As cidades do Entorno são mais conhecidas por suas mazelas. A maioria sequer tem saneamento básico. Mas Luziânia, a 56km de Brasília, foge desse padrão. O município goiano de 200 mil moradores nunca viu tanto dinheiro. Na contramão da crise mundial, a cidade não para de receber investimentos. O setor da construção civil é o que mais prospera. Casas estão sendo derrubadas para dar lugar a edifícios. O mais emblemático é um de 32 andares, previsto para ficar pronto ano que vem. Será o mais alto prédio, o primeiro grande centro comercial e o primeiro residencial de alto padrão do lugar. Além das lojas, estão à venda apartamentos de até R$ 700 mil. Tudo isso é reflexo do aumento das exportações, em especial da soja e seus derivados, para países asiáticos.
Luziânia é a cidade goiana que mais exportou de janeiro a maio deste ano. No período, as vendas do município totalizaram US$ 118,55 milhões (cerca de R$ 230 milhões). Um aumento de 58% em relação aos cinco primeiros meses de 2008. À época, Luziânia ocupava a terceira posição entre as cidades goianas, atrás de Itumbiara e Alto Horizonte. Os números são da Secretaria do Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), que considera o domicílio fiscal das empresas exportadoras. No caso de Luziânia, estão instaladas multinacionais como Bunge e Multigran, compradoras de grãos da cidade e seu entorno ; o Vale do Pamplona ; e principais responsáveis pela venda externa.
As exportações do município goiano do Entorno se destacam também no cenário nacional. No mesmo período em que Luziânia cresceu 58%, as vendas externas brasileiras, como um todo, caíram 22%. ;É um resultado bastante significativo. Crescer num momento em que a demanda mundial estava caindo não é fácil;, afirma o secretário adjunto de Comércio Exterior do Mdic, Fábio Martins Faria. Segundo ele, a economia mundial está num processo de retomada e há prognósticos de crescimento para 2010, o que deve favorecer ainda mais os produtos concentrados em Luziânia. É nisso que apostam investidores, como os construtores do primeiro shopping center da cidade.
Sucesso de vendas
Além das lojas de grifes famosas, o empreendimento terá duas torres residenciais, totalizando 32 andares (três de garagem subterrânea, três de lojas comerciais, dois de área coletiva residencial e 24 de apartamentos). A poucos metros da prefeitura, as obras de fundação estão em andamento. Já foram vendidos 80 dos 160 apartamentos, com 68 a 341 metros quadrados de área. Entre os clientes, 30% são produtores rurais e trabalhadores do setor. O restante são pessoas que trabalham em Brasília e buscam uma opção mais barata de moradia em relação à capital. ;Nos últimos anos, houve um aumento da procura de imóveis. Isso tem a ver com o crescimento da agricultura da região. A proximidade com Brasília também estimula o desenvolvimento;, diz Vantuil Guimarães Júnior, diretor da Suporte Engenharia, construtora responsável pela obra.
A construção civil em Luziânia cresceu 700% nos últimos três anos. ;A cidade de hoje não é a mesma de quatro, cinco anos atrás. O comércio aumentou, os prédios estão surgindo, a cidade é outra;, ressalta o secretário de Indústria e Comércio de Luziânia, João de Abreu. O varejo também sente a melhora na economia local. Sem saber nada sobre o movimento ascendente, a vendedora de lingerie Valciani Machado, 27anos, afirma que vendeu mais peças íntimas a partir de maio. ;Em relação ao início do ano, vendemos mais peças. Acho que se está bom para eles (produtores rurais) melhora para a gente também;, comenta. O superintendente de Comércio Exterior da Secretaria de Indústria e Comércio de Goiás, Joni Ronnie Pessoni, diz que o sucesso do município nas exportações irá garantir uma maior arrecadação de impostos locais e a geração de empregos. ;É difícil o cidadão comum perceber, mas hoje a estrutura de Luziânia se diferencia das outras cidades do Entorno;, destaca.
1- COMPLEXO DE SOJA
A expansão das exportações de Luziânia este ano já aumentou em 79% a produção do complexo soja em relação aos primeiros cinco meses do ano passado. Foram produzidas 250 mil toneladas de janeiro a maio de 2008. Em 2009,o foram 366 mil toneladas. Ao todo, a cidade tem 54 produtores de soja de médio e grande porte.