Jornal Correio Braziliense

Cidades

Erro em processo causa prejuízo milionário aos cofres públicos

Um erro técnico no processo de exoneração de três agentes da Polícia Civil, expulsos da corporação por envolvimento com assaltos, se converteu em prejuízo aos cofres públicos. O grupo ganhou direito a receber cerca de R$ 1 milhão. A demissão ocorreu durante o governo de Joaquim Roriz (PMDB). O então governador havia readmitido, por decisão administrativa, os policiais que tinham sido retirados da corporação. No entanto, a direção da polícia pediu mais uma vez a exoneração. Ato este que foi assinado novamente por Roriz, mas questionado na Justiça pelos policiais. O grupo conseguiu anular a medida no Superior Tribunal de Justiça (STJ), alegando erro no procedimento administrativo.

No fim das contas, o que ficou valendo foi o ato de readmissão ao serviço público. Assim, foi calculado o pagamento dos salários e benefícios não pagos durante o tempo que ficaram fora da Polícia Civil. A situação provoca constrangimento em meio à corporação que tem de receber de volta policiais que foram punidos por desvios de conduta. Dois outros agentes também conseguiram o direito de receber cada um cerca de R$ 1 milhão, conforme mostrou matéria do Correio ontem.

Esses dois policiais, diferentemente dos três agentes com decisão judicial, não foram readmitidos durante o governo Roriz. O ato de readmissão saiu em 31 de dezembro de 2006, último dia da gestão de Maria de Lourdes Abadia (PSDB), que tinha assumido o governo depois que Roriz se desimcompatibilizou para disputar a eleição ao Senado, em que foi eleito. Roriz acabou renunciando ao mandato depois que teve conversas telefônicas interceptadas em meio à Operação Aquarela do Ministério Público do DF e Territórios, que investigou irregularidades no Banco de Brasília (leia matéria na página 43).

;Os governantes assinam milhares de admissões e exonerações. E elas vêm a pedido dos órgãos e secretarias de governo. O governador não pode ser responsabilizado exclusivamente por esses atos. A readmissão dos policiais é feita apenas depois da conclusão de um processo. E sobres o ato de 2006, Roriz não teve participação alguma, porque estava fora do cargo, na época;, esclarece o assessor de imprensa de Roriz, Paulo Fonna.

O governador Roriz, apesar de estar fora do governo, naquele período, mantinha forte influência sobre a Polícia Civil até o fim de 2006. Deixou como diretor pessoa de confiança do seu aliado político, o atual deputado federal Laerte Bessa (PMDB), que também tinha saído do cargo na direção para se candidatar.

Corregedoria
A direção da Polícia Civil informou que serão realizados os pagamentos autorizados pela Corregedoria do GDF. ;Nada será pago sem a palavra final da Controladoria do DF. Tudo é encaminhado para lá;, disse o diretor da PCDF, Cleber Monteiro.

No caso dos três agentes readmitidos por Roriz, há uma decisão judicial. Os outros dois apenas, decisão administrativa. O Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do DF reagiu diante da possibilidade do GDF pagar milhões de reais ao policiais readmitidos. ;Não discuto se é devido ou não a esses agentes. Mas não aceitamos que delegados aposentados, que esperam na fila para receber o dinheiro de licenças- prêmio, sejam preteridos em favor desses policiais, que chegaram a ser expulsos;, comentou o presidente do Sindepo, Mauro Cezar Lima.

O Sindicato reclama da decisão de não pagar os servidores que se aposentaram antes de 2000. ;Um decreto de novembro manda levar em conta na hora de priorizar o pagamento aos que têm mais idade;, aponta Lima. A Câmara Legislativa pediu a divulgação da relação dos servidores que já receberam indenizações e licenças-prêmio no último ano.

O diretor da Polícia Civil , Cleber Monteiro, afirma que todos os processos de policiais com direito a receber recursos foram divulgados. ;Todas as dívidas foram devidamente reconhecidas em Diário Oficial.; Segundo ele, o que não foi publicado foram os valores que cada um recebeu por ;uma questão de privacidade;.


FORA DO TRABALHO

Eles ficaram por cerca de 10 anos fora da corporação. Foram demitidos depois que processo disciplinar concluiu a participação deles em desvio de equipamentos apreendidos, durante operação na casa de um traficante de drogas.