Nos últimos cinco dias, o correiobraziliense.com.br registrou três casos de acidentes de trabalho em canteiros de obras do Distrito Federal. Em um deles, o operário estava descalço no chão molhado, levou um choque, e morreu a caminho do hospital. Solicitações de socorro por esse motivo têm sido cada vez mais comuns.
De janeiro a maio deste ano, 493 trabalhadores se feriram com gravidade. O dado é do Centro de Referência de Saúde do Trabalhador (Cerest) da Secretaria de Saúde. O número se refere apenas aos casos registrados na Diretoria de Saúde do Trabalhador e aos atendimentos prestados em hospitais públicos. Além disso, os acidentes referidos são aqueles em que o trabalhador necessitou de mais de 30 dias de afastamento, e também a óbitos.
Maio foi o mês em que a Cerest registrou a maior quantidade de casos. Somente neste mês, foram 131 o que corresponde a 26,57% do total. Segundo a responsável pela questão de acidentes de trabalho da Cerest, Jaqueline Linhares, a prevenção depende de todos os envolvidos. "A empresa tem que investir em condições de segurança para que o trabalhador possa ter tranquilidade para trabalhar". Ela atribui o aumento a dois fatores. "A indústria de construção civil continua aquecida e, às vezes, talvez por conta da crise econômica, a condições de trabalho não focam a segurança". Segundo Jaqueline, entre os acidentes de 25% a 40% são relacionados à construção civil.
Em 2008, foram registrados 1.853 acidentes graves, 1.397 com homens e 456 com mulheres. Além disso, 94 pessoas morreram - 88 do sexo masculino e 6, feminino.
Fiscalização
O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Distrito Federal (Crea-DF) é o órgão responsável pela aprovação dos projetos de qualquer construção civil. De acordo com o presidente, Francisco Machado, todos os projetos visam, em primeiro lugar proteger o trabalhador.
De janeiro a maio deste ano, foram fiscalizadas cerca de três mil obras, dessas duas mil foram notificadas pelo Conselho. Dessas, aproximadamente 1,5 mil foram multadas por falta de documentações obrigatórias. O restante das irregularidades dizem respeito à ausência de formação adequada dos profissionais envolvidos na construção.
O Crea, segundo o diretor, gera cerca de 500 notificações por mês. Além de verificar questões relativas à segurança, o órgão averigua se há registro da obra no Crea, bem como se os projetos foram aprovados.
O engenheiro explica que o Crea não tem o poder de embargar ou interditar obras, o que cabe ao Ministério do Trabalho. O órgão, no entanto, quando nota alguma irregularidade, notifica a empresa responsável. "Normalmente, a nossa ação não é preventiva, mas posterior. Quando há algum acidente, fiscalizamos a obra para tentar identificar o que faltava".
Segurança em obras
Todo engenheiro responsável por alguma obra deve apresentar um projeto relativo à segurança no local. É o chamado Programa de Controle de Medidas de Prevenção de Acidente de Trabalho (Pcmat). De acordo com Francisco Machado, para uma obra se tornar segura é necessário um programa de prevenção, que deve ser encaminhado ao Conselho e ao Ministério do Trabalho. "Falta de segurança, infelizmente, é comum. A prevenção é uma questão de conscientização, mas não só no Brasil, pouco se faz para prevenir".
O diretor do Crea explica, ainda, que primeiramente os equipamentos de segurança devem priorizar o coletivo e depois cada operário. "Isso está na lei". A respeito das causas de acidentes em construções, Machado afirma que elas podem estar relacionadas tanto ao despreparo do ambiente como do trabalhador. "Pode ser que o funcionário não tenha sido treinado adequadamente e, por isso, desconhece os riscos. Mas pode ser também que o local não apresente condições seguras de trabalho, por ausência de programa".
Critérios da Cerest para diagnosticar acidentes graves:
- Aceleração do parto ou aborto
- Fraturas, amputações, luxações ou queimaduras graves
- Qualquer outra lesão levando a hipotermia, doença induzida pelo calor ou inconsciência; requerendo ressucitação; ou requerendo hospitalização por mais de 24 horas
- Doenças agudas que requeiram tratamento médico em que exista razão para acreditar que
resulte de exposição ao agente biológico, suas toxinas ou material infectado.
- Acomete trabalhadores com menos de 18 anos de idade na data de sua ocorrência.
- Todos trabalhadores identificados menores de 18 anos.
Confira os casos mais graves registrados pelo correiobrazileinse.com.br este ano:
20/6
Um operário morreu no sábado, dia 20 de junho, após levar um choque quando trabalhava no Condomínio Village Alvorada, no Jardim Botânico. José Nilton Dias de Oliveira, de 27 anos, não resistiu à corrente elétrica. Fidalino de Souza Brito, 54, foi levado ao Hospital Regional do Paranoá. Eles usavam uma maquita quando foram eletrocutados. No momento do acidente, estavam descalços em um piso molhado.
19/6
Na manhã da sexta-feira, 19 de junho, José Macelino Barros, 36 anos, sofreu um grave acidente de trabalho em uma obra no hotel Manhattan Plaza (Setor Hoteleiro Norte). Ele teve o braço esquerdo decepado logo abaixo do cotovelo. O homem era contratado da Pimar, Pirâmide Engenharia e Comércio. O acidente aconteceu quando José subia um balde de massa para o alto do prédio pelo guindaste. O braço ficou preso no equipamento. Ele foi atendido no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), mas não houve possibilidade de reimplante.
9/5
Um acidente chocou os moradores da 115 Norte na tarde do sábado, dia 9 de maio. Um ajudante de pedreiro, identificado pela polícia como Glaidnilson Rodrigues dos Santos, 26 anos, retirava entulhos do fosso de um elevador de serviço, no Bloco E da quadra, quando foi atingido pelo contrapeso do elevador social, que permanecia funcionando ao lado. A vítima morreu na hora, após ter a cabeça prensada entre o aparato do elevador e uma viga de concreto. Os bombeiros disseram não ter identificado no local a presença de capacetes, luvas, nem de nenhum equipamento de segurança
7/5
Um operário caiu do quinto andar de uma obra na Quadra 7 do Setor de Administração Federal Sul, o acidente ocorreu na tarde da quinta-feira, 7 de maio. Segundo informações do Corpo de Bombeiros Vandir de Araújo, 57 anos, caiu de uma altura de aproximadamente 15 metros e foi levado para o Hospital de Base do Distrito Federal com traumatismo no crânio e na face e com fratura na clavícula, mas estava consciente apesar de confuso.
30/3
Um homem caiu de um andaime na QI 15 do Lago Sul por volta de 15h desta segunda-feira (30/03). Wesley Luiz Damaceno foi levado pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) com traumatismo craniano grave. Segundo informações do hospital ele respira com ajuda de aparelhos.
4/2
Em Ceilândia, Marcelo Pereira Brito, de 28 anos, estava soldando a cobertura de uma quadra de esportes quando tomou um choque e caiu. Morreu instantes depois. No Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), Ricardo Xavier de Oliveira, 22, não resistiu aos ferimentos causados pelas engrenagens de uma máquina de misturar cimento.