A população de Valparaíso, no Entorno do Distrito Federal, espera há 12 anos a entrega do hospital municipal. A construção teve início no final de 1996, quando a cidade goiana emancipada há 11 anos ainda era distrito de Luziânia. A unidade de saúde atenderia pessoas como a dona de casa Maria do Socorro alves, 42 anos, que na última terça-feira (14/7) saiu cedo de casa, passou a manhã inteira na fila do Hospital Regional da Asa Norte para marcar uma cirurgia ginecológica. "Na esquina da minha rua tem um hospital pronto. Ele está pronto, mas continua fechado", diz a moradora do Bairro Céu Azul.
Na verdade, o local ainda não está pronto, e sim com 95% das obras concluídas. Mas tudo indica que o prédio com 44 leitos, em vez de abrigar um hospital, como deseja a população, será transformado em uma Unidade Mista de Saúde, destinada apenas a atendimento ambulatorial e internações básicas, principalmente nas especialidades de ginecologia, obstetrícia e pediatria.
Segundo a secretaria de Saúde de Goiás, o projeto teve que ser readequado para atender a normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e estar de acordo com a realidade do orçamento local. A promessa é que a novela tenha um desfecho ainda este ano, com base no cronograma passado à secretaria pela Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), que prevê que ele seja concluído no fim de outubro.
Readequação
Segundo o superintendente de Planejamento da Secretaria de Saúde de Goiás, Dante Garcia, responsável pela readequação do projeto, o município não teria condições de bancar um hospital. "Lá não será um local para procedimentos de alta complexidade, pois não há como fazer uma cirurgia de grande porte sem UTI", explica. Com a readequação do perfil da unidade, o governo de Goiás já destinou R$ 800 mil a mais para entregar a obra.
Os equipamentos hospitalares já estão em fase de licitação, mas ainda não previsão de quantos médicos, enfermeiros e demais funcionários serão contratados, de acordo com o superintendente. Dante Garcia garante que a conclusão da unidade é uma das prioridades da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride), um colegiado constituído pelo DF, Goiás e Minas Gerais responsável pelas políticas públicas para a região.
Segundo Garcia, a demora na construção se deve a dois fatores: a falta de planejamento e o problema com financiamento ocorrido em todo o Brasil na década de 90, quando o governo federal não reapassava 1/3 dos recursos da seguridade social que deveriam ir para a saúde. A hipótese de irregularidades foi descartada pelo procurador da República Peterson de Paula Pereira, com base em uma auditoria do Tribunal de Contas da União. Em 2007, o procurador convocou uma reunião no Ministério Público Federal no DF para discutir soluções e garantir a finalização do problema.
Reflexo no DF
A unidade de atendimento também é aguardada com ansiedade pelo Governo do DF, já que ajudaria a desafogar o sistema público de saúde da capital do país. O governador José Roberto Arruda disse que o GDF está fazendo a parte dele, "mas vai ser muito difícil se o governo federal e o de Goiás não ajudarem". Arruda citou como exemplo o hospital de Santo Antônio do Descoberto, em obras há 8 anos e que, mesmo com a ajuda de Brasília, ainda não está pronto.
Arruda destacou que quanto mais melhora a saúde no DF, mais gente vem de fora. "E agora tenho percebido que eles estão vindo de cidades mais longes, não apenas do Entorno próximo. Ontem mesmo conversei com uma senhora que veio de Alexânia de ônibus para pegar fila no Hran", disse o governador.
O Distrito Federal tem investido no sistema de saúde do Entorno, segundo o governador, para que os moradores das cidades vizinhas não precisem se deslocar até aqui em busca de atendimento. Além de repassar mensalmente R$ 1 milhão e R$ 500 mil às cidade de Águas Lindas e Santo Antônio do Descoberto, respectivamente, o GDF irá construir quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) nas cidades de Santo Antônio do Descoberto, Novo Gama, Cidade Ocidental e Planaltina de Goiás.
Essas medidas, no entanto, não são suficientes, segundo o governador. O Entorno abriga pouco mais de um milhão de habitantes e demanda pelo menos 120 mil atendimentos anuais nos hospitais do DF. "O que resolveria mesmo é a construção de hospitais", diz Arruda.
Debate
Fazer da unidade um hospital é exatamente o que defende o secretário adjunto de Saúde de Valparaíso, Leonardo Estevez Ramos. "A ausencia de UTI não exclui a possibilidade de fazermos um hospital. Temos lá dois centros cirúrgicos. Unidade Mista não tem centro cirúrgico", questiona o gestor. Segundo ele, o prédio teria ainda capacidade de ampliação para 50 leitos.
Leonardo diz ainda que, em termos de saúde, Valparaíso é o município mais estruturado do Entorno, mesmo sem receber investimentos maciços do DF, como ocorre em Santo do Descoberto e Águas Lindas. Segundo ele, a prefeitura está investindo pesado no Programa de Saúde da Família, que possui hoje 26 postos funcionando perfeitamente. O secretário adjunto informou ainda que o Centro de Apoio Integral à Saúde (Cais) conta atualmente com 49 médicos realiza nove mil atendimentos mensais.