França, Espanha, Estados Unidos e Canadá são apenas alguns exemplos dos locais que os integrantes do grupo visitaram sozinhos ou acompanhados.

Pelo caminho, ficaram os amigos e histórias memoráveis que vão carregar para o resto da vida. Como o artista que Bruno Bindi, 68 anos, conheceu em uma viagem pelos desertos da África. ;Fiz amizade com ele, que desenhou um quadro no meu motor home. Ele passou quatro horas para fazer o desenho. Em troca, lhe dei comida e bebida;, contou. O desenho mostra uma paisagem desértica com beduínos a andar pelas areias escaldantes. Bruno, que lidera o grupo de passagem por Brasília, lembra do caso com um misto de nostalgia e orgulho. Ao comentar as viagens que fez, não cita preferências. ;O mundo inteiro é fascinante;, concluiu.

Ele costuma fazer viagens longas e com frequência há três décadas. E prefere pegar a estrada só com a esposa Adriana Nardone, de 67 anos. ;Fazemos um estilo mais solitário. Mas também é bom viajar em grupo;, afirmou. Além dos sete italianos que estão juntos desde o início da viagem, outras pessoas se juntaram à turma ao longo do caminho. Rosa Macchioni, 75 anos, conta que um casal de baianos acompanhou a caravana italiana por mais de um mês, do Peru até a Bahia. ;Nos despedimos deles dois dias atrás. Foi uma pena. Ficamos muito amigos;, detalhou.

Para evitar dores de cabeça durante a jornada, o grupo procura manter o bom humor e a paciência com as necessidades e desejos de cada um. Eles dividem as tarefas entre si e ajudam uns aos outros sempre que enfrentam alguma dificuldade. ;É o caso das estradas brasileiras do Nordeste, que são muito esburacadas. O Brasil é um país grande e o Lula deveria melhorar as rodovias para deixá-lo ainda melhor;, apontou Bruno.

As refeições do grupo ficam sob responsabilidade de Mário Zini, que tem experiência na culinária e se diz um chef estradeiro. ;Adoro cozinhar. Faço toda a comida do grupo;, resumiu o aposentado. Como todos viajam de motor home, eles levam tudo de que precisam nos veículos e os custos maiores ficam só por conta do combustível. O roteiro de viagem também não é pré-definido. Eles têm a rota que pretendem fazer impressa nos carros, mas a seguem de acordo com o ânimo da turma. ;Passamos três dias em um lugar, dois em outro. Depende do que queremos fazer;, explicou Mário.

No cerrado
O grupo chegou a Brasília depois de passar um dia no Vale do Amanhecer, onde todos ficaram impressionados com os rituais ali praticados. Na Catedral, também se emocionaram com a arquitetura imponente desenvolvida por Oscar Niemeyer. Mas criticaram o estado de conservação da igreja. ;Por que os vitrais estão sujos e quebrados dessa maneira?;, questionou Roberto Fiorito, 64 anos. Mas nem isso os impediu de ficarem boquiabertos ao adentrarem o monumento.

A caravana italiana ainda seguiu para a Torre de TV, onde foram anotados os horários dos ônibus que fazem passeios turísticos pela cidade ; programa que o grupo pretende realizar hoje. A caravana ainda não sabe quanto tempo permanecerá em Brasília.

Eles voltam para a Europa em 24 de agosto. Partem do mesmo local por onde chegaram ao continente, o porto de Buenos Aires. Mas não se dirigem diretamente para a Itália. Vão de navio até Hamburgo, na Alemanha, e preferem deixar os planos da volta à cidade de Florença, onde moram, em aberto. Talvez por seguirem a filosofia de Mário Zini, o cozinheiro do grupo: ;A vida é uma viagem. E viajar é viver duas vezes. Estou vivendo minha segunda vida;.

1 - CIDADE DE ORIGEM
Florença é a capital da região da Toscana, na Itália. Considerada como uma das cidades mais belas do mundo, foi o berço do Renascimento italiano e de habitantes ilustres, como Dante Alighieri, autor de A Divina Comédia, um marco da literatura universal.

2 - CASA SOBRE RODAS
Motor home é um veículo que funciona como uma casa ambulante, com banheiro, quarto e cozinha. Muito utilizado em viagens longas.