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Praticar exercícios físicos e não fumar pode ajudar a evitar diversos tipos de cânceres

Se você é daqueles que comem produtos industrializados e carne vermelha em excesso, fumam demais, são estressados e, ainda por cima, deixam os exames de rotina sempre para depois, cuidado. Cada vez mais a negligência com o estilo de vida saudável é responsável pela incidência de câncer e, ainda pior, por mortes por causa da doença. O alerta é feito por especialistas e pode ser comprovado por meio dos números levantados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), a pedido do Correio Braziliense. Na comparação entre 1996 e 2006, os tipos de câncer que mais cresceram foram os que sofrem mais influência dos fatores externos. Tanto a morte de homens quanto a de mulheres aumentou, por exemplo, quando a causa é câncer de cólon, reto e estômago. Ao todo, 273 brasilienses perderam a vida em 2006 devido a esses três tipos de câncer. Os tumores de mama, de colo de útero e de próstata continuam entre os que mais matam, mas estão estáveis.[SAIBAMAIS] "Apenas 10% da população brasileira come a porção adequada de frutas e hortaliças todos os dias. Os outros 90% substituíram a alimentação saudável por frituras, produtos industrializados e refrigerantes", afirma Marina Ito, nutricionista da Universidade de Brasília (UnB), especialista na relação entre alimentação e doenças. A psicóloga Rachel Cardoso, da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brasília, completa: "Hoje, é difícil gerenciar os múltiplos papéis. A mulher, por exemplo, não tem tanto tempo para cuidar da saúde." Além disso, existem fatores relacionados ao estresse que podem aumentar os riscos de desenvolvimento da doença. "Com o estresse, as pessoas tendem a criar hábitos negativos. Quem está muito nervoso e pressionado fuma mais, por exemplo", afirma Marcos Vinícius França, oncologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Agravante No caso das mulheres, outro agravante. A morte por tumores no sistema respiratório, que está estabilizada no caso dos homens, aumentou 16,9% , passou de 7,1% das mortes por causa de câncer para 8,3% no período analisado. "O câncer de pulmão ainda mata mais homens, mas a curva aponta para uma estabilidade no caso deles e aumento nas mulheres", observa a oncologista do Inca Clarissa Baldotto. "A mulher está fumando mais. O que ocorre hoje é reflexo de 20 anos", completa. A nutricionista Cecília Kinoshita, de 29 anos, sempre se cuidou. Mas, de dois anos para cá, o zelo com a vida aumentou ainda mais. Com apenas 27 anos, ela levou um susto. Depois de procurar quatro diferentes médicos, descobriu que tinha leucemia. "Acordei com dor na região pélvica e nas costas. No dia seguinte, sentia gosto de sangue na boca. No outro, tinha nódulo na parte de trás da cabeça. Depois, hematomas", lembra. "Fiquei assustada e fiz um périplo em consultórios até que um médico amigo meu identificou o problema", conta. Segundo Cecília, se não tivesse plano de saúde teria passado aperto. "Imagina ir em quatro médicos em uma semana na rede pública?", indaga. Hoje, Cecília toma mais cuidado com o estilo de vida e não descuida dos exames. E eu com isso? Estudos da Organização Mundial da Saúde apontam que 30% das mortes por tumores malignos poderiam ser evitadas com medidas simples, como a adoção de uma dieta pouco calórica e a prática diária de atividades físicas. No Brasil, a incidência de tumores de esôfago, por exemplo, pode despencar 60% se a população seguir um modo de vida mais saudável. As projeções, porém, indicam que o número de brasileiros obesos deve aumentar em 20% até 2015 - o que aponta para o sentido oposto da prevenção. Os alertas fazem parte do relatório Alimentos, nutrição, atividade física e a prevenção do câncer: uma perspectiva global, divulgado em fevereiro pelo Fundo Mundial de Pesquisa sobre Câncer. Números Os cânceres que mais cresceram em uma década Homens 1996 2006 Cólon e Reto 5,3% 6,5% Fígado 4,3% 5% Vesícula biliar 1% 1,6% Laringe 2,7% 3,3% Cavidade oral 3,4% 4,2% Encéfalo 4% 5% Mulheres 1996 2006 Traqueia, brônquios e pulmão 7,1% 8,3% Cólon e reto 6,7% 9,2% Estômago 5,9% 6,1% Vesícula Biliar 3,4% 3,8% Pâncreas 3,1% 3,9% Encéfalo 2,9% 4,4% Cavidade oral 0,7% 1,2% Palavra de especialista "Se o leitor achou preocupantes as taxas de mortalidade, vale destacar que o futuro não é promissor. As mortes por câncer tendem a crescer à medida que a população envelhecer. É o mesmo fenômeno que ocorre com as doenças cardíacas. Quanto mais a população envelhece, maior a mortalidade dessas doenças. Assim como aumentam as mortes, cresce a cura. Hoje em dia, câncer é doença que mais tem desenvolvimento científico. A oncologia superou a cardiologia há dois anos. Com isso, 10% das condutas de tratamento são modificadas a cada ano. Essa seria, inclusive, uma das explicações para o aumento das incidências e da própria mortalidade. Não faz muito tempo, o câncer era uma sentença de morte e as pessoas nem procuravam o médico por medo. Hoje, a notificação é muito mais fiel à realidade". # Marcos Vinícius França %u2013 oncologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB) Memória Problema que vem se arrastando O atendimento a pacientes de câncer na capital do país é deficitário e foi tema, nos últimos dois anos, de inúmeras matérias nas páginas do Correio Braziliense. A primeira denúncia foi em 2007, quando o jornal publicou a polêmica dos equipamentos de última geração usados no tratamento de câncer e que estão, até hoje, inoperantes no Hospital Universitário de Brasília (HUB). O Tribunal de Contas da União e o Ministério Publico fizeram uma intervenção no processo e conseguiram a retomada das obras do Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), que haviam sido suspensas em janeiro de 2006 por problemas com a empreiteira responsável pelo prédio. Na ocasião, já fazia mais de um ano que os equipamentos estavam armazenados. A construção só foi retomada quase dois anos depois que as máquinas de tratamento de câncer permaneceram guardadas em um bunker climatizado, ao lado da obra abandonada. De acordo com as assessoria de imprensa do HUB, as obras foram finalizadas mas falta o aval da Comissão Nacional de Energia Nuclear e da Vigilância Sanitária para colocar o Cacon em funcionamento. Já a Secretaria de Saúde informa que é necessário que o HUB atenda os pacientes da rede pública para que seja expandido, por meio de obras, o centro de tratamento do Hospital de Base. (EK) Eu acho... %u201CO câncer é uma doença danada. Minha mãe está mal por causa de um câncer no pulmão e eu luto para que ela tenha o melhor atendimento e sobreviva. O problema é que a rede de saúde está muito sobrecarregada e a gente fica revoltado com tudo.%u201D # Paulo Evangelista da Rocha, 40 anos, motorista, filho de paciente com câncer no pulmão