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Girafa do Le Cirque morre em zoológico de Goiânia

Uma tragédia anunciada. É assim que o advogado do Le Cirque, Luiz Sabóia, define a morte da girafa Tico, ocorrida na noite da última sexta-feira (26/6) no Zoológico de Goiânia, capital de Goiás (a 209km de Brasília). Tico foi um dos 26 animais do estabelecimento apreendido a pedido do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama-DF), sob acusação de maus-tratos, em agosto do ano passado. "Há seis meses atrás eu avisei que, se os animais ficassem longe dos donos, iriam morrer", disse Sabóia. O advogado informou que vai entrar com uma ação contra o Ibama pela morte do animal. Ele também pedirá a reintegração de Kim, a outra girafa macho confiscada. O diretor do Zoológico de Goiânia, Rafael Cupertino, discorda da tese do advogado. Segundo ele, a morte do animal foi uma triste surpresa para a direção do parque. A causa ainda é desconhecida, mas uma necrópsia será feita pela Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Goiás. O laudo deve ficar pronto entre 15 e 20 dias. Para o gerente de fiscalização do Ibama, Roberto Cabral, não se deve vincular a morte da girafa a retirada dela do circo. "A mudança de ambiente não é pior do que o transporte desses animais de um lado para outro como ocorria quando estavam no circo", explicou. Para Cabral é preciso esperar o laudo para avaliar o que teria ocorrido. "Mas nós sabiamos que alguns dos animais já apresentavam problemas de saúde, da época que estavam em apresentações". Desde que chegaram a Goiânia, em dezembro do ano passado, os dois exemplares eram os bichos eram a principal atração do zoo. Agora, todas as atenções se voltam para Kim. O outro macho passa por diversos exames, nesta segunda-feira (29/6). "A vigilância está triplicada. Vamos nos cercar de todos os cuidados", garantiu Cupertino. [SAIBAMAIS]Apesar de se alimentar normalmente, Kim está bem mais quieto. "Acho que ele está sentindo falta do companheiro", diz o diretor. O animal, de 17 anos, sempre viveu o lado de Tico. Os dois passaram juntos por muitas aventuras. Desde viajar o Brasil inteiro se apresentando em espetáculos circences, até a traumática apreensão na BR-163, no município de Nova Alvorada (110km ao norte de Campo Grande), em 19 de agosto de agosto ano passado. Divididos em duas carretas, os animais do Le Cirque foram trazidos de volta a Brasília. Passaram fome e alguns se machucaram durante a viagem, acendendo a polêmica de quem estaria praticando, realmente, maus-tratos: o circo ou o Ibama? Ficaram alguns meses sob os cuidados do zoo da capital federal e depois foram distribuídos entre parques públicos e particulares em todo o País. Além de Tico e Kim, a zebra Safira também teve como destino o Jardim Zoológico de Goiânia. Segundo a direção, ela passa bem. Maus-tratos A polêmica envolvendo os animais da companhia circense teve início depois que uma vistoria do Ibama constatou que eles eram vítimas de maus-tratos. A pedido do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o circo, então instaldo no estacionamento do estádio Mané Garrincha, em Brasília, teve o alvará de funcionamento revogado. No dia 12 de agosto, fiscais ambientais apreenderam dois chimpanzés e um hipopótamo. O Le Cirque conseguiu reavê-los na justiça, mas só o hipopótamo foi devolvido, já que os macacos haviam sido levados para um santuário mantido pelo Projeto Grandes Primatas, ong de proteção dos direitos e estudo do comportamento dos animais, em Sorocaba. O GAP apresentou ao Ibama um laudo técnico comprovando o tratamento inadequado. A dupla de chimpanzés teve os dentes e os testículos arrancados, apresentavam marcas de correntes no pescoço e sofriam de estresse crônico. Com base nesse documento, os órgãos de fiscalização ambiental do DF preparatam uma operação, chamada de Arca de Noé, para "resgatar" os animais do circo. Mas os proprietários ficaram sabendo e evacuaram o local. Segundo uma funcionária da empresa, que não quis se identificar, eles foram transportados às pressas durante a madrugada. Quando os agentes chegaram para cumprir o mandado judicial, não encontraram nenhum bicho. O Ibama expediu um mandado de busca e apreensão em todo o país. Quando as carretas do circo passaram por um posto da Polícia Rodoviária Federal na BR-163, em Mato Grosso do Sul, os animais foram interceptados, e passaram dois dias em uma acampamento improvisado na sede da Polícia Militar Montada de Campo Grande, antes de serem mandados de volta a Brasília.
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