A exigência da nota fiscal é uma arma contra a sonegação. No entanto, nem sempre ela é feita. Associações de defesa do consumidor ouvidas pelo Correio destacam que a entrega da nota é um dever do comerciante e não deveria sequer ser solicitada pelo cliente. Como essa regra não é cumprida, a melhor saÃda é mesmo exigir a nota fiscal em todas as compras realizadas. O documento garante os direitos do consumidor e obriga o comerciante a repassar o imposto cobrado do cliente para o governo.
"Quem sai da loja com a mercadoria na mão e sem a nota fiscal está sendo conivente com o comerciante que sonega impostos", ensina Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste). Como noticiou o Correio nesta semana, 17 mil varejistas estão sendo acusados pela Secretaria de Fazenda de darem um calote de R$ 200 milhões nos cofres públicos. Para chegar a essa cifra, o Governo do DF cruzou os dados das faturas de cartão de crédito com as informações passadas pelos lojistas sobre as vendas e descobriu a diferença nos valores. Rombos como esse acontecem principalmente porque a nota fiscal não é emitida.
"O consumidor que não pega o cupom fiscal incentiva o comércio a sonegar e precisa saber que a loja não está recolhendo impostos", afirma Maria Inês. Ela sugere que as pessoas se recusem a comprar em estabelecimentos que não entregam a nota fiscal. Além disso, o documento fiscal garante o respeito às regras do Código de Defesa do Consumidor como, por exemplo, a troca da mercadoria caso esteja com defeito.
Marcos Diegues, assessor jurÃdico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), afirma que oferecer descontos para vender sem nota fiscal é crime, mesmo quando se trata de profissional liberal. "Orientamos sempre o consumidor a pedir o cupom. Isso é uma questão de cidadania e desenvolve a consciência do indivÃduo", diz Diegues. Ele lembra que o imposto volta em benefÃcios para a sociedade. A exigência da nota deve ocorrer mesmo para compras ou serviços de pequeno valor.
Embora todo consumidor tenha direito à nota fiscal em qualquer compra, o Procon do Distrito Federal não tem registro de nenhuma reclamação por alguém que não tenha obtido o documento em estabelecimentos comerciais ou de prestadores de serviços. O diretor de Atendimento do órgão, Oswaldo Morais, alerta que o cupom dá ao consumidor a garantia legal de 90 dias para troca do produto ou a devolução do valor pago. Segundo ele, o estabelecimento ou prestador de serviço que se recusar a emitir a nota deve ser denunciado à Delegacia de Ordem Tributária ou à Delegacia do Consumidor. "O consumidor pode falar com o Procon pelo telefone 151, mas por meio do telefone apenas aconselhamos que ele procure as delegacias", diz Morais.
Incentivo
A professora Ziziléia Vasco Cavalcante, 31 anos, nem sempre sai da loja com a nota fiscal. Só leva o documento para casa quando o vendedor o entrega. %u201CNão é divulgada a importância da nota para o consumidor%u201D, justifica. Ela defende que o assunto seja tratado desde as escolas. Ontem, no BrasÃlia Shopping, Ziziléia foi beneficiada pela nota fiscal. Os documentos deram direito a seu filho Lucas, 10 anos, de entrar no planetário do centro comercial. O irmão do garoto, Luan, 8 anos, ficou de fora porque a famÃlia não tinha notas suficientes para dois ingressos. É preciso ter R$ 100 em cupons fiscais para entrar no brinquedo.
Para favorecer a emissão dos cupons fiscais, o Governo do DF criou o programa Nota Legal, que concederá desconto nos impostos sobre Propriedade de VeÃculos Automotores (IPVA) e Predial Territorial Urbano (IPTU) para os consumidores que exigirem a nota com o registro do Cadastro de Pessoa FÃsica (CPF) ou para pequenas e microempresas optantes pelo Simples que colocarem seu Cadastro Nacional de Pessoa JurÃdica (CNPJ) no documento. A meta é incentivar consumidores como Ziziléia a pedir a nota. Por enquanto, apenas escolas, cursos, restaurantes e bares se enquadram no Nota Legal. A intenção é ampliar o programa para o varejo nos próximos meses. Mais informações sobre o programa podem ser obtidas no site da Secretaria de Fazenda (www.fazenda.df.gov.br).
O número
R$ 200 milhões
é o tamanho do calote dado por
17 mil comerciantes aos cofres públicos do Distrito Federal
Ouça entrevista com o diretor de atendimento do Procon, Oswaldo Morais