O titular da Delegacia de Repressão a Roubos (DRR), Adval Cardoso de Matos, revelou dois caminhos principais para a chegada de armamentos às mãos de bandidos no DF. Uma das possibilidades passa pelo contrabando, vindos de outros estados brasileiros e do Paraguai. A outra se faz pelo roubo e furto contra policiais e cidadãos com permissão para porte de arma (leia arte acima). ;As apreensões mais comuns são de revólveres e pistolas;, disse.
Segundo Matos, não existe em Brasília esquema de corrupção policial para venda de armas. Portanto, não há chance de o revólver, a pistola ou a espingarda recolhida voltar às ruas depois de entregue às delegacias brasilienses ; a maioria é apreendida em abordagens feitas por policiais militares e em operações e investigações da Polícia Civil. ;Se chega a uma delegacia, é 100% de certeza que não volta para a criminalidade. O destino é a destruição. A não ser que a consulta ao sistema de armas indique a propriedade de alguém. Será, assim, restituída ao dono;, explicou o delegado.
Ameaças virtuais
Em poder da criminalidade, os armamentos acabam usados para assaltos, intimidações, ameaças e acertos de contas. No caso de São Sebastião, jovens as empunham para se vingar de desafetos. A cidade, por exemplo, ficou marcada em 2008 por série de assassinatos. Só entre fevereiro e março do ano passado seis garotos perderam a vida nas disputas territoriais entre moradores dos bairros João Cândido e Vila São José. Onze acabaram presos na época. A polícia recolheu oito armas. ;Está mais tranquilo agora. Mas só porque não paramos com as prisões;, contou o delegado-chefe da 30; DP, João Lóssio.
[SAIBAMAIS]Apesar da repressão policial, as mortes entre a juventude local não tiveram fim. Em fevereiro deste ano, um garoto de 18 anos perdeu a vida depois de atraído para uma emboscada perto de casa. Levou seis tiros na cabeça e no peito. A vítima nasceu e viveu em São Sebastião. Seguiu a rotina familiar até os 16, quando passou a participar de uma gangue da cidade. Tráfico e uso de drogas, porte de armas e pequenos assaltos faziam parte do cotidiano da garotada. O rapaz ficou agressivo, largou os estudos e deixou a violência tomar conta da adolescência. Morreu em menos de dois anos.
A investigação do caso deu a entender que o homicídio ocorreu por desavenças dentro da própria galera. A família se sentiu ameaçada. Mudou de cidade. Também não quis conversar com a reportagem. O Correio, porém, identificou o perfil criado no Orkut por integrantes de gangue dos bairros Vila São José e Vila Nova. Aparece no local da foto de apresentação imagem de placa de trânsito ; acesso a São Sebastião a 500m ; crivada de balas. As poucas informações do domínio virtual revelam que ;são seba e nois matam os 200;. O grupo é da Quadra 5. Os rivais moram na Quadra 200, em outra vizinhança.
Meninos e meninas com os mais diferentes apelidos estão ligados ao perfil, com referências ao Comando Vermelho e a favelas cariocas. As fotografias mostram adolescentes em poses desafiantes. Se não estão armados, simulam revólveres e pistolas com as próprias mãos. As comunidades vinculadas ao site também dão a dimensão do problema. Algumas são de colegas mortos. E outra do tipo: ;Tá no inferno? Abraça o capeta;. Os recados deixados em perfis alheios também revelam ameaças. A 30; DP investiga quem são os responsáveis pelas páginas.
Origem política
A organização criminosa comanda o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Especula-se que a criação do grupo ocorreu entre 1969 e 1975, quando presos políticos e detentos comuns dividiram a Galeria B do presídio de Ilha Grande. Por trás do lucro com a venda de drogas, estão violência e morte.
; O que diz a lei
A restrição do direito de andar armado existe desde 2003, quando foi aprovado o Estatuto do Desarmamento. A Lei Federal n; 10.826 garantiu porte de arma funcional para policiais civis, militares e federais, servidores das Forças Armadas e guardas municipais. Podem se manter armados 24 horas por dia. Há também o porte para quem trabalha como segurança privado, agentes e guardas prisionais, escoltas de preso e agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A lei deixou a posse mais difícil. Quem quiser manter uma arma em casa precisa ter mais de 25 anos, declarar efetiva necessidade, não ter antecedentes criminais, ter ocupação lícita e residência certa, passar em testes de capacidade técnica e aptidão psicológica e renovar o registro a cada três anos.
Quem descumprir a lei e andar com arma de uso permitido sem o porte poderá ficar preso por até quatro anos e pagar multa. O crime é inafiançável se a arma não for registrada. Já o porte ilegal de arma de uso restrito pode render reclusão de até seis anos.