No embate entre pediatras e operadoras de planos de saúde, que dura três meses, já houve um protesto no qual, por um dia, os convênios ; com exceção do do Senado ; não foram aceitos em consultórios nem em emergências particulares. O movimento ganhou força e quase todas as sociedades estaduais de pediatria aderiram à reivindicação de aumento no valor pago por consulta. Falta, agora, planejar como será feita a mobilização do dia 27. Para tanto, haverá reunião na semana que vem. Não está descartado boicote em todo o Brasil.
O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria no DF, Dennis Alexander Burns, está otimista quanto aos efeitos da ação: ;Com os pediatras unidos em todo o país, nosso poder de negociação será muito maior;.
Consultas
Os planos de saúde pagam hoje de R$ 24 a R$ 40 por consulta. Desse valor, ainda são descontadas as taxas de administração do convênio e os impostos. O que chega ao médico não alcança R$ 30. A reivindicação da categoria é que as empresas paguem R$ 90 pelas consultas nas emergências dos hospitais e R$ 120 pelos atendimentos em consultórios. Eles exigem ainda a remuneração pelas consultas de retorno e o pagamento das visitas extras a pacientes internados.
[SAIBAMAIS]As empresas alegam ser impossível reajustar apenas uma especialidade e afirmam que o repasse reivindicado pelos pediatras acarretaria em um grande reajuste nos valores das mensalidades pagos pelos clientes.
O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Dioclécio Campos Júnior, classifica o movimento dos médicos como uma ;reação contra a violência e o desrespeito das empresas;. Dioclécio conta que já procurou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para tratar do assunto. ;É preciso levar esse movimento para todo o Brasil e, felizmente, já tivemos muitas adesões;, destaca.
Mensalidades
Na hora de levar os filhos à consulta com o especialista, os pais sentem-se inseguros com relação à validade dos planos. ;A gente nunca sabe se vai ter que tirar mais dinheiro do bolso. Ligo para a empresa à qual sou conveniado antes de levar as crianças ao médico, mas nem eles sabem dizer qual será o preço cobrado;, relata o autônomo Luiz Carlos Costa, 38 anos, morador do Gama e pai de dois meninos, Lucas, 3, e Davi, 2.
A mãe dos garotos e mulher de Luiz Carlos, Maria Pereira Costa, 39 anos, reclama do valor da mensalidade do convênio. O casal paga quase R$ 900 para garantir o atendimento de qualidade à família. ;Muitos psicólogos e fonoaudiólogos já não dão o desconto para quem tem convênio. Se os pediatras também pararem de aceitar o plano de saúde, vamos cancelá-lo;, diz Maria.
O agente de viagens Guilherme Saldanha, 27 anos, e a mulher Elizangela Pereira Silva, 27, pais de Laura, 1, acreditam que o movimento dos pediatras serve apenas para pressionar as seguradoras. ;Se o médico quer ter essa liberdade toda, ele deve montar o próprio consultório. Em hospitais grandes, se eles aderirem a esse boicote absurdo devem ser demitidos;, opina Guilherme.
Laura tem consulta marcada com o especialista para o próximo dia 16 ; os pais estão apreensivos. ;Pagamos R$ 100 pelo plano empresarial. Para nós, é inviável investir R$ 250 em cada consulta;, lamenta o pai de Laura. ;Médicos sérios não prejudicam os pacientes dessa maneira tão injusta;, critica Elizangela.
1 ; ESCALONAMENTO
Os representantes dos pediatras pretendem começar a suspender os contratos com os planos de saúde que pagam menos aos médicos pelas consultas. Os nomes desses convênios devem ser informados depois da reunião marcada para amanhã. Atualmente, o piso é de R$ 24.
; Problemas no HUB
O caos no atendimento pediátrico em todo o DF afeta também o Hospital Universitário de Brasília (HUB), ligado à Universidade de Brasília (UnB). O problema da falta de pessoal, que compromete a qualidade dos serviços prestados à população, chegou ao Ministério Público Federal. Médicos, enfermeiros e técnicos que atuam no setor fizeram um abaixo-assinado para cobrar melhorias nas condições de trabalho. O documento foi enviado aos procuradores da República no DF. A direção do hospital garante que boa parte das reivindicações já está encaminhada e afirma que as falhas devem ser sanadas antes do fim deste ano.
A lista de reivindicações foi assinada por 93 profissionais da pediatria do Hospital Universitário de Brasília. O documento denuncia que o setor de atendimento ao recém-nascido tem equipamentos e recursos técnicos obsoletos e deteriorados e que não tem o número de pediatras necessário para atender as crianças. ;Diante das inúmeras atribuições que recaem sobre os responsáveis pelos plantões no pronto-socorro pediátrico, é possível imaginar a vulnerabilidade do exercício profissional que atinge os pediatras;, destaca o abaixo-assinado. A equipe do setor denuncia ainda que a enfermaria pediátrica comporta 27 leitos, mas que atualmente só existem 17 em funcionamento, por causa do déficit em recursos humanos.
Há vagas
Segundo o diretor do HUB, Gustavo Romero, uma das grandes dificuldades da unidade de saúde é conseguir pediatras no mercado brasiliense. ;Contratamos prestadores de serviço para plantões de 12 horas com uma remuneração de R$ 500 líquidos. É um valor semelhante ao oferecido pela iniciativa privada. Ainda assim, não temos conseguido preencher as vagas;, explica Romero. Hoje, o HUB tem 31 pediatras atuando na emergência e no ambulatório, além de 17 profissionais que atuam na área de medicina neonatal.
Sobre os equipamentos, o diretor da unidade garante que vários aparelhos destinados à pediatria já estão em processo de licitação. Somente neste ano, devem ser investidos R$ 442 mil na compra de aparelhos para o setor de atendimento a crianças. ;Conseguimos um suporte institucional para a compra de equipamentos. A UTI neonatal vai receber uma quantidade significativa desses aparelhos novos;, diz o diretor do HUB. Representantes do Ministério Público Federal se reunirão com membros da reitoria da UnB e dos médicos da pediatria para tomar conhecimento da situação real do atendimento infantil no hospital e, então, decidir que providências tomar.