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Cidades

Oito brasileiras foram assassinadas neste ano vítimas de exploração sexual no exterior

As organizações criminosas especializadas em tráfico de seres humanos mataram pelo menos oito brasileiras em 2009. Houve seis assassinatos na Espanha e um nos Estados Unidos. As vítimas são mulheres que deixaram o país para tentar a vida por meio da prostituição. O crime mais surpreendente, no entanto, ocorreu em território brasileiro, especificamente na capital do país. A morte de uma goiana no Guará revelou que as máfias europeias vinculadas à prostituição internacional não temem a segurança nacional. E dão ordens para aliciadores tirarem a vida daqueles que as ameaçam. Investigação da Polícia Civil brasiliense mostrou o tamanho do esquema no Brasil. Ficou comprovado que o homicídio da ex-prostituta Letícia Mourão, 31 anos, em março deste ano, ocorreu a mando de uma organização criminosa dona de seis prostíbulos na Espanha. Órgãos federais e estaduais também têm informações de que aliciadores de outros 10 países - Portugal, França, Suíça, Irlanda, Holanda, Bélgica, Reino Unido, Israel e Estados Unidos - têm influência dentro das fronteiras brasileiras. Movimentam dinheiro, convencem novas vítimas e matam, se preciso. Goiás aparece como o estado que mais exporta brasileiros. Há 250 mil goianos no exterior. Boa parte vive da prostituição. Alguns voltam ao país como recrutadores. "Esses grupos criminosos são organizados e estruturados. Enviam pessoas principalmente para Espanha e Portugal, pela facilidade da língua, e para a Suíça. Depois, vêm de fora para dentro", explicou o procurador da República Daniel de Resende Salgado, do Ministério Público Federal de Goiás. O órgão se dedica ao combate à prostituição internacional desde 2004. Atuou na condenação de 20 pessoas por exploração sexual no exterior. Vulnerabilidade A experiência no assunto levou o Ministério Público Federal goiano a traçar o perfil das vítimas e dos aliciadores (veja abaixo). "Elas (as organizações mafiosas) elegem algumas prostitutas para voltar ao Brasil e fazer a propaganda positiva da vida no exterior. Usam a condição de vulnerabilidade das pessoas e trabalham com certa sutileza", detalhou Salgado. O problema no estado vizinho ao DF levou à criação da Assessoria de Assuntos Internacionais do Estado de Goiás. Desde 2000, o órgão, comandado por Elie Chidiac, presta assistência aos familiares e às vítimas de prostituição. O trabalho passa por três pilares: repressão, assistência e conscientização. "Só assim podemos fazer um escudo psicológico para conscientizar e alertar dos perigos que há neste meio", explicou. Segundo ele, uma média de 20 goianos são assassinados por ano na Europa devido à exploração sexual. A proposta da assessoria goiana segue a iniciativa do governo federal para combater a prostituição internacional a partir do Brasil. "Estamos focados em campanhas educativas, repressão e capacitação de profissionais", disse o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior. O ALVO * A maioria das mulheres atraídas pelas máfias estrangeiras é goiana. Organizações criminosas internacionais enviam aliciadores ao Brasil para convencê-las a viver da prostituição na Europa. Veja o perfil delas: - Têm entre 18 e 26 anos - O grau de instrução não passa do ensino fundamental - Não têm condições de arcar com pacotes de turismo sequer para um local no interior do país. Por isso, desembarcam endividadas na Europa - São de famílias de baixa renda, residentes na periferia. A maior parte é de cidades do interior de Goiás Boa parte se encontra desempregada antes da partida para o exterior - A maioria tem um ou dois filhos, geralmente de pais diferentes - Tiveram relacionamentos frustrados Leia mais na edição impressa do Correio